quarta-feira, 28 de maio de 2014

 
Fui ver GATA VELHA AINDA MIA, que injustamente encontra-se em cartaz numa única sala na cidade, e diga-se de passagem, uma sala cara...
Muito tem-se falado e centrado críticas na atuação da Regina Duarte, o que de fato procede, mas não dei...xa de ser injusto... É um excelente filme em todos os aspectos, e a atuação visceral de Regina, apesar de não ser detalhe, e sim a alma do filme, vem ofuscando outros aspectos, que, diga-se de passagem, são fundamentais e devem ser considerados... O filme, primeiro longa do Rafael Primot é uma bela e bem trabalhada surpresa, um gênero encarado com coragem, que, se não bem feito poderia ter sido um belo tiro no pé... Não foi, é um primor. Roteiro bem elaborado, é o tipo de texto que gostaríamos de ter em mãos para lê-lo e relê-lo degustando com paciência cada frase, cada parágrafo... É de uma crítica mordaz e uma sabedoria sem precedentes... A trilha sonora é outro achado, pontua a narrativa com competência e, sobretudo, com um poder de nos deixar em constante e absoluta expectativa sobre o que há por vir o tempo inteiro... Uma das melhores dos últimos tempos... Volto a reforçar, na vala comum que caiu o cinema nacional: favela-policia-corrupção-biografiachapabranca-comédiafácil.... ele é de uma ousadia e um frescor pouco vistos... Não queiram saber nada da história, entreguem-se a surpresa e deixem-se levar pelo clima criado, posso garantir: vai ser a viagem!
Em tempo: De fato, a Regina Duarte esta soberba, longe do glamour da Globo, e frise-se, nunca esteve tão sábia e talentosa!!!!
 
 
 

 
 
 
Depois de uma série de comentários e polêmicas ouvidas ao longo das duas últimas semanas, fui ver PRAIA DO FUTURO... Fiquei sem entende-las... Belo e sensível trabalho de Karin Ainouz, que na minha opinião, no conjunto de sua obra, só perde... para VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO... Não é o que se pode chamar de filme comum, é preciso saber ler e entender o silencio que as vezes nos fala mais do que a palavra... Direção firme e de ímpar sensibilidade, nos mostra porque o Wagner Moura é de longe o melhor da nova geração e o Jesuíta Barbosa, a promessa (justa) da hora. Como em HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO, a questão sexual é secundária, o que está em questão aqui é o medo, a culpa e as escolhas... Pontuado por uma trilha sonora cativante e melancólica e fotografia em tons de cinza e azul (emoldurando o clima frio da narrativa), Karin nos mostra, como outras recentes produções, que é possível fazer cinema de qualidade, saindo do lugar comum (favelas, miséria, sexo, corrupção e sorriso fácil, vide as comédias da hora...). Aqui o que se faz é cinema de verdade, de conteúdo, de roteiro e principalmente de uma universalização de temática que nos põe num patamar de igualdade entre as maiores produções... Não é um filme de fácil digestão, a lentidão e seu tempo que o digam... No entanto é isso que lhe confere beleza e profundidade... Em meio a tanto barulho, efeitos visuais e relações voláteis e virtuais, o filme é um achado, verdadeira pérola que nos leva a refletir e com um pouquinho de calma melhor compreender o silencio e sua mensagem maior... Desde já, entre as melhores produções nacionais deste primeiro semestre que finda... BRAVO a coragem do Wagner Moura que tão bem construiu um personagem que exala em cada gesto e olhar uma avalanche de emoções... Simples assim: Aqui menos não é somente mais, é TUDO!

