domingo, 6 de outubro de 2019



CORINGA

Arthur vive numa cidade infestada de ratos, utiliza um transporte público caótico, sujo e sem manutenção, vive num apartamento insalubre na companhia de uma mãe doente e trabalha como palhaço sendo alvo de gozações e maus tratos... Seu sonho: Ser comediante e ter seu próprio stand-up!
Poderíamos numa visão simplista, resumir ao parágrafo acima o universo deste controverso, admirado e superestimado vilão das HQ, o CORINGA, nesta que é, senão a versão definitiva, mas uma das melhores e mais aclamadas versões de um vilão das histórias em quadrinhos...
Falar deste filmaço, dirigido pelo competente Todd Philips daria uma tese... O universo por ele abordado, a construção do cuidadoso e eficiente roteiro passeia por problemas crônicos de uma sociedade podre e consumista que caminha rumo ao poço que não tem fim, e isso, dentro da cronologia do filme na década de 80, é um alerta para como este contexto lá atrás já nos era atual.
CORINGA  está  literalmente apoiado num tripé que lhe confere todo o mérito além de uma excelente direção: um roteiro primoroso, uma sonoplastia que meio que é um personagem e uma soberba atuação do Joaquim Phoenix, esse grande ator várias vezes indicado ao Oscar e que agora, para ser óbvio, tem sua maior e mais elaborada chance..
A concepção do CORINGA de Phoenix não deve ser comparada, principalmente a do Ledger, Nicholson, Leto, entre outros... Sua concepção é singular, e como cada um deles guarda suas nuances e principalmente, cada um, seu trabalho de corpo, sua trajetória e seu feeling...  Cumpre aqui ressaltar no entanto, que, por se tratar de sua origem, a questão é mais ampla e mais complexa nesta versão... Sua história nos propicia uma análise do mundo cruel , desumano e desamoroso em que vivemos... Estão lá todas as questões, sejam políticas, sejam sociais sutilmente abordadas e bem exemplificadas... Impossível não se sensibilizar na cena inicial que nos dá um start do seu calvário ao mostrá-lo num ônibus coletivo (sem Spoiler)...
A narrativa é costurada por uma trilha densa, as cenas são fortes, a concepção corporal do Phoenix é impactante, seja por seu corpo diminuto, fruto de exaustivo regime que o fez perder 23 quilos, seja pela sua risada nervosa e doentia, seja por seu bailar espetacular, aliás, um bailar que norteia o filme do início ao fim num crescente que impressiona.
Os mais atentos perceberão que, ainda que se tratando da história do Coringa, ambos, ele e o Batman, seu arqui-inimigo, nascem praticamente juntos... O sopro de vida de um é o início do calvário do outro, um achado fenomenal que o Phillips nos brinda e que talvez poucos perceberão.
CORINGA já nasce um clássico, provavelmente concorrerá a uma infinidade de prêmios, cujo início se deu com o Leão de Ouro no Festival de Veneza, aliás muito bem concedido e explicado pela presidente do festival Lucrecia Martel, um marco na história das adaptações das HQ!
São muitos os motivos para se ver CORINGA, e muitos outros motivos certamente aflorarão  num olhar mais atento,  neste, que é, um filme cheio de simbolismos, mensagens e sobretudo, sinais, muitos sinais de alerta que um mundo tão caótico e desenfreadamente violento anda precisando!
Ficha Técnica:
Título: JOKER
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquim Phoenix, Robert de Niro, Frances Conroy, dentre outros
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