quarta-feira, 28 de agosto de 2019


BACURAU...
Não vou começar este texto dizendo que BACURAU é um filmaço ... Todo mundo tá dizendo ... Prefiro dizer que é
uma grande e necessária realização da dupla afinadíssima Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles... Creio que daqui a alguns anos nossos filhos o estarão estudando nas escolas ... 
Filme de gênero, bebe nas maiores e melhores fontes, mantendo no entanto sua personalidade, sua marca , sua essência ... É assim o cinema do Kleber ... Sábio, tira como ninguém proveito das grandes inspirações (Vide Glauber Rocha, para citar apenas um, mas expressivo e necessário)utilizando-as dentro do contexto de seu roteiro, enriquecendo-a além de prestar-lhe uma sútil e afetuosa homenagem ... vejo assim! 
Contando com um elenco formado quase em sua totalidade por não atores ou atores amadores, complementa seu cast com elenco de luxo: Sonia Braga, Udo Kiev, Bárbara Colen, Silvero Pereira (um primor, monstro de atuação )Luciana Souza, dentre outros ...
Não espere uma historinha convencional ... De uma hora para outra BACURAU, pequena cidade do interior nordestino some do mapa ... Daí pra frente o que vemos é uma sucessão de situações inesperadas e inusitadas que não convém citar aqui ... Abordando com sabedoria e extrema ironia de viés político singular, a ação se passa num futuro próximo bebendo da água nesta atual sombria situação que estamos a viver ... Ponto pra Kleber ! 
Estão lá todas as críticas possíveis a respeito de gestões políticas, desigualdades sociais, questões raciais , enfim, um caldeirão de situações limites que nos levam a muita reflexão ... Equilibrando momentos de rasgado humor com outros de cruel e extrema dramaticidade, Bacurau é como um forno a lenha , começa lento, mais ainda assim incomodativo, e num crescendo acelerado nos atira num salto sem redes ... Uma catarse ! 
As atuações estão irretocáveis ... Sonia Braga é presença marcante, Silvero Pereira é um monstro em cena, Luciana  Souza protagoniza uma das cenas mais simples e profundamente significativas ...  E com tantas questões, Kleber ainda encontrou tempo para cenas de belas e impactantes fotografias da natureza que num contraponto em meio a violenta e dramática narrativa nos  permite uma respirada, uma relaxada contemplativa ... Um soberbo trabalho de fotografia que se insere perfeitamente na narrativa lhe emprestando leveza e beleza ...
É um filme para se ver e rever ... Muita simbologia, muitos nuances, uma riqueza de detalhes para olhos abertos e mentes atentas... Um exercício ...
Em cartaz a partir de amanhã , 29.08.


Kleber Mendonça FilhoFilho BRAVO! Seu cinema é mais que necessário, é obrigatório! Como comentava com Ieda, no cinema nacional vemos muitos jardins com flores de plástico... A aridez do teu jardim possui cactos, com vida, que ainda  com abundância de espinhos nos ofertam as mais belas flores! Cheias de vida e, sobretudo de esperança !

terça-feira, 27 de agosto de 2019



DIVALDO, Mensageiro da paz...


A história de um homem que tem passado a vida disseminando o amor... Resumiria assim a tônica deste belo, sensível e extremamente profundo filme... Fazia tempo que tive a oportunidade de ver um texto tão bem elaborado, tão bem afiado e profundo sem soar didático ou panfletário... Clóvis Mello foi muito feliz, o filme é tecnicamente bem construído, uma reconstituição de época equilibrada, um elenco afiadíssimo e harmônico, trilha pertinente ...
A narrativa começa com a infância de Divaldo, um recorte apenas para nos situarmos no inicio de sua relação com sua espiritualidade, a mais fraca do filme, o ator mirim não consegue passar a naturalidade que a situação exige... Mas como um bom forno a lenha, aos poucos a película ganha corpo, forma, voz e luz... A mensagem poderia se resumir em AMOR, pouco se tem visto ou falado com tanta propriedade, com tanta verdade e com tanta humildade de amor e nossa relação com o outro... A dedicação de Divaldo a vida das pessoas é impressionante e remando contra a maré que hoje se vê, ele não busca apenas matar-lhes a fome, busca meios que aprendam, e busquem com os próprios esforços o que comer e como viver... Apesar de muito profundo e sensível, em nenhum momento vemos um tom excessivamente didático, ou disseminação de viés unicamente vinculado a crença... O que se vê na tela é um dialogo verdadeiro e necessário com crenças diversas fundamentadas num só Deus... É lindo ouvi e ver em seu depoimento de vida tal constatação... Impressionou-me a construção de um texto sensível, amoroso, edificante sem beirar em momento algum o piegas, o apelativo... A atuação dos atores é outro ponto forte do filme. Estão bem e confortáveis... passam verdade e determinação... Chamo atenção para atuações de Ana Cecilia Costa eLaila Garin, grandes atrizes em atuações irretocáveis... Ghilherme Lobo de um carisma espetacular constrói um Divaldo cativante... cabe a Bruno Garcia na ultima fase não deixar o clima cair e nos brindar com um Divaldo igualmente carismático e próximo, muito próximo em físico e postura do Divaldo de 92 anos que nos surpreende e nos encanta...
Com maior parte das locações feitas em Salvador, mais especificadamente Santo Antonio Além do Carmo, onde podemos notar as igrejas e sua rica arquitetura.
É um filme para se assistir desprovido de qualquer avaliação de corrente religiosa, crença ou o que o valha... A Tônica é a paz e o amor, o crescimento espiritual, a fraternidade e sobretudo, a humildade! Certamente irei rever, há muito de citações belas e profundas que precisamos ter como mantra...
Ficha Técnica:
Data de lançamento 12 de setembro de 2019
Direção: Clovis Mello
Elenco: Bruno Garcia (I), Regiane Alves, Marcos Veras, Laila Garin, Ghilherme Lobo, Ana Cecilia Costa, Caco Monteiro, Marcos Veras, dentre outros
Gêneros Biografia, Drama