 
 
OLHO NU



 A trajetória do Ney Matogrosso é uma das mais ricas, sedimentadas e iluminadas na MPB. Artista de luz própria, abridor de caminhos e inusitadamente maior nome em se tratando de performance no palco, principalmente pela longevidade, ...vitalidade e respeito consigo mesmo e seu público... Lembro-me nitidamente, de, quando criança ficava extasiado ao ver o Ney na TV... A inusitada chegada dele no cenário musical do país abriu portas para muitos outros talentos, que ainda de luz menor e até mesmo apagada lhes propiciou uma estrada pavimentada... A expectativa foi grande, e se não decepcionou do mesmo modo não me satisfez completamente... Sou chato... Um artista do porte do Ney talvez merecesse um trabalho mais minucioso, consistente e principalmente mais realista e inusitado, afinal teria que fazer jus a sua extensa grade curricular musical... Ainda que o astro no palco, como sabemos, não passa de um personagem, nada guardando do Ney cidadão do dia a dia (Testemunhei isso quando o conheci pessoalmente). A película é bem feita, ainda que o material utilizado guardadas as técnica utilizadas à época(da década de 70 até hoje) deixem a desejar tecnicamente, encantam e nos fazem viajar no tempo. Joel Pizzini, o diretor, optou por não estabelecer uma ordem cronológica, aliás como quase todo documentarista vem fazendo e fez uma narrativa na primeira pessoa, com voz do próprio Ney. É bacana ver o florescer da carreira, o inusitado estilo próprio e escancaradamente agressivo para os padrões da época... Fazendo um mixto de imagens da época e gravações recentes, estas meio forçadamente teatrais (em se tratando de Ney, esta teatralidade beira o normal) me incomodaram um pouco... No mais estão lá algumas constatações, algumas declarações, registros de ontem desacreditados hoje, parcerias de palco deliciosamente maravilhosas e só... Não posso deixar de admitir que é meio chapa branca...Quem conhece sua história vai sentir falta de muita coisa...Como atualmente é meio moda... Vide atuais discussões a respeito das biografias não autorizadas. No mais, em se tratado de Ney seria de se esperar algo mais impactante e menos comportado, no mais é um belo registro e uma forma poética e musical de viajarmos no tempo e junto com ele(Ney) revermos conceitos, mudanças e principalmente evolução musical!

terça-feira, 13 de maio de 2014

 
A  ALMA  IMORAL


Premiado espetáculo, A Alma Imoral chega a Salvador no Teatro Jorge Amado
De volta a Salvador para mais uma temporada, o espetáculo A Alma Imoral estará em cartaz no Teatro Jorge Amado de 22 de maio a 1º... de junho. A peça é uma adaptação do livro de mesmo nome do rabino Nilton Bonder e conta com a atuação de Clarice Niskier.
A Alma Imoral desconstrói e reconstrói conceitos milenares da história da civilização: corpo e alma, certo e errado, traidor e traído, obediência e desobediência.
Para contar histórias e parábolas da tradição judaica, a atriz vale-se somente de uma cadeira preta e um grande pano preto que se transforma em oito diferentes vestes – mantos, vestidos, burcas, véus.
O espetáculo já foi apresentado em 23 cidades brasileiras, recebeu 3 indicações ao Prêmio Eletrobrás de Teatro 2006, 2 indicações ao Prêmio Shell RJ 2007, vencendo o prêmio de Melhor Atriz. Ganhou o Prêmio Caixa Cultural 2007, Prêmio Caravana Funarte de Circulação Nacional de Teatro 2007, Prêmio Qualidade Brasil SP 2008 de Melhor Atriz e foi selecionado pelo FATE 2012 para Circulação no Município do Rio de Janeiro.
Serviço:
A Alma Imoral
De 22 de maio a 1º de junho. Quinta, sexta e sábado às 20h e domingo às 1
Valor: R$60 e R$30
Classificação: 18 anos

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Gogoboys à procura de um palco

Sem espaço para apresentações em Salvador, dançarinos foram "empurrados" para saunas e eventos particulares
          
