sábado, 24 de fevereiro de 2024


 

DIAS PERFEITOS

 

Hirayama (vivido com excelência por Koji Yakusho) é um homem comum, trabalha limpando sanitários em Tokyo. Sua rotina é simples e repetitiva.... Acorda no pequeno espaço em que reside, onde o banheiro é quase extensão da cozinha, o quarto, um pequeno espaço onde ele divide sua cama com livros, fitas cassetes e dvds... Sim, Hirayama ouve fitas cassetes no carro, cujo repertório é um primor... Amante da fotografia, usa equipamento simples e analógico e registra pequenos detalhes de seu dia... céu, árvores, folhas... o que lhe chama atenção... Seu trabalho nos banheiros públicos é de um primor pouco visto... O cuidado e a delicadeza com que ele mexe com pias, vasos sanitários entre outros equipamentos remete a tratamento dispensado a pequenas pérolas ou objetos por quem nutrimos grande apreço... É um homem feliz! Sua rotina é repetida à exaustão, suas idas a mercearia/bar onde toma café é uma espécie de peça teatral onde o texto único e fiel é repetido a cada passada diária, a cada sentada e a cada gole.... É um filme extremamente carregado de silêncios, onde quase não ouvimos a voz de seu protagonista... suas posturas, seus gestos e suas expressões nos falam mais que qualquer palavra por ele proferida. Neste DIAS PERFEITOS, Wim Wenders atinge um ápice de delicadeza e apreço pelas coisas pequenas, miúdas, fragmentos do dia a dia que talvez na agonia e volatilidade que vivemos não nos damos conta... Amante da leitura, Hirayama cumpre um ritual de leitura diário, cujos livros são adquiridos num sebo a 1 dólar.... Nada se sabe da vida deste homem, nada de excepcional acontece nos seus 123 minutos além da aula de contemplação e de calma, muita calma no conduzir os dias...  Wenders é mestre na narrativa contemplativa, e particularmente neste, onde munido de um grande ator, uma premissa que beira o vulgar e assumidamente desprezível, os banheiros públicos, construiu uma narrativa (a princípio seria um documentário) de raro valor.... Com um trabalho fantástico de fotografia, onde a grande sacada foi a captação dessa rotina que se repete, sob vários ângulos, luz e enquadramento, o filme é uma pequena pérola, cuja embalagem, a trilha sonora é mais um detalhe de apurada escolha e valor singular... Falar de fita cassete em plena era do Spotify soa ultrapassado, mas aqui ganha contornos saudosistas e poéticos... Os registros fotográficos que Hirayama coleciona e se dedica a captar é outro grande achado... Sua retrospectiva diária é de uma riqueza de imagens em meio a uma trilha lenta e edificante pouco vista... O filme é Koji Yakusho, o ator tem 100% de presença em tela, não atoa foi premiado em Cannes como melhor ator, prêmio mais que justo... A cena final é de um lirismo sem fim... Isso sem falar na trilha que o embala ... Um final de luxo, para um filma tão luxuoso quanto... Esnobado nas premiações, talvez pela distribuição, DIAS entra em cartaz agora timidamente e praticamente em cinemas de arte... Vale uma conferida atenta. É um presente as almas sensíveis, de raro valor!!!

Em cartaz nos cinemas a partir de 22 de fevereiro

Ficha Técnica:

Título: DIAS PERFEITOS

Direção: Wim Wenders

Roteiro: Wim Wenders e Takuma Takasaki

Elenco: Kōji Yakusho, Tokio Emoto

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