quinta-feira, 21 de dezembro de 2023


 

AQUAMAN


Pense em uma vertente a ser elaborada numa película para atrair a atenção do espectador (e o igualmente expectador,), em AQUAMAN você vai certamente encontrar … as piadas (datadas e forçadas), um drama familiar, um dilema entre irmãos, muita porrada, muito efeito(alguns de gosto duvidoso ), e está fornada a geleia geral cujo título Reino Perdido a gente procura e não acha … pra complicar mexe com um tema sério e pontual :aquecimento Global … A sensação que se tem é que ali se costurou uma colcha de retalhos muito mal costurada … Um roteiro amarrado às pressas para causar … Pai de família e com filho pequeno , o roteiro põe AQUAMAN num núcleo mortal  familiar( a discussão/citação da paternidade solo está lá) numa tentativa de dar-lhe um tom dramático e de conteúdo (quem não lembra de Velozes e Furiosos, que lançou mão da mesma prerrogativa )… Agora no lar é provocado às pressas para um confronto final com Arraia Negra sedento por vingança e um reencontro para aparar as arestas e selar a paz com o irmão … Seria um drama ? Claro que não, as premissas aqui são esquecidas e numa profusão de efeitos (a princípio até espetaculares, mas que se perdem ao longo da narrativa, fruto de uma clara preocupação orçamentária). As atuações não saem do normal Momoa as vezes desliza quando lhe impõem falas cujo objetivo seria divertir mas acaba por constranger… pior que não ter piada é a piada sem graça … Em meio a tudo isso aguardamos o tal reino perdido que parece de fato perdido e não o encontramos … Fechando o ciclo a produção (ainda que a toque de caixa e com os remendos visíveis aos mais atentos ) entrega um filme irregular e, sobretudo pretensioso … Triste fim sem os devidos méritos que poderia ter para uma figura emblemática e com potencial para voos, ops.  mergulhos outros maiores que certamente um
Bom roteiro lhe poderia impulsionar

Ficha Técnica:

Título: AQUAMAN

Direção: James Wan

Roteiro:David Leslie Johnson-McGoldrick,  James Wan e outros

Elenco: Jason Mamoa, Nicole Kidman, Patrick Wilson, Dolph Lundgren, Djimon Hounsou, entre outros


quarta-feira, 20 de dezembro de 2023


 

PRISCILLA

Não foi fácil para Sofia Coppola, reconhecidamente, um dos grandes talentos femininos na direção, tocar o projeto Priscilla. Película baseada no livro Elvis and Me, versão de Priscilla Presley para conturbada e abusiva relação com o ídolo. Ano passado tivemos o ELVIS do Baz Luhrmann com o Austin Butler que praticamente incorporou Elvis e encantou o mundo. Não cabe aqui comparações uma vez que cada nos mostra lados distintos de uma relação que ainda guarda seus mistérios e dúvidas.  Em PRISCILLA, Sofia nos mostra o encontro e a conturbada e abusiva relação que nos surpreende quando nos traz a luz um Elvis bastante diferente daquele que nos acostumamos a ver sob as luzes da ribalta. Quando se conheceram Priscila tinha 14 anos de idade enquanto Elvis 24. Ambos se encontravam na Alemanha e Priscila uma jovem tímida, meio que assustada e longe das amigas em virtude da mudança para Alemanha acompanhando a mãe e  o padrasto militar. O universo das mulheres solitárias, sofridas e sem voz há muito já rondava os projetos de Sofia, e Priscilla guarda suas similaridades, levando-se em conta suas devidas proporções, claro.  A narrativa é centrada completamente em Priscila, que aqui nos dá sua versão dos fatos. Após se conhecerem, Elvis na maratona de gravações de películas cinematográficas e shows, a timidez e o recatado modo de se comportar encantam o ídolo que a partir daí passa a viver uma vida dupla: As aventuras em meio aos shows e gravações regadas a affair com grandes figuras femininas da época, e uma espécie de lado B ao lado de Priscila que passa a viver com ele numa elaborada versão de contos de fadas até o casamento, frise-se aqui; Priscila se manteve virgem até o casamento, numa espécie de imposição do astro que em meio a tentativas dela sempre se recusava alertando-a que ainda não era hora, mantendo assim uma espécie de pacto velado com sua família. Priscilla tornou-se uma espécie de pássaro engaiolado que vivia a sombra do ídolo, numa mansão sob o controle de sua equipe e de seu rígido controle, a saber, que roupa usar, como se comportar, que cor do cabelo adotar entre outras determinações. Já mergulhado no universo de drogas analgésicas, a relação beira uma rotina espartana deixando margem a vários questionamentos: Seria um projeto? Numa relação tóxica, Priscilla aguentou até os vinte e sete anos quando arrumou as malas, apanhou a filha e saiu da mansão para nunca mais voltar.  Não li o romance que Sofia se baseou para de lá tirar o roteiro, portanto, a questão de adaptação passa longe de minhas percepções, Priscilla no entanto é uma narrativa melancólica, sombria, onde até a própria paleta de cores usada dialoga com a situação explicitada na tela, é de um marrom  por vezes acinzentado e escurecido, onde na maioria das vezes o rosto do Elvis encontra-se numa penumbra claramente intencional, atitude assertiva, uma vez que o protagonismo ali agora é da Priscilla. Ao contrário do Elvis  que vimos ano passado, seu lado B aqui mostrado com rara sensibilidade e cuidado pela Sofia é atormentado, algumas vezes violento e o tempo todo tentando nos passar um comportamento apaixonado, sensação que a película não chega a determinar. Um dos pedidos de Pricilla a atriz que magistralmente a representou foi que deixasse óbvio que existia amor. Talvez da parte dela em maior intensidade.