Do alto de seu 1,75m ele observa o público aos seus pés. Apesar da música alta, todos estão estáticos. Se nem o jogo frenético de luzes consegue desviar os olhares daquele corpo escultural, só lhe resta uma coisa: continuar o show.
Jean Desterro tem 24 anos. Há quatro é gogoboy. O "lance", segundo ele, é sensualizar , deixar o público à flor da pele e fazer exatamente aquilo que o Trabalho com Sexo presenciou naquela noite: hipnotizar a plateia com uma dança em que os braços não param um segundo e piruetas seguidas são executadas de forma provocante.
O público se divide entre os que assistem e os que tentam tirar uma “lasquinha” do “body dream” (corpo dos sonhos) que o gogo conseguiu esculpir após anos de musculação. “Quando passam a mão onde não deve, eu reclamo. Faço de uma forma que não fique agressivo”, diz, sem revelar onde seria esse tal lugar proibido.
Reconhecido por empresários e pelo público como um dos gogoboys mais requisitados do mercado de Salvador, Jean recusa o título e, após tantos anos de profissão, prefere usar outro termo. “Uso gogodance. Se eu disser gogodance, as pessoas associam mais a dançarino, que é o que eu sou”, afirma. A escolha, segundo Jean, é para se afastar o máximo possível de uma ideia errada que se criou da profissão: a de que os gogoboys são garotos de programa. Ele não revela quanto ganha por mês com as apresentações que acontecem quase que sempre aos finais de semana, mas garante que elas bancam seus gastos.
Ofertas para fazer programas sexuais sempre aparecem, segundo Atila Britto, gogoboy de 26 anos que foi descoberto por um olheiro no Orkut. “Um dia eu estava saindo do camarim na boate e um homem me chamou para ‘uma volta’ e me mostrou o dinheiro. Eu sorri e disse que não fazia esse tipo de trabalho”, conta ao lembrar que o mesmo homem disse que “todos fazem”. “Sabe de nada, inocente”, disse Atila ao relembrar do caso.
Jean Desterro/ Foto: Arquivo Pessoal
É com a dança que Jean paga a faculdade e, quando a coisa aperta, ele abre mão de tudo que faz para se dedicar ao ofício. Se nos palcos ele encara personagens como bombeiro e policial, na vida real, o que Jean sonha mesmo é concluir o curso e ser engenheiro. “Dançar, por enquanto, dá um retorno [financeiro] legal, mas não é para sempre”, reconhece.
Mercado em baixaMesmo para quem tem o título de “top”, dançar em Salvador está cada vez mais difícil. “O mercado mudou muito nos últimos anos. Agora é mais complicado ser contratado”, admite Atila, que já pensa em se aposentar pela pouca procura.
Carla O’hara, 25 anos, atravessou a fronteira: passou de gogogirl para empresária do ramo. Há dois comanda a O’Hara Entretenimento  que realiza despedidas de solteiro, 15 anos e formaturas. A empresária também sentiu a mudança no comportamento do consumidor. “Aqui em Salvador temos um grande problema: não existem boates para os gogoboys se apresentarem, eles fazem os shows em festas particulares”, aponta.
Sócio da The Hall, casa de shows no Jardim de Allah, Rodrigo Smith admite que ter a presença do gogoboy na lista de apresentações influencia pouco na decisão final do público de ir ou não a um evento. “O gogoboy é um dos elementos que compõe a festa. A festa é um encontro de forças que gera o entretenimento para o cliente”, avalia.
Atila Britto/ Foto: Arquivo Pessoal
Atualmente, além da The Hall, a boate Tropical – localizada no Campo Grande – e a San Sebastian, que fica no bairro do Rio Vermelho, são os únicos clubes a ofertarem o serviço. Com a falta de mercado, os dançarinos passaram a ocupar novos espaços, segundo o jornalista Rafael dos Anjos: “As saunas estão virando mais referência quando a questão é gogoboy. Elas são lugares mais reclusos, e só vai quem ver o show ou fazer pegação... ou os dois”.
Mas não é só a falta de espaço que contribui para essa quase extinção da arte de sensualizar. O preconceito também tem a sua parcela nesse processo, ainda de acordo com Rafael. “O gogoboy fazia parte da cultura das boates, mas as pessoas têm preconceito contra o trabalho deles. O que acontece no palco é um grande culto ao corpo. A mesma coisa que fazemos no cotidiano. A sociedade é hipócrita”, avalia.
Empurrados para as saunas, aniversários, despedidas de solteiros e paradas gays, os gogoboys procuram uma nova maneira de mostrar o seu trabalho e longe do preconceito. Em Salvador, eles estão à procura de novos palcos.