Lunana: A Yak in the Classroom
Com os olhos marejados , foi
difícil levantar da poltrona do cinema ao subir dos créditos de Lunana: A Yak in the Classroom ou no meloso título em português A Felicidade das Pequenas Coisas, ele é bem
MAIOR que esse título e seu original soa pertinente e esclarecedor .. Marejei não por tristeza, pesar … não se trata de
nenhum drama apelativo , ode ao sofrimento ou algo do tipo com os indefectíveis
trágicos finais … Me emocionei porque há tempo não era tão impactado com tanta
humanidade , tanto afeto , tanto amor e tanta empatia … uma narrativa onde não
vemos nenhum beijo , nenhum abraço , nenhum toque…. Aqui os afetos são mais
profundos , os sentimentos são mais verdadeiros, a humanidade pulsa e o SER
descobre sua plenitude, ainda que sejamos carentes do calor do abraço e de sua
troca de energias … Difícil imaginar uma narrativa sem celular, telefone fixo ,
automóveis , Facebook, Instagram , TikTok e uma banal realidade paralela onde a
humanidade adoecida mergulhou sem a mínima possibilidade, por hora, de emergir
… O título original desta pequena pérola é um primor e, faz todo sentido , é a mensagem subliminar
do filme , é a alma em estado latente …
A história do jovem professor desencantado com a sala de aula, cujo sonho é ser
cantor e se lançar saindo do Butão( o pouco conhecido país da Asia Meridional)
rumo a Austrália e de uma hora pra outra se vê transferido para uma pequena
vila a 5.000 metros de altitude , com o
mínimo de moradores , vivendo em condições precárias e com parcos recursos(lá a
energia é solar, horas funciona , horas não). Ugyen irá encontrar uma turma de 9 crianças onde lecionará em
precárias condições… fiquemos aqui para evitar spoilers … se faz necessário que
o impacto das surpresas que despontam em cada cena falem por si … A
simplicidade franciscana deste filme é proporcional à sua riqueza de conteúdo e
abordagens … A impressionante alternativa adotada pelo diretor para,
através de sua história , falar das vida , dos seus reais valores e sentimentos
é de uma poética gigantesca . A atuação dos atores em alguns momentos beira o
documentário, a performance das crianças é a cereja desse bolo de sabor
inigualável …
O diretor e roteirista Pawo Choyning Dorji com mérito não tenta fazer um filme gigante e na simplicidade o faz... A busca incessante que abala a todos nós e as situações inusitadas que nos fazem perseguir sonhos traçam um paralelo com a simplicidade desta história cativante. Lançado em 2019 Lunana: A Yak in the Classroom, filme escrito, dirigido e produzido por ele é a estreia dessa promessa na direção, uma verdadeira pérola. Em 2022, ele deve lançar seu segundo filme: Once Upon a Time in Bhutan… E se minhas previsões se concretizarem, depois de ter seu filme aclamado como melhor filme internacional no Oscar , as portas se abrirão. A fotografia, um capítulo a parte, com locações de beleza singular em contraste com a pobreza do lugar é um dos achados que emoldurada pelo trilha sonora minimalista e pertinente o coroam como um dos grandes filmes do ano. O elenco é outro ponto positivo, Ugven (Sherab Dorji) em sua frieza inicial e transformação ao longo dessa jornada é de uma presença cativante. Talvez possam dizer que a história de crescimento em meio a diversidades já tenha sido contada a exaustão, mas não como aqui... A tática é outra, a economia de demonstrações de afeto e amor (muitas vezes banalizada) é o grande diferencial. Ela é a tônica e por isso mesmo o filme se agiganta, transmite muito com pouco...
Em tempo: Essa é apenas a segunda vez que o Butão submete um representante para disputa de filme internacional, e, se não estiver enganado, com todas as chances de vitória.
Ficha Técnica:
Titulo Original: Lunana: A Yak in the Classroom
Direção e Roteiro: Pawo Choyning Dorji
Elenco: Sherab Dorji, Kelden Lhamo Gurung, Pem Jam, Sonam Tashi Choeden, entre outros
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