quarta-feira, 28 de outubro de 2020


TENET

Já dizia meu mestre Quintana: “Quando alguém pergunta ao autor o que este quis dizer, um dos dois é burro...”... Talvez um dos pecados recorrentes do Christopher Nolan seja este, excesso de didatismo, uma certa preocupação exacerbada com o que o seu público pode não entender, e aí vamos explicar, o que no meu humilde ponto de vista acho desnecessário...Mas isso é muito pouco frente aos méritos que tem a nos oferecer... Seu mais novo projeto chega as salas de cinema como uma espécie de redentor da classe, mérito que não lhe deve ser negado, afinal, peitar uma estreia em salas presenciais quando a debandada  foi geral para o streaming não é pouco, apesar de, ainda, não se ter como mensurar a empreitada. E eis que nesta semana TENET tem estreia aqui no Brasil cercado de muita expectativa e muitas interrogações. Primeiro cumpre dizer que é  o tipo de filme que dispensa qualquer comentário  em maior ou média escala, é preciso que o espectador adentre a sala sem maiores dicas ou conhecimentos prévios, o fator surpresa e impacto é seu maior e melhor  combustível... Como o título já o diz(pode-se ler invertidamente), Nolan brinca com o tempo, mais uma vez (vide  ORIGEM) e é impossível não fazer uma certa analogia com AMNÉSIA, ainda que este último esteja a anos luz ... Com atores escolhidos a dedo : Um protagonista negro( o competente John David Washington do maravilhoso Infiltrado na Klan), seu partner grande ídolo em franca ascensão( Robert Pattinson, nosso futuro  Batman), um vilão de luxo( Kenneth Branagh em atuação incomum) e uma bela, esguia e elegante Elizabeth Debicki, não precisava de mais nada além de uma eletrizante história emoldurada por uma trilha sonora idem(Ludwig Goransson inspirado é quase um personagem do filme, potente, grandiloquente e por vezes até exagerado... mas funciona bem)) e efeitos pra lá de especiais... A premissa pode ser batida e conhecida: O mundo corre perigo e é preciso que algo seja feito pra evitar, apenas frise-se que aqui, o perigo eminente não se restringe a uma guerrazinha qualquer, um atentado limitado, ou alguma peste a se aproximar, o buraco é mais embaixo, aqui se trata de um Nolan, portanto a questão é : Inversão do tempo! Você consegue imaginar o que aconteceria se pudéssemos, em esfera real,  fazê-lo? Pois bem, com uma ação de impactos poucos vistos, coreografia de primeira, embates e perseguições espetaculares (um deles os veículos estão em dimensões diferentes, vai a dica) e um trabalho corporal com os atores de nos deixar de queixo caído, a história encontra tempo de filosofar e tratar questões de relacionamento familiar, maternidade e paternidade questionadoras em tempos sombrios... Isso sem falar nas cenas onde a máscara, agora nossa grande aliada, está presente e nos faz refletir: Seria um instinto premonitório do Nolan? Não, ele não faria tanto...  Estarmos sentados numa sala usando as sufocantes máscaras e nos depararmos na tela com atores que também as usam é de um questionamento surreal... Por que? Qual o sentido?? Mas esta é mais um daqueles sinais... Cumpre alertar uma atenção maior, nada num filme do Nolan acontece de graça, tudo acaba por se amarrar/explicar (ou não) por isso é bom ficar atento. A película possui momentos e cenas eletrizantes desde já antológicas. Ainda que longo, duas horas e meia(supriria meia hora sem nenhuma perda)cada minuto tem seu peso e sua significação e nos faz em alguns momentos na sufocante e impactante queda de braço na tela esquecermos que usamos máscaras na plateia... Um achado !

Ficha Técnica:

Estréia : 29 de outubro de 2020

Duração: 2h 30min

Direção: Christopher Nolan

Elenco: John David Washington, Kenneth Branagh, Robert Pattinson

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