quinta-feira, 12 de outubro de 2023


 

MEU NOME É GAL

A expectativa que pairava sobre a estreia do filme era grande.... Após a trágica e prematura partida de Gal, elevou sua potência... Gal se foi sem ver o corte final do filme.... Segundo declarações da diretora, Gal teria escolhido-a para a tal empreitada quando após o documentário andavam a ronda-la, muito se falava e especulava na realização deste projeto, inclusive já havia a referida série documental (O Nome dela é Gal), até pouco tempo, a disposição na HBO, com direção de Dandara.   Pois bem, o filme chegou, e como todo bom acerto, foi lançado em terras baianas, num antológico cinema com um recorde público.... Deu tudo certo... contando com um elenco, onde a Sophie Charlotte protagoniza com louvor, o filme tem seus erros e acertos e no todo firma-se como uma boa produção. Os problemas de uma empreitada como essa não são poucos e nem pequenos.... Traçar o perfil da VOZ na música popular brasileira e as pessoas que gravitavam em sua volta, todos praticamente ainda entre nós poderia incorrer num risco, inclusive com sérios danos a condução verdadeira da história...Dandara soube contornar esses percalços...  Fugindo dessa armadilha optou por fazer um recorte, nos brindando apenas com uma fase na carreira de Gal, período em que sai de Salvador pro Rio e desponta como revelação, tudo isso passando por um período negro da política brasileira, a ditadura que, a atinge em cheio quando Caetano e Gil são obrigados a deixarem o país, uma porrada na vida de Gal que talvez a despertou para sua importância enquanto participante, ainda que, timidamente a princípio, de um dos movimentos musicais mais emblemáticos que o país já teve, o Tropicalismo. A ação do filme inicia-se na década de 60, outro desafio para a direção; afinal reconstituição de época é trabalho de acurado saber artístico e de elevado custo, em se tratando de uma produção que não disponha de grande orçamento torna-se um problema que, sem determinada experiência explode na tela no corte final... E MEU NOME... não foge a essa regra, apresentando um ou outro problema aqui e ali perceptível aos olhares mais atentos. O que vemos na tela é uma Gal meio atormentada, introspectiva, criada com total ausência do pai, uma mãe zelosa, mas não menos invasiva que de repente se vê no Rio de Janeiro em meio a um grupo politizado, atuante e sobretudo que buscava uma liberdade intelectual e sexual, um choque para seus padrões. A construção do personagem em nuances sutis e equilibradas em mãos da talentosa Sophie Charlotte cai como a luva, que nos oferece uma atuação contida e equilibrada longe de qualquer maneirismo ou caricaturesco, além, é claro, de cantar. Sim, Charlotte se deu ao luxo, sem riscos, de interpretar algumas canções, e, em mais um acerto não divulgando em quais cenas, envolvendo o cinéfilo mais atento na busca por quais momentos são frutos de dublagens em meio a outros onde a voz da Gal impera. Outro ator a roubar a cena: Luis Lobianco no papel do produtor Guilherme Araújo, figura de extrema importância na trajetória de Gal, inclusive foi dele a ideia do nome artístico... Aqui Lobianco acaba sendo um pouco Lobianco, quem viu Vai na Fé ira entender a afirmação e constatar as características inerentes a ambos os personagens que, nos dois casos são o respiro, o toque equilibradamente cômico. Os acertos são maiores que os erros .... Há uma grande quantidade de cenas documentais do momento político que o pais atravessava, necessário, no entanto acaba por diluir um pouco a força da narrativa... O filme nos deixa com gostinho de querer mais de Gal, principalmente quando seu segundo corte, após o óbito da Gal, algumas cenas dela foram inseridas e nos sãos mostrados numa justa homenagem. Muito da trajetória da Gal é mostrado aqui sintetizados em um único personagem, outras cenas, quase didáticas são apresentadas para expor/explicar alguns traços de sua personalidade, o que pode causar um pouco de confusão ao espectador, no mais é um filme regular feito com muito apreço e melhores intenções, uma espécie de tributo a esse monstro da música popular brasileira de nome tão minúsculo, e por isso mesmo, gigante  : GAL.

Em cartaz nos cinemas a partir de 12.10.23

Ficha Técnica:

Título: Meu Nome é Gal

Direção: Dandara  Ferreira e Lô Politi

Roteiro: Lô Politi, Maíra Buhler e Mirna Nogueira

Elenco: Sophie Charlotte, Rodrigo Lelis, Camila Mardila, Luis Lobianco, Dan Ferreira, Dandara Ferreira, Chica Carelli, George Sauma

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