segunda-feira, 25 de julho de 2022


 

BOA SORTE LÉO GRANDE

 

BOA SORTE... é um daqueles filmes que nos surpreendem. Partindo de um roteiro com ideia, por vezes simplista, nos traz um leque de abordagens que surpreendes e nos fazem refletir. A premissa é simples: mulher sexagenária ao ficar viúva decide ter o orgasmo que nunca teve ao longo do casamento com o marido machista e conservador, para tanto contrata serviços de um garoto de programa bem mais jovem que ela. O que era para ser um simples encontro ganha dimensões inimagináveis. Com direção de Sophie Hyde e atuações irretocáveis de Emma Thompson e Daryl McCormack, o filme se passa em um único cenário: Um quarto de hotel. Falar da Emma é chover no molhado, atriz oscarizada, com grandes sucessos de público e crítica apostou pesado neste projeto e num ato de extrema generosidade se entregou inteira, uma vez que o roteiro dialoga com a realidade da esmagadora maioria de mulheres que viviam e ainda vivem a sombra dos homens, a finitude e o ato de envelhecer e se aceitar ou não em meio a repressões e um conservadorismo extremo e castrador. Emma se dá inteira e protagoniza seu primeiro nu frontal, de uma poética e beleza singular, não por acaso uma das cenas mais belas e tocantes do filme. Sua atuação é visceral e a química estabelecida com o Daryl é determinante, afinal temos aqui uma veterana e um iniciante em contraponto a seus personagens, onde ela é a iniciante e insegura e ele o veterano e experiente. A premissa estabelecida pelo roteiro a princípio nos leva a uma série de questionamentos e talvez, uma expectativa óbvia, o que a princípio é logo descartado, num ato contínuo, uma sucessão de surpresas. A princípio vemos uma Nancy insegura, amedrontada, com um misto de curiosidade, insegurança, arrependimento e um Léo educado, sedutor, além de belo e extremamente cuidadoso e munido de um discurso edificante e rico em colocações e cuidados. O roteiro inteligente cujos diálogos são de um tom feroz e cortante é um dos pontos altos do filme. Driblando o viés didático que geralmente é a tônica em diversas abordagens e uma possível armadilha recorrente, o que vemos aqui é construção de diálogos onde a tônica é de uma inteligência e uma naturalidade pouco vistos, fala-se de preconceitos, normas sociais, desejos reprimidos, liberdade sexual. Com sabedoria, o roteiro da Katy Brand foi escrito especialmente para a Emma, em mais um acerto de uma dobradinha que acerta do início ao fim. A atuação do Daryl é outro ponto alto do filme. Léo é belo, bem cuidado, educado, centrado, carismático e principalmente atento aos sinais emitidos pelo comportamento de Nancy, ele bate um bolão e surpreende. Ele não se aproveita da fragilidade dela, como se poderia supor, há uma comunhão de almas ali, há uma conexão de ambos que se transforma ao longo dos encontros num crescente amadurecimento. A cena da dança dos dois ao som de Alabama Shakes, a bela Always Alright,  é desde já uma das mais belas já vistas no cinema, de uma naturalidade e uma poética pouco vista. A luz branca e os tons pasteis da fotografia e do cenário é outro ponto positivo do roteiro. Não há luz quente, penumbra ou o que o valha, sempre recorrentes para criar clima de idealizado romantismo, aqui é tudo às claras, muito visível e até mesmo vibrante, assim como os figurinos que numa sacada inteligente vão ficando menos formais ao longo da caminhada dos dois e seu crescente conhecimento. Não arrisco dizer que é uma película voltada quase que exclusivamente para um público feminino maduro, o que não exclui o público masculino que muito terá a aprender e a refletir, como também mulheres jovens cujo amadurecimento as aguardam, e sabemos que muito ainda há de conservadorismo, hipocrisia e, sobretudo machismo tóxico. A trilha sonora é pontual e vai orquestrando cada encontro com nuances e sacadas pertinentes e certeiras. Não é prematuro dizer que essa seria mais uma das atuações da Emma indicadas e eleitas ao Oscar, o que talvez não ocorra, uma vez que o filme não teve estreia nos EUA, o que é uma pena, afinal o mundo anda carente como nunca de histórias bem contadas e amarradas e com conteúdo desse quilate, um alento em meio a tanta baboseira. Um pecado: o filme está sendo vendido como comédia romântica e está muito longe de sê-lo.

 

Ficha Técnica:

Títuço Original: Good Luck To You Léo Grande

Direção: Sophie Hyde

Roteiro: Katy Brand

Elenco: Emma Thompson, Daryl McCormack, Isabella Laughland

Em cartaz nos cinemas

 

 

 

 

 

 

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