sexta-feira, 27 de janeiro de 2023


ALERTA MÁXIMO

 

Dirigida pelo francês Jean-Francois Richet, com elenco encabeçado pelo Gerard Butler e Mike Colter, a película ALERTA MÀXIMO tinha tudo para ser mais uma daquelas xaropadas que misturam ação e porrada com um salvador da pátria que depois de muito sofrer leva todo mundo feliz pra casa... Não é... Com uma sacada inusitada, a narrativa viaja um pouquinho no passado e segue a cartilha daqueles, já ultrapassados, filmes de ação da década de 90 com uma pitada de criatividade e inovação... Piloto inicia voo em estado de tensão levando junto um prisioneiro, acusado de assassinato escoltado pelo FBI, até ai, essa é a preocupação e o temor da tripulação, que em meio a tensão ruma ao destino. No meio do percurso uma tempestade obriga o piloto a fazer um pouso forçado, aí começa o calvário...  Não vale aqui seguir em frente, fiquemos com essa premissa... Com atuações convincentes, temos aqui um Gerard Butler fazendo bem seu dever de casa e por questões do passado, um piloto apesar de tudo, com humor regular e super comprometido com sua tripulação e passageiros e um eterno semblante de atormentado que sofre com os imprevistos, toma muita porrada sem deixar um momento sequer de pensar no coletivo. Filmes de sequestros e catástrofes no ar já foram vistas a exaustão, ALERTA no entanto se destaca e está um pouco fora da curva porque além de ter um pouco de conteúdo dramático e abordar ainda que sutilmente um pouco da realidade de seu protagonista e seus fantasmas. As cenas de ação são bem coreografadas e o próprio roteiro não deixa de surpreender, uma vez que todo um clima é criado inicialmente em função do prisioneiro levado no avião. A química da dupla central logo é estabelecida o que eleva o filme a um patamar de filme honesto e cumpridor de sua premissa, apesar de ainda contar com elementos datados, mas aqui alçados a novidade. Cumprindo com sua promessa e proposta, ALERTA é um entretenimento de qualidade, sem falar que rever Butler é sempre bom. Ator de recursos dramáticos regulares aqui não decepciona, está muito a vontade e batendo um bolão com o Colter.

Ficha Técnica:

Título: ALERTA MÀXIMO

Diretor: Jean-Francois Richet

Roteiro: Charles Cumming, J.P. Davis

Elenco: Gerard Butler, Mike Colter, Daniella Pineda, entre outros

Em cartaz nos cinemas

 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023


 

M3GAN

 

Não espere de M3GAN um filme de terror, não aqueles da famosa caixinha que estamos acostumados a ver. Ele é muito mais que isso, ou dizendo melhor, ele consegue ser singular. A trajetória do filme ganhou impulso e conseguiu viralizar nas redes após o famoso trailer onde a boneca, a grande e indiscutível estrela do filme, sucumbe aos apelas do Tik Tok e emula a indefectível dancinha... A partir daí a produção ganhou outros ares. Mudanças foram rapidamente providenciadas e o filme se transformou num fenômeno mesmo antes de sua estreia. Muito barulho por nada? Não diria, afinal a premissa é válida e o filme é antes de tudo uma espécie de tratado, reflexão acerca das consequências do desenfreado avanço da tecnologia e suas consequências, principalmente nas relações pessoais, e ai inclui com pertinência as questões ligadas as crianças e seus pais. No filme Cady perde os pais num acidente e vai ficar sob a tutela da tia Gemma ( a ótima Allison Williams - CORRA), que pra variar é uma workaholic, organizada e detalhista funcionaria de uma grande empresa fabricante de brinquedos eletrônicos, cuja missão naquele momento é refazer um projeto copiado pelo concorrente e comercializado a exaustão a preço abaixo dos praticados pela empresa. É preciso reapresentar o projeto viabilizando-o para competição... Gemma já vinha desenvolvendo de maneira clandestina o projeto da boneca (M3GAN - “Model 3 Generative Android” )... Sem o mínimo talento e tempo para ser tia, muito menos mãe, a relação entre as duas não anda nada bem... M3GAN então é finalizada e entregue a Cady, como uma espécie de substituição a atenção negada pela tia, expediente que vemos constantemente sendo utilizado pelos pais com suas crianças quando lançam mão do celular, o tablete ou similar, livrando-se assim da missão de estar e interagir com eles...  O que vemos a partir daí é uma crítica velada a tecnologia avançada e descontrolada, algo meio Frankstein, a criatura extrapola e assusta o criador. Daí em diante a narrativa decola e alicerçada por um roteiro inteligente e bem construído por James Wan (Invocação do Mal) e Akela Cooper  (American Horror Show) ganha ares de comédia quando nos brinda com situações que entre o bizzaro (comedido) e o cômico não deixa de nos fazer refletir. Ainda que tratando de dois temas pesados, o luto e a solidão, M3GAN ganha equilibrada autonomia e faz valer de verdade as funções dadas pela tia da garota, ou seja estar com ela, entretê-la... M3GAN leva a missão a sério demais...  Ficamos aqui para evitar spoiler... Brinquedos assassinos não são nenhuma novidade, já tivemos alguns e volta e meia seus remake e suas releituras são apresentadas, vide Chucky e Annabelle, perto deles M3GAN está mais pra anjinho barroco do que para brinquedo assassino... Aí reside a sabedoria do diretor Gerard Johnstone, aliviou a mão no sangue e conseguiu classificação indicativa para 13 anos, o que aumenta de forma expressiva seu público alvo...

