terça-feira, 27 de fevereiro de 2024


 

 

DUNA – Parte 2

 

Desde os tempos mais remotos que as grandes obras tem por grande premissa uma vingança, a vaidade, a sede de poder, a superioridade... Desde o mais adocicado romance ou a mais insensível ficção... A história de DUNA vem da primeira versão equivocada para muitos de 1984, com direção de David Lynch, passando pelo pela parte um em 2021 e a  deslumbrante segunda parte agora em 2024, ambas dirigidas com louvor por Denis Villeneuve, o cineasta franco-canadense que já nos brindou com Um Homem Duplicado, Incêndios e o aclamado Blade Runner 2049, para ficar em alguns de seus maiores êxitos... Confesso que um dos grandes filmes da minha vida é Blade Runner, o que me deixou em expectativa ao esperar a versão do Villeneuve, e por coincidência, a narrativa que me fez colocá-lo no altar de meus cultuados diretores. Depois da decisão do estúdio em postergar o lançamento, DUNA Parte 2 previsto para ser lançado anteriormente em novembro, onde se firmaria como um dos grandes lançamentos de fim de ano, baseado num dos grandes e queridos clássicos de ficção, nos chega agora... E como valeu  espertar!!!! A continuação da primeira parte de 2021 nos traz a busca de Paul Atreides pela vingança contra os conspiradores que destruíram sua família, Antevendo uma guerra santa em seu nome, mergulha numa jornada espiritual e mística com boa dose marcial, onde até mesmo o amor de sua vida é posto em xeque... Neste universo as questões familiares são o grande mote deste roteiro bem construído e conduzido. Apoiado num elenco de primeira, um roteiro exemplar e uma trilha sonora que somada a fotografia são o grande destaque da narrativa, Villeneuve nos presenteia com um dos melhores filmes de todos os tempos... Esqueça a primeira parte, esse DUNA 2 é infinitamente maior e melhor... O apuro técnico e estético do diretor já ficou patente em grandes produções, a exemplo de Blade Rumnner 2049, pois ele aqui consegue superar e alcançar mais excelência e primor... A montagem é um espetáculo a parte, a trilha sonora Hans Zimmer, figurinha carimbada, um gênio, autor de grandes e expressivas trilhas, inclusive já disponível nas plataformas digitais desde o último dia 23. Com suas duas horas e quarenta e seis minutos, seus últimos dois terços são tão eletrizantes que em nada compromete o tom meio lento e didático dos seus minutos iniciais... As atuações são outo aspecto a se ressaltar. Timothee Chalamet nos dá aqui uma de suas melhores atuações mostrando progressivo amadurecimento, fato que vem senso notado na sequência de suas últimas atuações...  Sua companheira de cena Zendaya também não fica devendo, tem atuação brilhante e impactante num bate bola muito bacana. O trabalho do Villeneuve é impecável, desde a direção dos atores as grandes sequencias de batalhas seu apurado cuidado com os detalhes, os elementos de cena e, principalmente o rico e criativo figurino são outros grandes méritos do filme. Outro grande quesito a ser considerado é o som. Assistir DUNA numa sala IMAX é uma experiência singular, uma imersão na tela pouco vista... Uma acertada sacada para envolver e encantar cada espectador ao extremo. Impossível desviar a atenção nestas quase três horas de puro encantamento, que, diga-se de passagem, acontece num cenário inóspito, certamente em mãos menos talentosas sucumbiriam ao tédio em poucos minutos.

Aclamado desde já como obra prima, inclusive desbancando ficções como Stars Wars, 2001, Alien, Matrix, entre outros, DUNA 2 chegou e já se firmou como queridinho da crítica especializada, inclusive obtendo 97% no Rotten Tomatoes, site que se tornou principal referência na avaliação crítica de obras audiovisuais utilizando um sistema de pontuação que compila avaliações de críticos profissionais, o que não é pouca coisa para uma produção que acaba de estrear. VILLENEUVE nos mostra aqui que filmes feitos para serem blockbusters, ou na melhor das hipóteses, entretenimento, quando bem elaborados podem ser artísticos, assim como também possuírem conteúdo com assuntos pertinentes e necessários para o público a que se destina, como fez com essa obra inigualável de viés artístico singular.

Nos cinemas a partir de quinta!

