segunda-feira, 31 de julho de 2017


PLANETA DOS MACACOS – A GUERRA

Algumas cenas da 3ª parte da trilogia iniciada em 2011 são de um impacto assustador... Num cenário inóspito macacos aprisionados ostentam frases pejorativas grafadas em capacetes e, como em genocídios outros, executam trabalho forçado sem água e comida...
O coronel (Woody Harrelson) almeja o fim dos macacos enquanto o líder dos símios,  César apenas quer espaço para sobreviver em paz... Partindo deste principio, o filme vai estabelecer um confronto feroz e bebe literalmente na fonte do original de 1968. Estão lá várias referencias, há inclusive uma personagem (a garotinha adotada pelos macacos) batizada de Nova, em uma clara alusão a personagem clássica do original, de carisma singular, mesmo sob o peso da máscara, interpretada pela Linda Harrison. A selvageria e a rivalidade sem trégua ditam o tom desta que é a parte mais próxima do modelo original. Tecnicamente superior as anteriores, a evolução dos efeitos com a  técnica de captura de movimentos faciais e corporais são de assombrar. A atuação do Andy Serkis (César) continua impecável e ganhou contornos mais emotivos com a evolução da técnica. Em meio ao clima tenso, sabiamente foi inserido no contexto o macaco Bad (com interpretação elogiável de Steve  Zahn) um tipo medroso e atrapalhado que dá um pouco de leveza a narrativa e assim como César conviveu com humanos num circo, antes do vírus o afetar. A ação de praticamente 90% da narrativa se dá num cenário praticamente monocromático, onde a paleta de cores explicita a situação caótica e soturna, sabiamente usada e diluída com o passar do tempo, chegando a ápice, ao final, de forma edificante e redentora, cujos detalhes  não me cabe comentar.
É um filme forte e questionador em suas sutilezas e sábios detalhes. Guardo algumas restrições com relação a trilha sonora que, ao contrário de outras grandes narrativas, não funciona a contento, oscilando entre momentos de raro valor e outros sem dizer a que veio ou até mesmo de pulsar questionável. Com pulso forte e direção primorosa Matt Reeves optando pela volta ao original dá um salto na carreira ( que já nos deu Deixe-me Entrar), participando da elaboração do roteiro, firmando-se para voos mais altos e adicionando reconhecido valor a uma trilogia que gerou muita expectativa.
Ficha Técnica:
O PLANETA DOS MACACOS – GUERRA
Data de lançamento 3 de agosto de 2017 (2h 20min)
Gênero: Ação
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Mark Bomback, Matt Reeves
Elenco: Aleks Paunovic, Alessandro Juliani, Amiah Miller, Andy Serkis, Chad Rook, Gabriel Chavarria, James Pizzinato, Judy Greer, Karin Konoval, Max Lloyd-Jones, Mercedes de la Zerda, Michael Adamthwaite, Sara Canning, Steve Zahn, Terry Notary, Timothy Webber, Woody Harrelson
Produção: Amanda Silver, Dylan Clark, Peter Chernin, Rick Jaffa
Fotografia: Michael Seresin
Montador: William Hoy
Trilha Sonora: Michael Giacchino
Duração: 140 min.
Ano: 2017