Em cartaz nos cinemas a partir de 19 de janeiro.

Ficha Técnica:

Título: M3GAN

Direção: Gerard  Johnstone

Roteiro: Akela Cooper e James Wan

Elenco: Allison Williams, Violet McGraw, Arlo Green, entre outros

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023


 

BABILÔNIA

A película é de fato uma babilônia, um filme idealizado e projetado para ser grande, fruto de um grande sonho e grande expectativa, um marco na elogiada trajetória de seu diretor Damien Chazelle, que já nos brindou com o belo La,La Land- Cantando Estações e Whiplash – Em Busca da Perfeição, dois filmes que levam na sua nomenclatura títulos fortes com sub títulos que lhe evidenciam sua mensagem e conteúdo... Um achado. Indo na contramão, o título de BABILÔNIA, econômico no título,  já é por si só grande e nos diz muito, sua narrativa está lá para cumprir com louvor a sua função. Tudo em Babilônia é grande, como seu título nos faz supor, desde o grande e inusitado detalhe do elefante na festa, a atuação incorrigível de seus atores... Todos estão bem e cumprem, acima do esperado, suas funções em cena. Chazelle presta uma grande homenagem ao cinema, fazendo uma linha “morde, assopra”, não necessariamente nesta ordem, e com essa premissa não faz uma homenagem chapa branca, comportada e esperada... Atira tudo no ventilador, com propriedade.

Partindo da transição do cinema mudo para a chegada do som nos anos 20 do século passado ele nos traça com detalhes a transição sofrida e o impacto que todas as mudanças trazem ao longo de mudanças e, por vezes pseudo-evoluções, até os dias de hoje, afinal o mundo passa por transformações, mudanças radicais e sempre há o choque, a ruptura... Estão lá os grandes ícones e a crueldade de um sistema que os eleva ao olimpo e os atiram a lama numa espécie de obscurantismo, a derrocada de uma carreira que tem prazo de validade. Aqui nada escapa ao sensor super atento.  Estão lá as festas regadas a sexo e quilos de cocaína. A música e o glamour de uma trupe sem limites... Em atuações singulares estão Brad Pitt, Margot Robbie, que se entrega de corpo e alma a um papel difícil, denso e revelador e o mexicano Diego Calva... O todo poderoso (dá as cartas de um jogo por vezes cruel), a mulher (tentando se impor ) e o latino (em busca de um sonho distante e árduo), um tripé determinante numa época aura do cinema onde o vale tudo imperava. Como antes falado, aqui tudo é grandioso, os cenários, a sonoplastia e, principalmente as pretensões... Com mais de três horas de duração BABILÔNIA é um daqueles filmes fora da caixa que divide opiniões, o clássico filme que o tempo, só o tempo lhe dará o devido valor. Correndo por fora do cinema óbvio e asséptico, Chazelle não poupa munição, mostrando uma Hollywood, como talvez Hollywood não goste de se vê. Suas cenas finais são arrebatadoras, uma espécie de compendio das memórias de um diretor inquieto, instigante, perfeccionista e observador, uma mensagem de amor a sua arte tão avassaladora e grandiosa. Tudo isso fez dele o cineasta mais jovem a ganhar um Oscar, fato raro de grande e merecido valor, sinal como observado, das mudanças que passa o cinema em suas transições fruto de uma evolução tecnológica que desencadeia a óbvia e consequente mudança na postura e atuação de atores e técnicos das mais diversas áreas que fazem desta, uma das mais belas e ricas linguagens artísticas. São horas de imersão e aprendizado.

Em cartaz nesta quinta, 19 de janeiro nos cinemas.

Ficha Técnica:

Título : BABILÔNIA

Direção e roteiro :  Damien Chazelle

Elenco: Brad Pitt, Margot Robbie, Diego Calva