quarta-feira, 11 de janeiro de 2023


 

THE FABELMANS

Nos primeiros minutos da película temos um papo meio didático e até mesmo rico em muita informação para a cabecinha de uma criança, no caso aqui Sam (alter ego de Spielberg) vivido com maestria pelo talentoso Gabriel LaBelle,  (debutando nas salas de cinema, o filme em questão : O Maior Espetáculo da Terra, de Cecil B. De Mille) mas isso se esse garoto não fosse o futuro gênio do cinema, maestro de emoções, eterna alma de criança que nos brindou em suas várias fases, com verdadeiras obras primas que vão de TUBARÃO, passando por A COR PÚRPURA(um clássico) , A LISTA DE SCHINDLER só para ficar em alguns... Só mesmo a maestria de um gênio para numa mesma película fazer uma homenagem de alto calibre ao cinema, fazer acertos de conta familiares, ao mesmo tempo que os presta tributo, uma verdadeira declaração de amor, falar de traição,  antissemitismo, primeiro amor, tudo isso numa tacado só, sem ser piegas, dramático ou excessivamente caricato... A narrativa que se inicia com a primeira sessão de cinema do Sam e chega ao final nos estúdios de cinema é de uma poesia e beleza que só mesmo a experiência e a  sensibilidade do Spielberg poderia ser capaz de orquestrar. O garoto que fez da câmera sua companhia e com ela passou a registrar a família e eventos na escola pulando em seguida para a genialidade onde produzia seus próprios filmes com parcos recursos e uma dose fenomenal de talento e criatividade homenageado grandes mestres... Estão lá para os mais observadores pistas e pequenos detalhes que remetem a sua cinematografia, um apanhado de situações que, misturadas a realidade ora vivida nos encanta e arrebata, num universo familiar onde até a traição da mãe com o melhor amigo do pai, (o tio Benny, que como frisado, era tio sem ser da família) é sensivelmente descoberta numa destas inocentes gravações num daqueles bucólicos fins de semana. A deixa para essa situação é dada desde o início, ficando a dúvida pairando no ar até a sequência do inocente flagra e a melancólica cumplicidade que se sucede entre mãe e filho, quando este  confessa a descoberta sem uma palavra sequer, até a separação de fato. Mestre nas emoções, a cena da revelação para a mãe é uma das mais fortes e belas do filme. Filho de pai igualmente talentoso Sam cresceu em meio a três irmãs, uma mãe meio frustrada obrigada a deixar a arte (tocava piano) para cuidar dos filhos, um pai doce, presente e amoroso e por vezes auto-sabotador e uma avó ranzinza e autoritária... Sofre bullying na escola por ser judeu, encontra seu primeiro amor e acaba por se tornar admirado e querido, ainda que transitando fora da caixa da turminha da escola. E não pense que toda essa carga de descobertas e emoções torna a narrativa pesada ou dramática, passando ao largo desse risco, Spielberg consegue com leveza, muito humor e muita criatividade fazer uma espécie de prestação de contas em meio a homenagens, recados sutis e, principalmente uma aula magistral de como a vida pode e deve ser a maior escola para um grande cineasta. Com um elenco escolhido a dedo, estão lá Michelle Willams que as vezes pode parecer até caricata, mas nos brinda com momentos inesquecíveis que só uma atriz de seu calibre poderia ousar, Paul Dano como o patriarca em uma das melhores, senão a melhor atuação... num misto de doçura e inocência que  estabelece uma cumplicidade e uma sintonia com Gabriel LaBelle(Sam/Spielberg) que é de longe o maior achado do filme... Seus trejeitos, sua postura e principalmente seu olhar é algo determinante para o sucesso de uma arriscada empreitada que poderia soar piegas ou caricata... Impossível não ver nele um Spielberg sensível e sonhador, até mesmo nos momentos mais duros e realistas de um mundo cruel. A reconstituição de época emoldurada pela trilha sonora sempre eficaz de John Williams sempre inspirador e velho parceiro de projetos, tudo isso orquestrado por um roteiro inspirado do Tony Kushner que entre outros já nos brindou com Angels in América e Munique. Impossível não se render ao talento e genialidade desse grande diretor. Spielberg ainda se dá ao luxo de uma grande e derradeira homenagem nos minutos finais (sem spoiler). OS FABELMANS é antes de tudo uma espécie de fábula, cujo conteúdo inspirado numa realidade nos faz viajar nos valores que regem as verdadeiras relações, os sentimentos que as norteiam e, sobretudo a importância dos sonhos e a persistência para realiza-los.

Estréia nos cinemas em 12.01.2023

Ficha Técnica:

Título: THE FABELMANS

Direção: Steven Spielberg

Roteiro:  Tony Kushner

Elenco: Michelle Willams, Gabriel LaBelle, Paul Dano, entre outros

Música: John Williams

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