segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022


 

THE BATMAN

Há algo de voyeur nas cenas iniciais de BATMAN que embalAdas por um monólogo de cunho questionador e desalentador já nos diz a que veio.. Abertamente pseudo-noir, o que me soa como uma homenagem, onde é impossível não vislumbrarmos um Scorsese como inspiração. A própria opção pelo caminho investigativa já nos remete sutilmente, quando bem construída e amarrada, claro. A acertada direção de Matt Reeves (PLANETA DOS MACACOS: A GUERRA), que poderia padecer de repetição e mais do mesmo surpreende e encanta, afinal Batman é um dos heróis mais relidos, reinventados e adorados... Ficaria a pergunta: O que fazer para surpreender e inovar? A franquia que saiu na frente e abriu mão do puro entretenimento e aprofundou temáticas e colocou mais cérebro em suas narrativas não decepciona, nos brinda agora com uma narrativa pautada no viés investigativo com fortes doses de reflexões ancoradas no tripé: Politica, Justiça e corrupção... Não há como dissociá-las. No quesito protagonistas, não temos o que reclamar, Pattinson fez bem o dever de casa e surpreendeu como um Batman mais novo e mais confuso e inseguro (nos primeiros anos em sua linha investigativa), além de uma química com a Zóe Kravitz(Mulher-Gato), aliás outra boa e destacada atuação. Vi em alguns momentos algo de SEVEN (na linha sinuosa da atuação do Charada e seu jogo de gato e rato) e SILÊNCIO DOS INOCENTES, a construção do Charada nos remete tranquilamente, seu texto, sua postura , seu cinismo e sua presença a princípio apenas com o olhar é um achado.. Outra presença que consegue nesta versão um destaque maior é a do Gordon, feito por um Jeffrey Wright inspirado, assim como as presenças de Andy Serkis como Alfred e Colin Farrel como Pinguim e John Turturro fazendo um correto Carmine Falcone. A fotografia é outro ponto alto do filme, mesclando a escuridão e o tom sombrio da cidade com momentos solares onde Batman é visto no contra luz em cenário de cores quentes e deslumbrante foi um acerto, assim como a profusão de explosões que carregam a tela nestes mesmos tons, momentos solares. Os efeitos especiais são primorosos e aqui destaco uma perseguição em meio a uma noite chuvosa, de tirar o fôlego. Os confrontos entre Batman e seu antagonista são viscerais e psicológicos, apesar da porrada também ter seu espaço.  Há momentos de velado humor que dão certa leveza a narrativa sem parecerem forçados, ao contrário, pertinentes e necessários. Quanto ao roteiro, basta dizer, como já citado anteriormente que se trata de uma questão investigativa em meio a um plano de vingança, não cabe aqui detalhes em função dos inúmeros spoilers que não teria como evitar, e ademais, a surpresa é um grande componente desse pacote. Alguns se surpreenderão com a atuação do Pattinson que, agora mostra de fato a que veio, o vampiro virou um morcego de peso. Seu BATMAN guarda nuances que a princípio podem soar estranhas, mas ao longo da narrativa vão se incorporando ao seus olhares, seus passos e sua envergadura e logo vemos um BATMAN de personalidade, autêntico. A duração, a princípio, me assustou (2 horas e 57 minutos). Na verdade quando há conteúdo num roteiro bem amarrado e boas atuações esse tempo passa imperceptível e, se vacilarmos,  ainda nos deixa um gostinho de quero mais...  Creio que o Pattinson dará, com sua atuação, uma boa e nobre resposta a todas as especulações acerca de sua indicação e atuação, mostra a cada trabalho porque saiu da zona de conforte e mergulha em águas mais profundas e edificantes na construção de uma elogiada trajetória. Uma promessa de futuro! Vejam BATMAN sem preconceito, terão uma grta e agradável surpresa.

Onde ver: Dia 03 de março nos cinemas

Ficha Técnica:

Título: THE BATMAN

Direção: Matt Reeves

Roteiro: Bill Finger, Matt Reeves, Bob Kane, Mattson Tomlin, Peter Graig

Elenco: Robert Pattinson, Zoé Kravitz, Colin Farrell, Andy Serkis, Jeffrey Wright,  dentre outros

 

sábado, 26 de fevereiro de 2022


 

