sábado, 21 de maio de 2022


 

TOP GUN – MAVERICK

 

Quando teve estreia nos anos oitenta, TOP GUN- ASES INDOMÁVEIS foi um fenômeno cinematográfico. Uma das maiores bilheterias, alçou Tom Cruise ao estrelato, eternizou a canção Take my breath away  de Berlin que faturou todos os prêmios daquele ano, inclusive o Oscar e muitos discos de platina, além de ressuscitar os até então esquecidos desde a 2ª guerra, óculos Ray Bans, modelo aviador, usados por Cruise e que se tornaram febre na época... Um estrondo... Quem viveu naquela década deve guardar boas recordações... Esse projeto passou então a ser a menina dos olhos do Tom Cruise que dirigido por Joseph Kosinski volta agora 30 anos depois. Para evitar spoilers  vou sintetizar. Como rebelde de sempre, Maverick volta agora, não para trabalhar pilotando, sua paixão, mas para formar uma turma para uma difícil missão, sabiamente enfatiza a importância do ser humano frente ao alucinante  avanço da tecnologia. Fica então Maverick entre os antigos conservadores e uma galera jovem beirando os 30 nesta nova missão.  É inegável que o tempo passou para Cruise e de maneira bem generosa, vide sua atuação e os closes que, favorecidos pela luz, nos mostra que o tempo não lhe parece tão cruel... Tomadas em luz quente e natural  favorecem e evitam superexposição, assim como as evitadas cenas de tórax nu, um risco... Mais maduro e mais comedido, Cruise brilha com seu famoso sorriso ao lado da Jennifer Connelly, uma bela e esbelta cinquentona. Com algumas mensagens edificantes da vida e ancorado nas memórias e possíveis acertos de conta, Cruise é quase que um solitário a viver entre extremos e suas recordações... Com belíssimas cenas dos treinamentos e embates aéreos, frise-se que as cenas foram gravadas dentro de aviões de verdade para captarem as sensações dos atores, a produção contou com pilotos profissionais para as impressionantes cenas nos confrontos finais. Com uma equipe de caras praticamente desconhecidas, alguns veteranos dão uma forcinha. Estão lá Ed Harris e Val Kilmer que, há muito sumido em função de tratamento de um câncer na garganta, volta aqui padecendo de algo semelhante, uma homenagem velada e justa, assim como também a dedicação ao Tony Scott diretor do TOP GUN lembrado in memorian ao final. É inegável que muito do primeiro filme foi adaptado para essa continuação, ainda que 30 anos depois... Estão lá as cenas na moto, as fotos que sabiamente substituem os batidos flashbacks e a tentativa, com a canção Hold my Hand (da Lady Gaga) de alcançar, quem sabe o sucesso da Take my breath away, e já de olho no Oscar de 2023. É um filme saudosista e fará aflorar muitas lembranças aos quarentões, com bela fotografia, momentos impactantes e especialmente para se ver no cinema, como frisado por Cruise nas últimas declarações, inclusive na homenagem que recebeu em Cannes, semana passada,  onde o filme foi lançado fora da competição, uma vitrine de luxo para um blockbuster. Cuidadoso e corajoso, na maioria das cenas dispensa os dublês. Piloto de avião na vida real, Cruise(que também é produtor da película) sabiamente exigiu treinamento de vôo para os atores, o que deu mais credibilidades as fantásticas cenas de confrontos nos ares e que hoje em função da tecnologia avançada dão um show e deixam comendo poeira as sequencias de 1986. Aclamado quase por unanimidade pela crítica internacional, TOP GUN desponta como forte candidato a filme de ação do ano.

Ficha Técnica:

Titulo: TOP GUN : MAVERICK

Diretor: Joseph Kosinski

Roteiro: Justin Marks. Eric Singer, Peter Craig, Christopher uarrieMcQ

Elenco: Tom Cruise, Jennifer Connelly, Ed Harris, Val Kilmer, entre outros

Estreia dia 26 de maio, exclusivamente nos cinemas

 

domingo, 15 de maio de 2022


 

