sexta-feira, 29 de março de 2019




UM ATO DE ESPERANÇA ...

É um daqueles filmes que nos fazem crer que ainda existe inteligência no cinema... O filme de temáticas urgentes, roteiro enxuto, inteligente e criativo, e atuações impecáveis, destacando que Emma Thompson, aqui incorrigível e maravilhosa, está em seu melhor momento ... Produção de 2017(não entendo esse atraso de lançamento aqui ) baseada na obra do Ian McEwan, A BALADA DE ADAM HENRY, que assina o roteiro, nos fala da atribulada vida de uma juíza que vive para o trabalho, em meio à crise no casamento e a grandes questionamentos sobre si mesma ... Tudo começa a mudar quando o caso do jovem testemunha de Jeová que se recusa a aceitar a transfusão de sangue que o livraria das complicações com um câncer ... Depois do caso lhe cair nas mãos e de sua sentença, a vida não lhe será mais a mesma ... A fotógrafos nos dá um clima de uma luz extraordinária, tudo muito clean e em tons de branco a cinza, a exceção do figurino de Emma que por vezes sai do tom para lhe destacar com sabedoria, um achado já que o pretinho básico domina sua labuta diária ... Acostumada a julgar casos relativamente banais e de decisões simplórias, o dilema do jovem lhe abala as estruturas, põe em xeque alguns valores e muda completamente sua vida... Não cabe aqui falar mais da história, que com o elenco redondo e super talentoso nos brinda com momentos espetaculares, e isso vai de sua relação com o marido ( um Stanley Tucci inspirado ) a relação com seu auxiliar (seus silêncios e olhares são um achado ...) passando pelas poucas e marcantes cenas com Adam (Fionn Whitehead, com dramaticidade, manipulação e ingenuidade nas medidas certas)... Embalado por uma bela e inspirado trilha assinada por Stephen Warbeck, a película nos brinda seus 106 minutos com pérolas em citações, poesia e questionamentos urgentes e necessários sem em momento algum deslizar nos clichês tão comuns que filmes menores não conseguem escapar. É uma daquelas produções que ao término não temos como evitar o impacto e a permanência na sala a pensar seus desdobramentos ... Um filme adulto... 
Nao aqui como não associar atuação de Emma a da Glenn no mediano A ESPOSA, cuja atuação lhe lega todos os méritos...

quarta-feira, 20 de março de 2019




A CINCO PASSOS DE VOCÊ

A primeira vista, a sensação que se tem é do eterno vale a pena ver de novo... A velha história do romance que brota numa situação extrema com o casal de protagonista bonitinho e a excessiva dose de açúcar... A CINCO passa um pouco longe disso e apesar de pecar em alguns momentos(os inevitáveis clichês estão lá) consegue estar um pouco acima da média da enxurrada de romances baratos que inundam as telas com histórias melosas e protagonistas nem sempre de química apropriada...

Aqui jovem sofre de doença incurável (fibrose cística) vivendo reclusa das convivência entre seus pares num hospital em tratamento constante a espera de um pulmão que lhe dê alguns anos de sobrevida... Lá conhece o garoto que lhe mudara a vida, mas igualmente doente... Novidade? Nenhuma ... No entanto, mesmo em meio a todo esse clima e clichês, A CINCO... consegue ser um bom filme, nos emociona, nos faz pensar e até mesmo chorar... E muito de seu mérito creditamos a protagonista Lu Richardson (Fragmentado) que aqui com excepcional carisma nos brinda com um personagem bem construído e verdadeiro... São suas as melhores cenas e indiscutivelmente seu humor e seu senso prático e predominantemente organizacional supera de longe a atuação de seu partner Cole Sprouse, que não convence muito nas cenas dramáticas e fundamentais do filme, mas ainda assim estabelece uma química espetacular...

Com diálogos afiados e inspiradores, o roteiro é bem construído e a direção certeira de Justin Baldoni dribla com maestria os lugares comuns, ainda que dando certas derrapadas, nos já referidos clichês, nos brindando com uma bela e tocante história de amor, e sobretudo de vida, afinal a fibrose é uma doença rara e pouco falada, e apropriar-se dela para falar da finitude enquanto jovem, é desde já um tema complexo e por demais dramático... Stella(Richardson) não faz a coitadinha condenada, melosa e frágil, ao contrário disso, é bem humorada, forte, determinada e nos oferece as melhores e mais bem humoradas cenas, principalmente ao lado do amigo Poe (Moises Arias), que bate uma bola certeira e protagoniza importantes e tocantes momentos do filme... Desnecessário aqui falar mais da história, frisando apenas que os cinco passos do título é a distância mínima que os protagonistas devem manter um do outro(sem se tocarem) para sobreviverem sem se infectarem... O filme começa com a citação: "Precisamos ser tocados por quem amamos quase como precisamos do ar para respirar.” E a partir dela sutilmente nos vai lembrando do quanto esta citação tem importância e presença marcante em nossas vidas...

Devo acrescentar que me foi uma grata surpresa, inclusive uma versão para My Baby just care for you, imortalizada pela Nina Simone, numa versão bela e singela, mas que pra minha surpresa não consta na trilha, assim como outros temas instrumentais de bela inspiração... Um filme para se divertir e para pensar...

Ficha Técnica:

Elenco:

Ariana Guerra, Armando Leduc, Cecilia Leal, Claire Forlani, Cole Sprouse, Cynthia Evans, Emily Baldoni, Gary Weeks, Haley Lu Richardson, Ivy Dubreuil, Jim Gleason, Kimberly Hebert Gregory, Moises Arias, Parminder Nagra, Phillip Mullings Jr., Rebecca Chulew, Sophia Bernard, Sue-Lynn Ansari, Todd Terry, Trina LaFargue

Roteiro: Mikki Daughtry, Tobias Iaconis

Produção: Cathy Schulman, Justin Baldoni

Fotografia: Frank G. DeMarco

Estúdio: CBS Films, Wayfarer Entertainmen

Montador: Angela M. Catanzaro

Distribuidora: Paris Filmes