quarta-feira, 26 de julho de 2017



DUNKIRK




Poderíamos pensar: Ai vem mais um filme de guerra, esse argumento tão batido e tão explorado... mas não quando se trata de um Christopher Nolan. Não, o diretor da aclamada trilogia do Batman, do inovador Amnésia e de Origem jamais faria mais um filme de guerra... O que poderia ser um episodio pouco conhecido e comentado da segunda guerra em maio de 1940 é mais uma inusitada e surpreendente obra. Dividido em três núcleos: Terra, água e ar, a narrativa que tinha tudo para ser arrastada e enfadonha ganha ares de suspense e apesar de não dispor de diversificados cenários dá um show na fotografia e tem sua alma na inspirada e eletrizante trilha sonora do Hans Zimmer. As tomadas aéreas brincam o tempo inteiro com a linha do horizonte em meio a imensidão do mar...
Com a entrada de Hitler na França, forças britânicas encontram-se acuadas na cidade que dá título ao filme, a narrativa se dá justamente na solução emergencial adotada para sobreviver ao cerco e evitar a humilhante derrota...
Os minutos iniciais soam meio arrastados, no entanto a direção sábia e inovadora usa e abusa de uma trilha sonora pertinentemente inspirada, diálogos equilibrados e quase nenhuma violência explicita, ao contrario de outras narrativas, aqui pouco sangue e vísceras se vê, o foco está no contar da história centrando no drama de seus personagens. Para causar uma certa expectativa Nolan escalou o ex-One Direction Harry Styles no papel do soldado Alex... Como se precisasse... Teríamos ai uma estratégia? Vai saber!!! Bem, ao menos ele não decepciona...
Abrindo mão do conhecido excesso de efeitos especiais, o filme é um primor, tanto na atuação do atores (Kenneth Branagh, Tom Hardy(sempre bom), Cillian Murphy e Mark Rylance, todos bem, quanto nas exuberantes tomadas da imensidão do céu e mar e do magistral trabalho com milhares de figurantes! Desnecessário dizer que preenche todos os pre-requisitos básicos para um belo punhado de indicações ao Oscar, aliás, até aqui, merecido.
É um filme que nas entrelinhas nos fala de fraternidade, de perseverança e principalmente de esperança, ainda que em meio a uma expectativa absurda e um suspense crescente bem construído, obra de um jovem mestre que ainda tem muito a nos contar!

segunda-feira, 24 de julho de 2017




O FILME DE MINHA VIDA

O mais novo trabalho do talentoso Selton Mello é de um lirismo e uma beleza espetacular. Baseado no romance UM PAI DE CINEMA do chileno Antonio Skármeta (O Carteiro e o poeta e NO), a adaptação de Selton teve a liberdade de imprimir sua marca autoral, e, munido de uma equipe de múltiplos talentos, fez desta, sua grande obra... Perdoem-me os admiradores de O PALHAÇO, que ainda com todos os méritos , decididamente desce do podium e cede lugar a O FILME...
Com uma reconstituição de época primorosa e exemplar, uma fotografia estonteante (Walter Carvalho), onde a luz quente predomina basicamente em todas as cenas, fazendo uma dobradinha com o cenário e figurinos que flertam com o sépia, é a moldura perfeita aliada a bela e inspirada trilha sonora para uma história simples e cativante com espaço para declaração ao cinema, a música e a vida, com muita poesia ... Um achado!
Com um elenco afinado e cativante, a história de Tony(Johnny Massaro) e a luta para lhe dar com a ausência do pai (Vicent Cassel), os papos inspirados com o melhor amigo Paco(Selton Mello). a descoberta do amor(Luna/Bruna Linzmeyer) e as descobertas da gurizada da escola onde leciona francês... Tudo isso conduzido pelas simples, mas poéticas citações de um inspirado maquinista (Giuseppe, lhe diz algo ??) vivido por Rolando Boldrin, uma escolha certeira e generosa do diretor.
Com uma trilha incidental de beleza singular, autoria de um inspirado Plínio Profeta, e grandes sucessos americanos e franceses das décadas de 40 e 50, ai brilhando Charles Aznavour e Nina Simone(Soberba, como de costume, pontuando o amadurecimento de Tony), ainda sobra espaço para um pertinente Sergio Reis com seu hit "Coração de Papel".
Os amantes da sétima arte mais atentos se perderão na montanha de citações, homenagens, inspirações em grandes momentos do cinema... Impossível não ver ali um pouco de Cinema Paradiso... Tudo com muito cuidado, muito afeto, muita poesia e sobretudo, com um toque certeiro e autoral sem igual.

Produção esmerada e cuidadosa, esta primeira adaptação do Selton Mello é desde já um cult do cinema nacional, um apanhado de pequenas pérolas que constroem em seu harmonioso conjunto uma jóia de raro valor!