O HOMEM DO NORTE
O diretor Robert Eggers mostrou a que veio desde A BRUXA, seu primeiro e elogiado projeto e em seguida O FAROL, outra grande obra, uma experiência em preto e branco de profunda dramaticidade, soberba fotografia e atuações sabiamente elogiadas.
Agora nos traz mais essa pérola, um verdadeiro divisor de águas em sua trajetória, projeto de custo das superproduções O HOMEM DO NORTE é uma obra prima sob inúmeros aspectos. Trabalhando com historiadores e arqueólogos, Eggers conseguiu um feito de extremo valor: A tragédia do príncipe traído pelo tio que lhe tira a vida do pai e rouba-lhe o trono e a mãe é de uma densidade e verdade soberba. Determinado o garoto jura vingança pela morte do pai, promete resgate da mãe e morte ao tio. Baseado na tragédia nórdica que inspirou Shakespeare para seu Hamlet, Eggers nos brinda com um FILMAÇO, coroando a trilogia de sua carreira com uma obra que, desde já, é um clássico. Obra de violência extrema , ainda que comedidamente coreografada, não nos pouca de cabeças decepadas, vísceras expostas e sangue, muito sangue. Longe de mais uma daquelas películas sensacionalistas e apeladamente sanguinárias, O HOMEM DO NORTE é muito mais que isso, é uma narrativa genuinamente nórdica, onde o universo ali construído é de um cuidadoso aparato técnico e histórico. Diretor perfeccionista e assumidamente cirúrgico, Eggers controla e se esmera em cada detalhe. Cada espada, cada acessório é construído a risca obedecendo suas reais características com raro primor. Com um roteiro enxuto e dinâmico, uma fotografia de tirar fôlego, elenco de primeiríssima linha e trilha sonora arrebatadora, O HOMEM DO NORTE consegue ser um filme perturbador, dá voz a mulher, fala da violência, do esporte e, ainda que seu mote seja a atormentada vida de um homem movido pelo desejo de vingança consegue encontrar espaço para falar de encontro, amor e, sobretudo redenção. A história é forte e, longe de ser mero entretenimento, ainda que de extrema violência, característica inegável da época, é de uma beleza pouco vista. Há cenas de viés alucinógeno, bruxaria, uma viagem de rara beleza no inconsciente, nas trilhas da imaginação. Há tomadas de cair o queixo!
Alexander Skarsgard (A Lenda de Tarzan) é um monstro em cena, compõe um Amleth com maestria. A vida atormentada do homem desprovido de afeto e movido pela sede vingança é de uma visceralidade eminentemente singular. Sua conexão estabelecida no encontro com Anya Taylor-Joy(Cambito da Rainha e A Bruxa) é de uma sintonia imediata e, em meio a toda selvageria resgata o sentimento e afetuosidade que apenas nutria pelo pai, morto a sua frente. Nicole Kidman (faz Gudrún, a rainha mãe) dá um show, há cenas que consegue roubar a atenção com frases simples e cortantes, fruto de uma direção pontual e certeira. Sua presença é imponentemente marcante.
Como se não bastasse a rotina violenta, o diretor ainda encontra tempo para o misticismo e uma boa dose de viagem, imaginária, numa espécie de sensação alucinógena que produz imagens de rara beleza fazendo equilíbrio com a violenta selvageria dos confrontos tão comuns à época. Bjork faz uma pequena, mas intensa participação ostentando um figurino carregado de simbologia, coisa que só os cuidadosos e grandes diretores são capazes de imaginar e conceber. As cenas no mar são de uma angustia e uma melancolia que nos levam ao extremo do desconforto, as tomadas no escuro, a lama, a paleta de cores acinzentada dão um toque de tensão necessários a narrativa. Um misto, portanto, de selvageria, misticismo e bruxaria num caldeirão que só se mostra equilibrado em mão competentes e talentosas como as do diretor. Um filme grande para se ver em tela grande, com som poderoso e atenção redobrada. Impossível se sair da sala sem um certo desconforto, mas como uma sensação de deslumbramento e de questionamentos diversos... Quando a violência, a selvageria e até mesmo a superexposição das agruras nos invade os mistérios da alma, a sensação que nos fica em meio ao cansaço é de êxtase e questionamento. A experiência sensorial que o filme nos provoca é de uma necessidade extrema, é o cinema que volta a seu propósito inicial que é instigar, fazer pensar, refletir e não apenas entreter... Temos ai um grande e talentoso diretor que desponta com três grandes obras de equilibrado e reconhecido valor, o que não é pouco em meio a falta de personalidade e viés autoral da maioria dos diretores da atualidade muito mais preocupados com retorno financeiro que com obra de fato, capaz de, avassaladoramente nos tomar e nos fazer abstrair e viajar nas duas horas que passam quase que despercebidas... Mérito para poucos.
Em cartaz nos cinemas.
Ficha Técnica:
Título Original: The Northman
Duração: 137 minutos
Ano produção: 2021
Distribuidora: Universal Pictures
Direção: Robert Eggers
Elenco: Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Ethan Hawke, Anya Taylor-Joy, Gustav Lindh, Willem Dafoe
Classificação: 18 anos