A atuação dos atores é convincente, Cailee Spaeny nos brinda com uma Priscilla sob medida e surpreende entrando desde já na galeria das grandes performances. Driblou e evitou as armadilhas do falso e caricato. Já o Jacob Elordi também fez uma boa lição de casa, afinal, depois da exuberante atuação do Butler (no Elvis), o risco das inevitáveis comparações seria uma grande armadilha, ainda que ambos estejam em abordagens completamente distintas, aqui o Elvis intimista e nos bastidores tem outra pegada. A produção é assinada pela própria Priscilla Presley, o que pode gerar uma suposta narrativa biográfica “chapa branca”, que inclusive não foi bem aceita pela única filha do casal. Lisa (falecida recentemente) que inclusive vetou a utilização das músicas do Elvis, era conta o projeto e alegou o desejo de velariza-lo, o que de fato não aconteceu, afinal tira-lo do protagonismo e inseri-lo no universo narrado por Priscilla não teria necessariamente esse viés. Ver Priscilla é um exercício, uma experiência singular onde o talento e a sensibilidade da Sofia é, mais uma vez ratificada. As tomadas iniciais, onde os objetos são mostrados, são de um lirismo exemplar. A reconstituição de época beira a perfeição, assim como o cuidado em não cair no drama exagerado é outro exemplo de que seu desejo foi mostrar os fatos, a versão de uma mulher sufocada e controlada, os bastidores de uma vida regada a glamour e exuberância, que nem sempre nos reserva um final feliz.

Sofia Coppola se firma mais uma vez como uma diretora de raro apuro técnico e detalhista aliado a uma extrema sensibilidade ao adentrar mais uma vez o universo feminino, sutilmente desconstruindo o mito Elvis Presley.  

Estreia nos cinemas em janeiro.

Ficha Técnica:

Título: Priscilla

Direção: Sofia Coppola

Roteiro Adaptado: Sofia Coppola

Elenco: Cailee Spaeny, Jacob Elordi, entre outros

quinta-feira, 23 de novembro de 2023


 

NAPOLEÃO

 

Filme mais aguardado do ano (afinal um super projeto do Ridley Scott) depois de todos os percalços causados pela greve recém terminada, estreia em meio a uma crítica especializada dividida, muita polêmica e uma torcida para essa opinião mude com o lançamento do corte para streaming onde terá 90 minutos adicionais, uma duração inviável para os estúdios e distribuidores nas salas de cinema.  Com roteiro de David Scarpa,  as estrelas de luxo Joaquim Phoenix e Vanessa Kirby encabeçando o elenco, cenários deslumbrantes e cenas de batalhas espetaculares NAPOLEÂO ainda nos deixa muito a desejar... É sabido do desejo de Stanley Kubrick nos brindar com uma versão fenomenal que nunca saiu dos sonhos,  dos projetos, quem sabe fruto de uma preocupação história e receio de todo folclore que envolve uma figura tão polêmica...... Havia portanto a esperança com essa versão do Scott, que atolado em licenças poéticas, nos causa muita estranheza, sem falar nos riscos que incorrem narrativas desse porte no imaginário popular e seu comprometimento ao entrar em choque com os fatos de fato históricos, ainda que ele nos diga, do alto de sua vaidade, que pouco se importa.  Não há nessa narrativa nada de profundo, nem mesmo uma espécie de analise ainda que pouco profunda personalidade do Napoleão e dos motivos que o leva, de fato, a sede de tantas conquistas. Assim como também, pouco vemos do acalorado romance em meio a muitas traições, um dos focos importantes em sua trajetória. Do acalorado romance o que vemos são cenas de um sexo beirando o automático (Josephine acaba por se tornar um deposito de esperma frente ao enlouquecido de Napoleão engravida-la, sem êxito) e nenhuma grande evidencia de verdadeira paixão, separados, no entanto, enquanto em pensamentos e cartas essa química talvez se revele muito mais. Centrando seu foco na série de batalhas (Fique atento as de Toulon e Austerlitz, as melhores) muito bem coreografas e capturadas, em detrimento de uma cor acinzentada e sem vida (e intencional), e numa série de cenas que beira a comédia pastelão, a primeira hora não empolga, é até meio enfadonha.... As atuações, no entanto,  estão acima da média. O Napoleão de Joaquim horas atormentado, horas bobo, horas apaixonado oscila nessa tríade mas consegue o devido equilíbrio e não faz feio. Aos 85 anos e com todo fôlego Scott nos mostra toda sua criatividade e energia (ainda envolvido em GLADIADOR II, outra grande expectativa) conseguindo grande feito a cada direção (O ÚLTIMO DUELO é prova viva disso), mas fica ainda nos devendo uma obra prima, expectativa gerada a cada estreia...

Nos cinemas a partir de 23.11

Ficha Técnica:

Título: NAPOLEÂO

Direção: Ridley Scott

Roteiro: David Scarpa

Elenco: Joaquim Phoenix, Vanessa Kirby, Liam Edwards