sexta-feira, 12 de agosto de 2022


 

A FERA

 

Poderíamos dizer que A FERA é uma daquelas produções que prometem muito e oferece pouco, não que isso lhe diminua completamente o mérito, mas de certa forma é desconcertante por conta de seu potencial pouco aproveitado. O roteiro parte da premissa do pai que em companhia das duas filhas parte para uma viagem após a morte da mãe destas, para lhes apresentar a África e suas raízes. Um bom argumento se bem aproveitado e obviamente, não é bem o que ocorre aqui. Com esse argumento temos um viés psicológico muito pouco desenvolvido pelo roteiro que prefere seguir a linha do quase terror, uma vez nesta viagem a família encontra a tal fera do título, um leão que anda dizimando caçadores, e que acaba por encurralar a família. A partir daí a película vira a conhecida correria de gato e rato com momentos de tensão e suspense. Colocar uma família negra no centro da ação lhes dando a oportunidade de protagonizar já é um feito, e mais seria se bem aproveitado, uma vez que o comportamento e a pegada aqui abordada é uma versão negra das usuais versões brancas, falta-nos aqui um pouco da negritude daquela família que está em seu lar e ainda assim o teme e o desconhece. As questões psicológicas: relação mãe e filhas, espécie de culpa pelo fato do pai ser médico e ter perdido a esposa na batalha para o câncer, a garota tranquila em detrimento da irmã rebelde... São questões que se misturam a ação sedimentada quando a fera aparece e dai em diante é puro mais do mesmo. A história do animal que ganha poderes sobrenaturais e passa a competir com os humanos não é nova, no entanto aqui mal aproveitada. Uma vez ousada, se faz necessário que essa ousadia lhe faça jus, o que aqui não ocorre. A profusão de efeitos especiais, as vezes nem tão bons assim acaba por cansar um pouco o espectador, uma vez que as situações se mostram batidas, nada novas, o que seria um ganho se fossem mais criativas e surpreendessem. O elenco faz o dever de casa. O pai , medico com cara de culpa e bonzinho defende as filhas com unhas e dentes até as últimas consequências num desfecho inusitado e beirando o irreal. As garotas , bem as garotas são as garotas, nada de excepcional. A fera (o leão) tem alguns momentos de regular atuação, no mais, uma esquecível sessão da tarde.

Em cartaz nos cinemas.

Ficha Técnica:

Titulo: A FERA

Direção: Baçtasar Kormákur

Elenco: Idris Elba, Leah Jeffries, Mel Jarnson

 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022


 

TREM BALA

 

Costumamos desconfiar de grandes produções que reúna elenco estrelar... Geralmente são o famoso tiro no pé. A começar pela guerra de egos em meio a tanta estrela e tanto brilho, cada um quer seu momento solo arrebatador, e isso sem falar nos pecados do roteiro, que nem sempre condiz com o elenco ali apresentado... Resumo da ópera: mais um tiro que sai pela culatra... TREM BALA, dirigido sabiamente e com sopro inspirador por  David Leitch escapa com louvor dessa armadilha. Baseado no livro homônimo de Kotaro Isaka, TREM BALA tem roteiro amarradinho de  Zaç Olkewicz (Rua do Medo:1978- parte 2). A história gira em torno do bonitão Joaninha , aqui vivido pelo Brad Pitt (em momento totalmente inspirador) matador que em mais uma missão está no trem mais veloz do mundo com mais doze assassinos, numa trama que a princípio pode parecer confusa em meio a profusão de situações e temas aparentemente dispersos, mas que, não se engane, são sabiamente costuraadinhos ao final de maneira espetacular... Fiquemos aqui com os detalhes da história para evitarmos spoilers. Não há como não estabelecer conexão com Tarantino, sim, a narrativa é eletrizante e vibrante num festival de pancadaria e sangue, muito sangue, marca registrada do Tarantino. Essa característica lhe tira um pouco de originalidade, mas, de forma alguma se configura como demérito, uma vez que a narrativa está recheada de traços autorais e situações onde a conhecida maneira de condução do diretor em todas as suas histórias será facilmente perceptiva. Nos primeiros momentos a profusão de cenas rápidas em meio a velocidade do trem, as piadas cortantes e auto-irônicas e as citações e comportamento do protagonista nos fazem crer se tratar de um amontoado de bobagens, que, de tanto exagero chega a ser bom... O elenco estrelar esta em perfeito equilíbrio, evidentemente Pitt rouba todas as cenas com seu carisma, sua generosidade e, sobretudo seu talento, afinal está em seu melhor momento, um cinquentão(58 anos) que ainda esbanja jovialidade e disposição para filmes de ação. Aqui em meio as espetacularmente coreografadas cenas de ação, assassinato e perseguição onde o sangue jorra solto, Pitt reina absoluto auxiliado por um roteiro criativo onde pérolas de auto ajuda são despejadas a exaustão em momentos de fina ironia, dando sustentação e fazendo o arsenal de explosões se equilibrar. O filme ainda conta com a participação de luxo de Sandra Bullock, que numa espécie de dobradinha (Pitt fez pequena participação no último filme dela CIDADE PERDIDA) nos brinda com sua iluminada presença nos momentos finais, um luxo. O filme ainda conta com outras surpresas não reveladas. Com um time que vai de Brian Tyree Henry, Joey King, Aaron Taylor-Johnson, Logan Lerman, Michael Shannon até o cantor sensação Bad Bunny. É certo que a narrativa veloz e cheia de alusões modernistas, muita cor e sobretudo uma trilha sonora inspiradora e pertinente que ainda tem tempo de nos brindar com uma fotografia igualmente deslumbrante onde os tons quentes são a tônica da vez e imagens inspirados e belas que nem de longe estariam em um filme estritamente de pancadaria e puro entretenimento. Ao longo de suas duas horas e sete minutos temos momentos de pequenas repetições, e muitas, muitas reviravoltas que acabarão por confundir os menos avisados e atentos, que em nada comprometem, mas que se limadas certamente teriam deixando a narrativa mais concisa. Enfim, esqueçam a lógica e embarquem numa viagem de muita ação (atentem para os efeitos que são um primor, super elaborados), humor e sobretudo, talento de uma equipe de atores que estão em harmonia e singular momento inspirador. Desnecessário dizer que TREM BALA foi concebido para tela grande e assim deve ser visto, ainda que logo deva estar pulando para o streaming. TREM BALA desponta como um dos grandes lançamentos do ano, com louvor!

Em cartaz nos cinemas a partir de 04.08

Ficha Técnica:

Título: TREM BALA

Direção: David Leitch

Roteiro:  Zaç Olkewicz

Elenco: Brad Pitt, Sandra Bullock, Brian Tyree Henry, Joey King, Aaron Taylor-Johnson, Logan Lerman, Michael Shannon, Bad Bunny