 

O PESO DO TALENTO

Com aproximadamente 40 anos de carreira, diga-se de passagem, inconstante e com algumas pérolas (e outras nem tanto assim) e outros trabalhos que beiram o medíocre, eis que nos chega agora, numa espécie de tentativa de redenção, uma caricatura de si mesmo, onde nem mesmo piadas de cunho duvidosos são poupadas. O PESO DO TALENTO, seu centésimo filme,  que, a julgar pelas prerrogativas, prá ele (Cage), deve ter pesado pra burro. Encarando o ator em descida vertiginosa na carreira, Cage faz paródia de  si mesmo e nos dá um filme dentro do filme. Para equilibrar as contas, que a essa altura já estão descontroladas...  Com um roteiro previsível, o filme narra a peregrinação do ator que, com a carreira em baixa, é sumariamente posto na geladeira... E eis que em meio a esse sufoco uma proposta milionária lhe é apresentada: participar de aniversário de milionário em troca de uma fábula em dólares... Era tudo que precisava, não se faz de rogado e aceita de pronto... Partindo desse mote vemos a seguir um a série de situações inusitadas e uma tentativa de movimentar e propor uma ação em meio ao roteiro morno e sem graça de ate então, salvo aqueles que efetivamente acompanharam a carreira e decodifiquem as citações . Várias são as referências e citações que fazem alusão a atormentada carreira do ator. Está lá o recorte da relação com a filha, enquanto pai ausente, o que acaba se tornando uma espécie de paródia. Neste meio tempo. O roteiro ainda nos traz cenas onde o Cage contracena consigo mesmo mais jovem, mostrando a garra e a determinação, agora apenas lembrança de um passado nebuloso. Talvez ai uma saída para o riso fácil e sedimentação da paródia de si mesmo. A essa altura a festa do citado aniversário já ganha áreas de filme de ação com direito a tiros, perseguições e muita adrenalina, ainda que forçada e meio fora do contexto proposto. Enfim Nick Cage sendo Nicolas Cage, numa franca caricatura de si mesmo. Para um ator que recusou papeis em grandes filmes, a exemplo de O SENHOR DOS ANÉIS para citar apenas um, deve ser meio frustrante ponderar a respeito do patamar que poderia estar em aceitando as recusadas propostas. Com um currículo considerável nestes 40 anos de carreira, dentre os quais o elogiado pela crítica e pelo público e que lhe rendeu um Oscar, DESPEDIDA EM LAS VEGAS, cinco casamentos, e muitas dividas(agora quitadas) Cage hoje encontra-se mais recluso, talvez essa investida esconda uma sutil tentativa de voltar aos holofotes... Recentemente fez PIG, (onde o personagem, que nas palavras de Cage chega bem próximo de si mesmo na vida real) que ensaiou o participação em algumas premiações mas acabou por nadar e morrer na praia. Hoje, livre das dívidas, e consciente dos bons trabalhos que realizou, assim como também  dos dispensáveis, está mais consciente, mas não se diz arrependido. Quem sabe uma volta em grande estilo não está sendo orquestrada?  Enfim, O PESO não chega a pesar tanto e se coloca como uma opção mediana de entretenimento, principalmente para os fãs que vão se deliciar com as referências aos trabalhos de Cage, sendo eles ou não o suprasumo de uma carreira inconstante, ou simplesmente uma saída para equilibrar as finanças...   

Ficha Técnica:

Título: O PESO DO TALENTO

Direção: Tom Gormican

Elenco: Nicolas Cage, Pedro Pascal, Tiffany Haddish, Sharon Horgan, Paco León, Neil Patrick Harris