segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024


BOB MARLEY : ONE LOVE

 

BOB MARLEY: One Love é um daqueles filmes que nos tocam fundo. E tocar fundo é um dos méritos, ainda que não sejamos fãs de carteirinha ou admiradores de sua obra e trajetória … Optando por um roteiro enxuto com direito a flashback na medida certa e pontuando situações que lhe foram muito caras ou lhe legaram marcas profundas, com sensibilidade e poesia nos mostram os percalços e as glórias que nortearam uma vida de perdas, dúvidas e sobretudo busca de identidade e lugar no mundo, isso tudo focando ne década de 80, três ou quatro anos em meio ao recurso do flashback (o tom quente e estourado repetido à exaustão poderia ser evitado ou na pior das hipóteses reduzido...) … Logo no início uma frase o define e ao mesmo tempo o apequena, quando lhe rotula como “humilde”… partindo do princípio equivocado que humildade se limita a parcos recursos, a citação o faz menor do que o gigante que ele foi … Além de pobre (de recursos materiais ) era sim, um sujeito humilde … e aí reside sua grandeza … Pontuado por canções e a relação conflituosa com a Rita, sua esposa e companheira de vida e palco, vemos um Bob em conflito e sempre contrito e questionador … Sua preocupação com o mundo e em especial com a missão de selar a paz na Jamaica são pontos cruciais do filme (seu  sonho era o grande show na Jamaica) … Estão lá as grandes turnês, a relação amistosa e fraterna com os produtores, a criação e concepção de Exodus, o álbum emblematico e a sutil resistência a se portar como  produto a ser consumido e rezar na cartilha do conveniente  marketing que vende. Uma lição.
É um incógnita sua relação com a Rita … parceiros de rara sintonia, não vemos no entanto um homem apaixonado … não há um só momento de verdadeiro e arrebatador romantismo … Momentos de impasses, dor e principalmente de muito conflito… Rita sempre lá ao seu lado … Bonita sua relação com os filhos, seu amor pelo futebol … há inclusive uma citação muito bem humorada envolvendo o Pelé … lembro que esteve no Brasil e participou dos famosos  jogos com o Chico (Buarque ). A direção é acertada, apesar de acelerada (é tudo muito rápido e pincelado, não há tempo de maior aprofundamento) e firme contando com um elenco espetacular, a começar pelo que nos brinda com um Bob bem construído e empático … Uma verdadeira encarnação, vide seu gestual. Suas cenas nos palcos são impressionantes … fez o dever de casa com afinco. Ator de grandes recursos, beleza de rara e cativante aura,   Kingsley Bem Adir é um dos achados do filme que, além de bela fotografia e montagem exemplar ainda equilibra com sabedoria a narrativa com as várias inserções musicais sem cair no óbvio ou na fórmula fácil … cada canção tem seu momento fazendo um link direto com as situações vividas e momentos em que foram criadas … Não há necessidade de ser profundo conhecedor de sua vida e sua obra, nem tão pouco ser amante do reggae  para embarcar com facilidade na viagem de um ser de brilho único que nos deixou tão prematuramente …  Uma tendência recente (vide as últimas cinebiografias) é a velha tendência a pender por ser uma narrativa chapa preta ou chapa branca, como deve ser esse caso, uma vez produzida pelos familiares de Bob, Rita sua esposa e Ziggy o filho, fatalmente a narrativa fica à mercê de uma certa tendência a amenizar situações não tão aprazíveis... A construção do Bob da tela, vivido pelo Kingsley  é de um carisma espetacular, uma beleza que contagia o que de certa forma bate de frente com um Bob real não tão carismático assim, fato que fica comprovado com as cenas reais que vemos ao final. Os mais atentos perceberão uma diferença gritante... O que não invalida o trabalho do filme enquanto tributo, afinal sua obra, sua trajetória e sua visão de mundo estão lá, bem impressos e bem articulados, seja a narrativa chapa branca ou não... vale adentrar no universo desse ser de luz, Robert Nesta Marley OM, mais conhecido como Bob Marley, que tanto pregou o amor, a paz e a união … sem demagogia fez da música sua vida … e, ainda que curta, nos deixou um legado espetacular de rara e brilhante musicalidade…

Em cartaz nos cinemas em pré-estreia.

Ficha Técnica:

Titulo: BOB MARLEY: One Love

Direção: Reinaldo Marcus Green

Roteiro: Frank E. Flowers  Terence Winter

Elenco: Kingsley Ben Adir, Jesse Cilio, Lashana Lynch, entre outros

 

 

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