sexta-feira, 30 de setembro de 2016


DICAS INFALÍVEIS DO FIM DE SEMANA
(29.09  a 05.10.2016)








AQUARIUS


Me arrebatou desde a primeira cena... Segundo longa do Kleber Mendonça FIlho, é uma pequena obra prima.... Concebido para Sonia Braga brilhar como protagonista, é de uma sensibilidade e uma humanidade, sem precedentes... Decididamente longo, para os padrões nacionais, em nenhum momento cansa, ou mostra sinais de cenas desnecessárias, tudo que esta lá tem um sentido,um objetivo, uma explicação... Através da história de Clara, que resiste a uma proposta milionária que recebe para sair do prédio onde passou boa parte da vida, criou os filhos e construiu sua história, traça um paralelo da situação sócio-politica do país, bem como traça um perfil da perda de valores, das coisas belas da vida e dos reais valores que constituem um caráter. O filme é lento na seu primeiro terço, mas dispara rumo a um crescendo que me deixou sem fôlego... A afinidade que senti nos valores que ele prega e questiona me fez mergulhar neste universo imaginário e sofrer junto a protagonista, numa espécie de catarse, uma revolta inconsciente, uma forma simples, talvez banal, mas não menos visceral e vibrante que nos mostra o quanto sensíveis ainda somos frente as adversidades, o poder econômico, a vaidade e porque não, a desumanização. Sonia Braga está um esplendor, poucas vezes foi vista tão bem, tão contida, tão serena, tão bela, tão convincente, íntegra, real, ao abraçar um papel... Como é bonito vê-la como que desabrochasse para a vida, em meio a um manancial de emoções, fruto da longa vivência, e apesar do longo tempo afastada das telas, essa junção, este turbilhão de sensações a faz monstra na telona e ao mesmo tempo frágil, singela, de uma humildade sem precedentes. Abandona a vaidade, que sempre lhe foi peculiar e nos presenteia com uma Sonia, íntegra na sua longeva beleza, no pulsar de sua alma jovem e encantadora... 
Enfim, um filme perturbador, gigante no conteúdo, paciente e calmo nas mensagens e sobretudo, instigante e necessariamente obrigatório em tempos tão velozes, desprovidos dos verdadeiros valores e de grandes e necessárias emoções...