quarta-feira, 29 de setembro de 2021


 

007 SEM TEMPO PARA MORRER

Com um plano sequência de tirar o fôlego, num misto de criatividade, ousadia e elegância, 007 SEM TEMPO PARA MORRER já nasce um clássico... A despedida de Graig não poderia ser mais elegante, mais dramática, exuberante e tocante... É sabido que a enxurrada de criticas serão lugar comum, o filme nem mesmo entrou em cartaz e os manifestos já estão circulando, e diferente da crítica internacional, a versão tupiniquim das críticas está mais pra revolta... Com direção criativa e ousada de Cary Joji Fukunaga, ancorada num roteiro redondinho e um elenco estrelar, não há como não se render aos encantos de um Bond mais contido, mais humano e mais sedutor... Ana de Armas ilumina a tela com presença de uma naturalidade e beleza singulares, Malek mostra porque é um dos grandes de sua geração, nos brinda com um vilão maníaco e ardiloso, ancorado numa dramaticidade que só colabora para o tom humano, mas, no seu caso perverso, vingativo e sedento de poder... Lashana Lynch  já ensaia uns passos de futuro garantido na franquia...  Ralph Finnes faz bem o dever de casa... A partir de agora o mais longo de todos os episódios da franquia, o ultimo mais longo ostentava 2h40 minutos, SEM TEMPO nos conduz em seus 163 minutos sem cansaço, desconforto ou excesso... Consegue manter em meio a trama reviravoltas e surpresas que renovam as expectativas e enriquecem sua narrativa não tão linear, mas equilibrada, e espetacular... Com uma estonteante fotografia em vilarejo italiano, onde uma das perseguições já se firmam como uma das mais criativas e bem coreografadas, dá um pulo em Cuba e ainda encontra tempo para a deslumbrante cena inicial em meio ao gelo, com direito a suspense e agonia, um primor!

Fazer comentários ou revelar sua história, incorreria numa série de spoilers, o que julgo desnecessário ... Basta acrescentar: Bond já aposentado, substituído( por uma mulher, seguindo a onda do politicamente correto e representatividade feminina) volta no tempo e levado pelas memorias e seus frutos, só agora lhe revelados, ainda consegue voltar a ativa, matar a saudade de todas as minúncias que nos embriagaram sua memorável atuação e ainda consegue alguns momento de humor cáustico e cortante, uma das inovações no roteiro... Num dos roteiros, onde a questão pessoal é absolutamente dominante. Essa despedida em clima de expectativa corresponda e até a supera é fato... Graig faz uma despedida com louvor, deixa sua marca inconfundível de charme, elegância e sobretudo, humanidade, afinal foi a partir dele que James cresceu enquanto ser em seus conflitos, seus dilemas e sobretudo, seu sofrimento, físico e psicológico, como os mais atentos vão perceber, sem, em momento algum lhe tirar a carga de heroísmo, coragem, inteligência, características que o tornaram o super e inconfundível agente com a famosa licença para matar... Com elenco bacana, roteiro equilibrado, direção certeira, fotografia deslumbrante(atente para as cenas aéreas...) pra coroar só mesmo uma trilha sonora capitaneada pelo mago Hans Zimmer, e uma maravilhosa canção de abertura (com inesquecíveis imagens e efeitos) pela não menos talentosa e precoce Billie Eilish, a voz da vez, de talento avassalador,   um luxo!

Prepare um Martini, “batido, não mexido...” Você certamente sentirá saudade!

 

Ficha Técnica:

     Direção: Cary Joji Fukunaga

    Elenco: Daniel Graig, Ana de Armas, Lea Seydoux, Ralph Finnes,Christoph Waltz, Rami  Malek

    Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade, Cary Joji Fukunaga, Phoebe Waller-Bridge

    Trilha Sonora: Hans Zimmer

quarta-feira, 15 de setembro de 2021


CRY MACHO: O CAMINHO PARA A REDENÇÃO

Há um bom tempo que Clint Eastwood se notabilizou por nos brindar com produções bem acabadas, dirigidas e essencialmente sensíveis a causas humanas e reflexões da existenciais... Nas narrativas cinematográficas suas opções de destacam, não só pela qualidade técnica e argumentos anteriormente descritos, como também roteiros bem amarrados, fotografia estonteante e atuações irretocáveis...Um primor! Nesse CRY MACHO, aos noventa e um anos, é impossível não ver em sua atuação, o peso da idade, o cansaço e,  até mesmo as limitações, características meramente físicas que em nenhum momento comprometem a soberba atuação e mergulho visceral nos personagens que abraça... Ironicamente aqui temos um ex-cowboy em fim de carreira atormentado por fantasmas do passado que, em reconhecimento ao apoio dado por um amigo durante sua trajetória em meio aos rodeios, solicita que lhe busque o filho no México, um garoto de 13 anos que se encontra sob a guarda da mãe nem um pouco cuidadosa... Eis a premissa para a narrativa que se sustenta nessa viagem para a fronteira mexicana destas duas almas, ambas atormentadas, uma mais jovem em busca de seu lugar no mundo e a outra mais velha no fim da vida, atormentada e em busca de uma redenção... O garoto como todo adolescente é rebelde, esperto, carente e possui um galo de briga que rouba muitas das cenas do filme, inclusive atende por Macho, o titulo do filme, baseado em livro homônimo do N. Richard Nash . Um belo e tocante roadmovie, mas recheado de reflexões e mensagens edificantes, a película é de uma sensibilidade admirável.  Roteiro bem amarrado emoldurado por uma fotografia belíssima que a paisagem do Novo México é capaz de brindar e embalado por uma trilha sonora cativante, mas não melosa ou apelativa, CRY MACHO pode não ser o melhor do Clint mas certamente irá encantar e sensibilizar a todos. No elenco o destaque fica por conta do estreante Eduardo Minett, que faz o Rafo, adolescente em questão e que bate um bolão com o veterano Clint, estabelecendo uma relação que segue num crescendo com verdade, empatia e muita sensibilidade... Já uma outra atuação merece destaque:   Natalia Traven, como Marta que nos brinda com um banho de empatia, sensualidade e equilíbrio, mostrando um pouco do poder feminino onde o foco poderia estar centrado no “macho” como frisado no título... O galo MACHO rouba muitas das cenas, criando uma espécie de contraponto a melancolia de algumas situações e com toques de esperteza e humor. Já a Fernanda Urrejola atua como a mãe de Rafo, mas um pouco forçada e até mesmo caricata, apesar de aparecer pouco... Já as garotinhas da Marta são um show de fofura e delicadeza. CRY é um daqueles filmes edificantes. Cujas mensagens positivas estamos sempre carentes de ver, nos faz sair da sala de cinema leves, mais otimistas e crentes num mundo melhor mais humano., onde as relações, por mais complexas que sejam, sempre valem a pena... Me fez falta um aprofundamento maior na relação de Mike e Rafo, faltou algo que ratificasse a relação bonita, necessária e sensível construída ao longo da narrativa... É bacana de ver o Clint aos 91 anos enfrentar um set, dirigindo e atuando, nos brindando com o seu melhor:  sua atuação irretocável e  singular!

Ficha Técnica:

Direção: Clint Eastwood      

Roteiro: Nick Schenk        

Elenco: Clint Eastwood, Eduardo Minett, Natalia Traven, Dwight Yoakam, Horacio Garcia Rojas