quinta-feira, 21 de novembro de 2019

terça-feira, 19 de novembro de 2019

 





ADAM
Apesar do título masculino, ADAM é um filme feito por mulher e para mulheres ... ADAM, o bebê, por vezes rouba a cena e é a ponte que liga a vida de duas mulheres sofridas : Abla e Samia. Abla, uma viúva de olhar austero e sofrido que acolhe depois de muito custo a não menos sofrida Samia, grávida em busca de emprego e abrigo, que, planeja após o parto doar a criança e voltar pra casa ... Está montada a trama, baseada em fatos reais que nos arrebata do início ao fim , em meio a uma lentidão entre silêncios e pequenos gestos ...  Abla apenas atua com os olhos e as  mãos, e delas faz bom uso numa dramaticidade de poucos recursos e muita expressão, pouco vista ... A evolução e consequente explosão que ocorre com seu desabrochar  é o grande achado do filme ... Em meio a esta realidade transita a pequena e cúmplice de Samia, Warda, a doce filha de Abla, equilíbrio e leveza do filme ... Maryam Touzani dirige com pulso forte no entanto com mãos delicadas, tirando destas mulheres o seu melhor em meio a suas respirações contidas, emoções reprimidas e dor... A ligação entre estas mulheres se estabelece mas em nenhum momento se vê qualquer ato de afeto ou ternura física ...  Atente para a cena da dança, onde algo caminha para uma insinuada possibilidade ... apenas isso ... Outra cena de forte impacto é a da aceitação e acolhimento do bebê... é de rara e poética beleza...
ADAM busca para o Marrocos uma das 5 vagas do Oscar a Filme Internacional, antigo filme estrangeiro ...
Em cartaz no Itaú Glauber Rocha

sexta-feira, 8 de novembro de 2019




PARASITA

A família Kim mora praticamente num bueiro, um sub solo sombrio, vive a caça de sinal alheio para poder usar WhatsApp... Uma penúria...Eles são quatro, vivem de bicos para se manterem... Aproveitam a dedetização da rua e abrem a janela para dedetizarem o porão a custo zero.. Já a família Park, também formada por quatro membros vive numa mansão arejada bela e cinematograficamente(para ser redundante) vitrificada, projeto de um grande arquiteto... Uma filha precisa de reforço escolar, o filho mais novo faz pequenos rabiscos e na ingenuidade da mãe é um pequeno e promissor talento, o pai, bem esse pouco se sabe, mas o suficiente para diagnosticar um provedor pseudo-amoroso cuja dificuldade de se relacionar com a esposa o faz buscar acessórios outros que o estimulem... Ambas as vidas das famílias começam a mudar quando a família Kim vislumbra na família Park a grande oportunidade de mudança...Ki-woo, o garoto começa a dar aulas particulares a garota e numa tacada de mestre, junto a sua irmã Jessica traçam o plano de ocupação do universo dos Park... Bem, esse é um pequeno resumo do que teremos a frente num roteiro de esmerado capricho e direção irretocável do mestre coreano Joon-ho Bong, que já nos deu as grandes obras: Memórias de um Assassino, O Hospedeiro, Mother, Expresso para o Amanhã e Okja... Nenhum deles no entanto se iguala a este estupendo PARASITA... Bong inicia numa lentidão quase letárgica, bebe na comédia, no suspense, no drama e numa sucessão de reviravoltas surpreende a todo momento... De repente, como se numa marcação(que só os mestres o fazem com propriedade) uma tempestade é sua tacada de mestre e muda tudo.. Uma obra prima...
As questões aqui são basicamente sociais e politicas sem ser panfletarias... as abordagens são sutis sem serem didáticas... Com um elenco afiado, competente e, sobretudo entrosado( Kang-ho Song que o diga), uma fotografia vistosa e um jogo de câmera inteligente e criativo emoldurados numa trilha eletrizante nos brinda com um dos, senão o melhor filme do ano, laureado em Cannes e concorrente certo a melhor película internacional (nova nomenclatura pata o antigo 'estrangeiro' ), e aqui num palpite quase certeiro, é capaz de brilhar entre os dez a premiação principal, onde apostaria todas as minhas fichas no escuro... E nem vi todos os demais concorrentes, apenas creio, dificilmente um sopro criativo e certeiro como esse seja suplantado... A sucessão de pequenos e importantes detalhes, vide a questão do "Cheiro" grande achado do filme e propulsor do ódio e da vingança, não se furta a comentários sutis que, num apurado alvo dá o devido recado sem muitas explicações, elas seriam desnecessárias... Nada aqui é gratuito ou exagerado, tudo muito milimetrado e coerentemente utilizado... Uma questão paira no ar: Seria a família Kim os parasitas do título ou ambos numa reciprocidade o seriam? Afinal se os Kim precisam da grana dos Parks, os Parks num viés de carência ou ingenuidade da mesma forma precisam dos Kim... Mas esta dúvida fica a critério de cada um e a tõnica do seu olhar...
Ficha Técnica:
Título 기생충 (Original)
Ano produção 2019
Dirigido por Bong Joon-ho
Estreia
7 de Novembro de 2019 ( Brasil )
Outras datas
Duração 132 minutos
Já em cartaz:
Espaço Itaú Glauber Rocha
13, 15:30, 18, 20:30 (18 exceto quinta e sabado)
Saladearte MAM
20:20(exceto 2a)
Saladearte Cine Paseo
20:30
Saladearte Cinema do Museu
18:05







O Panorama começou MUITO bem ... A abertura com sensacional A Vida Invisível lotou salas, emocionou e surpreendeu ! Com direção impecável do Karim Oinouz com o trio de atrizes em atuações incorrigíveis : Carol Duarte, Julia Stockler e é claro, a participação de luxo da Fernanda Montenegro que chega no final e arrebata a todos ... quase não fala... e quando abre a boca com as poucas palavras e aquele olhar... Um monstro em cena!!! A adaptação superou expectativas e Karim apoiado nos elenco afiado (todos estão bem) um roteiro bem construído , uma fotografia quente privilegiando tons de vermelho e uma trilha marcante é possível, uma espécie de personagem velada do filme, nos brinda com um drama denso onde a explosão nas fortes cenas de sexo nos impactam sem escandalizar, seja do ponto de vista feminino ou masculino ... Aqui os homens são meros coadjuvantes ... Gregório Duvivier surpreende ...
A dificuldade de ser mulher está lá escancarada nestas relações desniveladas e sacralizadas... Há uma frase sintomática que choca e chacoalha : “ Não se preocupe, ela estará pronta pra ser mãe outra vez”...
É um filme denso onde o amor romântico sede lugar ao amor entre irmãos de forma humanizada e, senhor vezes é dura é porque a vida o é. Num universo onde o masculino oprime, nega e choca, uma boa parte dos espectadores há de se chocar um pouco ... Em nenhum momento óbvio se faz presente, as guinadas são sempre surpreendentemente novidades, o final nos da uma boa chacoalhada num surpreendente fechamento de impacto singular...