LAMB

Filme islandês protagonizado pela talentosa atriz Noomi Rapace (Os Homens que não Amavam as Mulheres ) e premiado por originalidade no festival de Cannes ano passado, chega agora as plataformas digitais. Dirigido com sabedoria por Valdimar Jóhannsson, que faz sua estreia com louvor,  tem um pouquinho de drama, fábula, e, pasmem, terror... Baseado num argumento inusitado e, como premiado, verdadeiro sopro de criatividade, LAMB se passa numa fazendo de ovelhas, onde o casal reside se dedicando a cuidar das ovelhas e se recupera de uma recente perda... Com um clima soturno e arrastado, nos primeiro 30 minutos acompanhamos o dia a dia do casal, que numa espécie de recolhimento vive os dias num lugar inóspito que inspira uma aura de solidão e tristeza... A rotina diária repetida se resume a cuidar dos bichos... Não vemos até ai nenhum sinal de afetuosidade, amor ou cumplicidade... Eis que em meio ao clima natalino o parto de uma das ovelhas muda tudo, como se em forma de uma dádiva, a vida começa a mudar(estaria ai uma alusão bíblica???)... Depois de fazer o parto Maria recolhe a ovelha bêbê e a leva para dentro de casa passando a dispensa-la cuidados como se fosse  um bebê humano. Neste clima familiar Ada cresce e..., bem ficamos por aqui. É interessante observar como a rotina do casal muda, como sua cumplicidade aflora e como seus semblantes se iluminam... Agora são uma família. Um fato curioso é que, segundo estatísticas, a população de ovelhas na Islândia é maior que a de humanos, um fato que deve ter impactado na decisão do diretor ao escolher esse animal para sua fábula/drama. Com uma direção firme, num cenário belo e ao mesmo tempo assustador que remete ao frio e a necessidade de acolhimento, o silencio e os olhares dizem muito, a realidade do dia a dia sem horizontes e a constante repetição traçam um perfil da vida antes e depois do aparecimento da ovelha. Maria e Ingvar veem sua realidade mudar e embarcam nesta mudança, agarrando-a com unhas e dentes, ainda que para tal tenham que cometer  atos impensados e manter uma postura desequilibrada e auto sabotadora. Filme econômico nos recursos, é gigante em argumento e roteiro. A moldura de um cenário bucólico e ao mesmo tempo assustador associado as atuações irretocáveis de seus protagonistas, fazem deste, um dos mais bem elaborados longas a estrear, e, sobretudo um respiro em forma de criatividade. Jóhannsson faz sua estreia com mérito e reconhecido valor.

Ficha Técnica:

Título: LAMB

Direção:  Valdimar Jóhannsson

Roteiro: Sjón

Elenco: Noomi Rapace, Hilmir Snaer Guonason, Bjorn Hlynur Haraldsson

Disponível no MUBI

 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022


LICORICE PIZZA

 

Talvez o mais esnobado pela academia, o diretor Paul Thomas Anderson, chega com mais uma daquelas obras de caráter autoral e conteúdo  singulares. Admitamos que este ano, de alguma forma as sonhadas indicações talvez não fossem pertinentes. A história do garoto de quinze anos que se apaixona pela jovem de vinte e cinco navega pelas transformações e percalços da fase de transição da adolescência a fase adulta.  Não espere neste caso nenhuma fábula, nem historinha sessão da tarde, a pegada aqui é outra. Gary é o garoto jovem, descolado, um pouco maduro e até empreendedor, enquanto Alana, mais velha, ainda não se encontrou, transita numa dualidade de universos (mais jovens e adultos) meio que perdida e assustada com o garoto eu mal a conhece e já detona para o irmão mais novo: Hoje vou jantar com mulher com quem casarei...  A narrativa de passa nas idas e vindas de amor platônico que horas desperta curiosidade em Alana , horas desperta temor, afinal são dez anos de diferença... As idas e vindas de um casal que não se assume, do amor não admitido se mistura a uma turma de personagens excêntricos e inusitados, nesse quesito Paul conta com um time de atores de ponta, uma vez que o elenco é basicamente formado por caras desconhecidas ( a família de Alana,  vivida por Alana Hain está lá) ai vemos Sean Penn, Bradley Cooper, Tom Waits, John C. Reilly, em pequenas participações marcantes ... Isso tudo em meio  uma trilha sonora afinadíssima e homenagens veladas ao cinema, não raro vermos cenas onde letreiros reluzem títulos marcantes daquela época, um achado. Contando com colaboradores em outras obras, a exemplo das garotas que formam a banda indie Haim( Paul dirigiu clipes da banda), Alana é estreante frente as câmeras, como também Cooper Hoffman,  filho do Philip Seymour, que Paul dirigiu em Boogie Nights. Comédia de tons azedos, sai da curva das habituais narrativas (afinal é um Anderson legitimo) certamente irá dividir opiniões, não passara portanto despercebido... Não espere encontrar a pizza de Alcaçuz citada no título, que na verdade se tratava de uma loja muito badalada na Califórnia...

Em tempo: O filme concorre a Oscar de melhor filme, direção e roteiro.

Ficha Técnica:

Título: LICORIZE PIZZA

Direção: Paul Thomas Anderson

Elenco: Alana Haim, Cooper Hoffman, Adam Sommer, Bradley Cooper, Sean Penn, Tom Waits, entre outros

Estréia:17.02