domingo, 25 de agosto de 2019




Fui, finalmente, ver ERA UMA VEZ... em Hollywood...
É decididamente um filme para cinéfilos, uma grande e bem construída homenagem ao cinema, apesar de focado numa época trágica e maculada, onde o assassinato da Sharon Tate pôs fim ao sonho Hippie. Neste filme vemos um Tarantino maduro, mais criativo, que, nos brinda com um filme longo e abarrotado de referências e personagens verídicos que só mesmo cinéfilos atentos compreenderão ... Di Caprio e Pitt estão no Esplendor do amadurecimento, brincam e se divertem com a ridicularização deles mesmos (personagens ), um Al Pacino não foge à brincadeira e aparece em plenitude ... Estão lá cenas de grandes e clássicos filmes em paralelo às cenas refeitas e deliciosamente caricatas e a maior parte delas, veridicas , num preâmbulo para o banho de sangue final, sim, do contrário não seria um Tarantino legitimo ... Como de hábito, é um Tarantino para se amar ou odiar, não há meio termo, e na sua criatividade e reconstituição (irretocável) de época, há um universo de sutilezas, pequenos detalhes e observações que só mesmo um diretor genial como ele seria capaz de articular !
Já em cartaz !

segunda-feira, 5 de agosto de 2019


SIMONAL

Depois do documentário eis que nos chega SIMONAL, que  ainda , certamente, não será uma versão definitiva. Dirigido por Leonardo Domingues e estrelado por  Fabricio Boliveira, que apesar de talento promissor e de alguns bons trabalhos, ainda não se livrou do Roberval, último trabalho na TV.
Simonal a primeira vista nos parece um belo e bem cuidado trabalho de cenografia e montagem, com uma reconstituição de época, ainda carente de maiores cuidados, não decepciona...  Talvez, por se tratar do primeiro trabalho, Domingues ainda careça de maiores cuidados...
A  narrativa não nos brinda com o que Simonal tinha de melhor, sua música, seu legado, talvez por prender-se ao fatídico episodio “dedo duro” que o marcou e o afastou dos palcos... No episódio a classe artística o sentenciou  e a partir daquele momento sua carreira ruiu...
O filme nos mostra em alguns momentos o poder que Simonal tinha junto ao público, seu jeito moleque  de ser, sua voz poderosa, sua inusitada criatividade, e  principalmente sua cumplicidade com o público, vide cena do Maracanãzinho... Um achado e de longe melhor cena do filme.
Aqui Fabrício volta a dividir cena com Isis Valverde, que faz o dever de casa sem maiores surpresas... Fabricio tem uns poucos bons momentos, mas de fato, não conseguiu incorporar  ou compor um Simonal como esperado... Domingues comete o pecado de adicionar a montagem imagens do Simonal a época, o que só evidenciou as diferenças, não só físicas mas também comportamentais... neste momento percebemos o quanto Roberval ainda está em Fabricio e o quanto o trabalho da equipe de arte fica prejudicado uma vez que refez todos material gráfico (cartazes, capas de disco, etc) com a imagem do Fabricio...
Alguns personagens da época ainda soam caricatos, Imperial por exemplo ganhou uma péssima composição do Leandro Hassum, que não encontra o tom e exagera e decepciona... só pra ficar num exemplo...
Em meio a biografias de ídolos marcantes que,  recentemente  nos tem chegado, Leonardo fica nos devendo... Faltou-nos um Simonal que nos arrebatasse e nos fizesse esquecer o Simonal vaidoso e de recalques ostentadores, faltou-nos o avassalador poder que suas canções  exerceram à época de seu surgimento...
É um filme que deve ser visto, não só por fazer parte da política e da história de uma fase negra da história, mas também para rever seu talento e presença singular no placo e seu poder aglutinador quando regia grandes plateias... Um primor!

Serviço:
Data de lançamento 8 de agosto de 2019 (1h 45min)
Direção: Leonardo Domingues
Gêneros DramaBiografiaMusical
Nacionalidade Brasil