Ficha Técnica:

Titulo: DUNA Parte 2

Direção: Denis Villeneuve

Roteiro: Denis Villeneuve e Jon Spaihts

Elenco: Timothé Chalamet, Zendaya, Rebecca Fergunson, Christopher Walken , Charlotte Rampling, Austin Butler, entre outros

Trilha sonora: Hans Zimmer

 

sábado, 24 de fevereiro de 2024


 

DIAS PERFEITOS

 

Hirayama (vivido com excelência por Koji Yakusho) é um homem comum, trabalha limpando sanitários em Tokyo. Sua rotina é simples e repetitiva.... Acorda no pequeno espaço em que reside, onde o banheiro é quase extensão da cozinha, o quarto, um pequeno espaço onde ele divide sua cama com livros, fitas cassetes e dvds... Sim, Hirayama ouve fitas cassetes no carro, cujo repertório é um primor... Amante da fotografia, usa equipamento simples e analógico e registra pequenos detalhes de seu dia... céu, árvores, folhas... o que lhe chama atenção... Seu trabalho nos banheiros públicos é de um primor pouco visto... O cuidado e a delicadeza com que ele mexe com pias, vasos sanitários entre outros equipamentos remete a tratamento dispensado a pequenas pérolas ou objetos por quem nutrimos grande apreço... É um homem feliz! Sua rotina é repetida à exaustão, suas idas a mercearia/bar onde toma café é uma espécie de peça teatral onde o texto único e fiel é repetido a cada passada diária, a cada sentada e a cada gole.... É um filme extremamente carregado de silêncios, onde quase não ouvimos a voz de seu protagonista... suas posturas, seus gestos e suas expressões nos falam mais que qualquer palavra por ele proferida. Neste DIAS PERFEITOS, Wim Wenders atinge um ápice de delicadeza e apreço pelas coisas pequenas, miúdas, fragmentos do dia a dia que talvez na agonia e volatilidade que vivemos não nos damos conta... Amante da leitura, Hirayama cumpre um ritual de leitura diário, cujos livros são adquiridos num sebo a 1 dólar.... Nada se sabe da vida deste homem, nada de excepcional acontece nos seus 123 minutos além da aula de contemplação e de calma, muita calma no conduzir os dias...  Wenders é mestre na narrativa contemplativa, e particularmente neste, onde munido de um grande ator, uma premissa que beira o vulgar e assumidamente desprezível, os banheiros públicos, construiu uma narrativa (a princípio seria um documentário) de raro valor.... Com um trabalho fantástico de fotografia, onde a grande sacada foi a captação dessa rotina que se repete, sob vários ângulos, luz e enquadramento, o filme é uma pequena pérola, cuja embalagem, a trilha sonora é mais um detalhe de apurada escolha e valor singular... Falar de fita cassete em plena era do Spotify soa ultrapassado, mas aqui ganha contornos saudosistas e poéticos... Os registros fotográficos que Hirayama coleciona e se dedica a captar é outro grande achado... Sua retrospectiva diária é de uma riqueza de imagens em meio a uma trilha lenta e edificante pouco vista... O filme é Koji Yakusho, o ator tem 100% de presença em tela, não atoa foi premiado em Cannes como melhor ator, prêmio mais que justo... A cena final é de um lirismo sem fim... Isso sem falar na trilha que o embala ... Um final de luxo, para um filma tão luxuoso quanto... Esnobado nas premiações, talvez pela distribuição, DIAS entra em cartaz agora timidamente e praticamente em cinemas de arte... Vale uma conferida atenta. É um presente as almas sensíveis, de raro valor!!!

Em cartaz nos cinemas a partir de 22 de fevereiro

Ficha Técnica:

Título: DIAS PERFEITOS

Direção: Wim Wenders

Roteiro: Wim Wenders e Takuma Takasaki

Elenco: Kōji Yakusho, Tokio Emoto

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024


 

O MENINO E A GARÇA

 

O grande diretor japonês, fundador do studio Ghibli, do alto dos seus 83 anos anunciou aposentadoria, mas nos brinda agora com o primor que é a animação que é O MENINO E A GARÇA, animação vencedora do Globo de Oura e favorita ao Oscar..  O histórico do Hayao Miyazaki, que já nos deu  as pérolas: A Viagem de Chihiro e Meu amigo Totoro é de grandes e poéticos trabalhos, cujo traço e pessoalidades marcantes e diferenciadas, encantam adultos e crianças... Com esse novo trabalho não é diferente, inspirado no livro Como Vocês Vivem, as vezes temos a impressão que de fato, se trata de uma despedida, um aceno numa história com fortes traços biográficos, e como de hábito, muitas das percepções que já viu e viveu... A saga do garotinho e Garça que é uma leitura do amadurecimento sem deixar de lado a questão da relação homem/natureza é de uma poética singular  e de um discurso velado, pertinente e necessário...  A história que se inicia durante a segunda guerra mundial, quando o garotinho perde a mãe, a história narra o encontro com a garça e a busca (promessa da garça) pelo reencontro com mãe... E ai a fantasia corre solta com personagens e situações inusitadas... É uma animação relativamente longa (para os padrões da crianças e em tempos velozes), mas cumpre a premissa contemplativa e bela.  O traço é um espetáculo a parte, como sempre, com imagens de impacto. Cenários deslumbrantes emoldurados por trilha sonora arrebatadora. Falar muito dos méritos dessa maravilha é tirar um pouco do mérito que é com ela se surpreender.... Uma viagem que pais e filhos com certeza farão e se deslumbrarão!

Em cartaz nos cinemas

Ficha Técnica:

Título: O Menino e a Garça

Direção : Hayao Miyazaki

Gênero: Animação