quarta-feira, 30 de novembro de 2022


 

NOITE INFELIZ

VIOLENT NIGHT virou NOITE INFELIZ, que aliás tem tudo a ver com o “noite feliz” do natal, afinal a ação se passa em apenas uma noite, a véspera do natal. Com direção de Tommy Wirkola e contando coma carismática presença do David Harbour, na verdade a melhor coisa do filme, temos ai uma mistura de Esqueceram de mim com Duro de matar e uma pitada das tradicionais comédias natalinas, que, vamos combinar, é mais do mesmo e ninguém aguenta mais. Bem, a ação se passa na véspera do natal onde um Papai Noel beberrão, desencantado está a entregar os presentes, enquanto isso um condomínio de luxo é invadido e uma família tomada de assalto e feita refém por bandidos fortemente armados... Nessa hora o tradicional drama familiar da noite de natal se mistura ao sequestro e a chegada do Papai Noel que munido de um machado vai botar ordem na casa, em meio a lavagem da roupa suja.  Saindo do lugar comum e batido dos filmes natalinos, NOITE INFELIZ não deixa de ser um achado, ainda que com seus erros e acertos, e é um bom entretenimento, com pitadas ácidas de crítica social, drama meloso do dilema de Papai Noel (existe ou não?) e muita, muita porrada, justamente aí residindo seu diferencial. Há momentos de muito humor com algumas piadas acima da média que se equilibram com outras bem óbvias (mas que a média dos espectadores adora e nem percebe que estão ali a exaustão), a menininha fofa, versão feminina do Esqueceram de Mim e o Papai Noel que rouba a cena, numa atuação acima da média. Não esperem deste, mais um filme fofinho do natal. Não é... Muita porrada, muito sangue e explosões em meio a piadas e releituras outras de comédias, cujas cenas já cansamos de ver. É uma opção diferente para essa melancólica época do ano, aliás o filme sem nenhuma pretensão, entrega o que promete, sem maiores problemas. Um elenco mediano, diálogos equilibrados, lutas e confrontos bem coreografados... Uma noite de natal regada a muito sangue e porrada com final feliz e lição de moral fofa e edificante.

Ficha Técnica:

Título: NOITE INFELIZ

Direção: Tommy Wirkola

Roteiro: Pat Casey e Josh Miller

Elenco: David Harbour, John Leguizamo, Berverly D`Angelo entre outros

Em exibição nos cinemas a partir de 1 de dezembro.

 

 

 

segunda-feira, 21 de novembro de 2022


 

ATÉ OS OSSOS

 

A sensibilidade do Luca Guadagnino na direção já nos ficou clara em Me Chama pelo Seu Nome, e fica ainda mais evidenciada nesse ATE OS OSSOS, onde consegue a proeza de construir uma narrativa que é em síntese uma história de amor e uma busca por um lugar no mundo, um exercício de aceitação onde nada mais nada menos o canibalismo é o elemento crucial... Baseado no livro homônimo da Camille DeAngelis, que também assina o roteiro  com David Kajganich, nos conta a história de Maren (a ótima Taylor Russell) que é abandonada pelo pai aos 18 anos. Sozinha no mundo e em crise por conta de sua condição e choque de aceitação, sai em busca da mãe... Nessa imersão (um road-movie dos melhores) em vários lugares esbarra em Lee que, apesar de frio e desligado, uma espécie de bad boy da hora, padece do mesmo mal... Ficamos aqui para evitar spoilers... Contando mais uma vez com o Timothée Chalamet (em mais uma exemplar atuação) e Mark Rylance, um coadjuvante de luxo que faz a temperatura do filme ir as alturas a cada aparição, num misto de expectativa, surpresas e deleite da fluida e perspicaz atuação, Guadagnino nos brinda com um conto de fadas, onde o canibalismo é tratado apenas como detalhe... Sua força maior e, de fato, grande achado do filme, é  a busca por uma identidade (Maren) e a descoberta do outro(Lee) em meio as adversidades. Há aqui a consciência da real condição e a impossibilidade de mudá-la... Conviver com ela ? Alimentá-la? Esqueça qualquer possibilidade do viés de terror. Ainda que com cenas fortes e explicitas (poucas) o mérito aqui é mostrá-las apenas sob outra perspectiva, através de insinuações (sons, ruídos, respirações. vozes). O filme mostra a que veio com uma explicita cena inicial e daí por diante segue num crescendo auxiliado pela bela e inspirada trilha sonora que se apodera de sons diversos, barulhos insignificantes, e toda espécie de possibilidade sonora que nos remete as imagens não vistas, soberbamente insinuadas. As atuações dos atores é um espetáculo a parte. A química entre o Chalamett e a Russel é uma beleza, acostumados a vê-lo como bom garoto, asséptico e comportado, vão se chocar com seu estilo bad boy, sujo, ferido, machucado... carente e num crescente de vulnerabilidade de magnifica construção, capazes de construir com tamanha firmeza apenas os grandes atores. A cada aparição do Rylance a película alcança patamares mais altos de excelência... Seja nos mosquitos ao seu redor ou na baba certeira que lhe escorre de tanta comoção e sentimento... Um achado. É um filme impactante, questionador sem maior aprofundamento que beire o óbvio... O canibalismo aqui não é medido, analisado ou até mesmo julgado, ele apenas é a condição. Uma condição de fato, explicitamente presente onde a consciência de sua existência é a mola motriz da busca por uma saída... Será que de fato há alguma? Com maestria e pulso forte, a direção consegue nos prender e nos surpreender numa narrativa sem saídas mirabolantes, inusitadas mudanças ou até mesmo cenas de horror gratuita... Tudo que ali está faz parte de um contexto que se explica e se potencializa a cada minuto e nos toma por inteiro, nos arrebatando no torpor que nos faz sofrer com seus protagonistas... Premiado em Veneza, ATÉ OS OSSOS ainda se dá ao luxo de nos oferecer uma bela e inspiradora fotografia, certamente há de incomodar alguns e radicalmente não agradar  tantos outros... O que não é pouco. A reflexão, no entanto, que ele nos provoca e nos inquieta é seu mérito maior... Um dos mais instigantes filmes, senão único, deste ano. Atentem para a canção final, a cereja de um bolo que certamente lhe será inesquecível.

Ficha Técnica:

Título: ATÉ OS OSSOS

Direção:  Luca Guadagnino

Roteiro: Camille DeAngelis e David Kajganich

Elenco: Timothee Chalamet, Taylor Russell, Michael Stuhlbarg, André Holland, Chloë Sevigny, David Gordon Green, Jessica Harper, Jake Horowitz e Mark Rylance

Previsão de estreia nos cinemas : 01.12.2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 11 de novembro de 2022


 

ARMAGEDDON TIME

Parece que mais do que nunca as memórias afetivas infantis estão em alta. Há muito que uma leva de diretores andam nessa linha de produção, que o diga Spielberg que está prestes a nos brindar com o seu... Neste caso especifico de Armageddon Time, dirigido e roteirizado por James Gray,  com o brasileiro Rodrigo Teixeira na produção que se arrastou desde 2019 e encontrou vários entraves por conta da pandemia, mudança de elenco entre outras questões. Com elenco estrelar, teve Robert de Niro substituído por Anthony Hopkins, que neste caso não comprometeu tanto, ao contrário, a química do garoto com ele é um ponto alto do filme. A história se passa na década de oitenta em meio a eleição presidencial, onde o país dividido entre Carter e Reagan é uma espécie de pano de fundo para história dos garotos, um branco e outro negro, Johnny, num carismático Jaylin Webb ( problematizado e praticamente excluído na escola) sob a visão do garoto branco, Paul, soberbamente vivido pelo  Banks Repets , que em sua dobradinha com o Hopkins eleva e muito a carga de amor e afeto enquanto estão em cena. Um é encantado pela NASA, o outro vive a sonhar em ser artista plástico...Com um elenco estrelar, a história se concentra nas aventuras do garoto na escola e no convívio familiar, onde não raro a vida oscila entre sopapos e carinhos... Com uma bela e nostálgica fotografia em sépia , que nos remete as memórias, a ação para alguns pode se passar lentamente, no entanto segue o ritmo dos garotos. Com uma visão inocente deles,  convém aqui lembrar, um negro e um judeu, a narrativa perpassa sem maior aprofundamento por antissemitismo, desigualdade social e racismo, temos espinhosos para uma abordagem num universo basicamente infantil e visto, por um olhar que não ultrapassa um metro do chão. A mensagem, no entanto, é passada pelo autor, em meio a sua sutilidade, envia seu recado. É um filme contemplativo, onde nada de excepcional que mude ou cause surpresa seja ápice ou mote maior,. Ali o contemplativo mostra as questões ainda que de maneira sutil, sem qualquer aprofundamento para que as reflexões brotem nas mentes dos mais sensíveis e antenados com os dilemas  da década de oitenta que, infelizmente, nunca foram tão atuais... Conforme citação bíblica, Armageddon Time é o lugar onde acontecerá a batalha final entre as forças do bem e do mal... neste caso com poética afetuosidade.

Ficha Técnica

Título: Armageddon Time

Direção e Roteiro: James Gray

Elenco> Anthony Hopkins, Anne Hathaway, Banks Repeta, entre outros

Em cartaz nos cinemas