terça-feira, 12 de julho de 2022

 

ELVIS

 

Baz Luhrmann já nos deu O Grande Gatsby, Moulin Rouge e Romeu+Julieta (para ficarmos nos três de maior repercussão) e todos eles a seu modo causaram, seja pelos exageros, a estranheza ou até mesmo a poética da anordagem fora da caixa e com contornos bem pessoais. Quem não lembra da pela, poética e cultuada cena do aqyário de Romeu? Sim, Luhrmann é um diretor que imprime sua marca nos seus projetos, causando surpresas e até mesmo desconforto. Com carta branca dois estúdios e boas e inusitadas ideias na cabeça vai pavimentando sua trajetória de forma gradual, criativa e instigante. Com Elvis não foi diferente. Mexer com grandes ícones é tarefa hercúlea e arriscada, vide exemplos recentes com as biografias de Fredie Mercury e Elton John, dois grandes ícones da música cujas trajetórias chegaram ao cinema e causaram muito furor e expectativas, não teria como passam em brancas nuvens. Polêmicas a parte, há de se respeitar a visão e construção da obra com o viés escolhido por cada diretor, ainda que não nos corresponda...  Elvis já começa de maneira inusitada. Como sabido pelos mais atentos, sua carreira foi uma verdadeira montanha russa e em meio aos altos e baixos, uma figura se destaca pela participação e evidente responsabilidade nos sucessos e, principalmente na derrocada do Elvis, seu empresário, Tom Parker, o conhecido Coronel que da mesma forma que descobriu e alçou ao estrelato, sucumbiu ao abuso financeiro dentre outros, um assombro. E é exatamente sob o ponto de vista de coronel que o filme se alicerça, vê-lo ser o narrador dessa história é de uma estranheza e de um inusitado que só mesmo corajosos para fazê-lo. Basear os fatos em seu ponto de vista é no mínimo estranho. Dono de uma direção rigorosa e cuidadosa, Baz, mais uma vez capricha, a começar pela escolha do elenco, não deve ter sido fácil ter chegado ao Austin Butler, que apesar de uma carreira pouco expressiva está incorrigível, nos entrega um trabalho visceral, como aliás não poderia deixar de ser, afinal  construir no imaginário popular um rei que revolucionou uma época e construí um perfil até hoje inesquecível e singular não é tarefa das mais fáceis... Elvis vive e será eterno no imaginário popular... Suas interpretações musicais são eternas, assim como o antológico personagem que criou. O filme nos leva as profundezas do ser humano que foi esse ícone, seu calvário e sua singular personalidade. Butler construiu um Elvis que, se não chegou a unanimidade em semelhança física, se apropriou de sua força e construção de uma personalidade forte e carismática, o que não é fácil, e acabou por transformá-lo em mais uma daquelas atuações incorrigíveis que entram desde já para o grupo (seleto) dos cults. Ele inclusive, se deu ao luxo de trabalhar a voz e executar, dispensando dublagens, algumas canções, uma ousadia que não decepcionou. A narrativa começa com a infância de Elvis, os problemas familiares, a perda prematura da mãe (coincidentemente o Butler perdeu a mãe com mesma idade), sua vivencia com a música e a cultura negra. Sim,  Elvis gravou canções que seguramente não chegariam ao sucesso que chegaram não fosse suas interpretações. Vivendo em meio ao período da segregação racial, o garoto branco adentrou aos cultos das igrejas negras, possuía amigos negros e via e lançava luz nas composições, verdadeiras preciosidades que foram alçadas ao sucesso através de sua voz. Levar a música negra para um público branco que chegava ao delírio com suas interpretações era apenas uma das muitas características inusitadas de um trabalho singular para a época, que vão da postura no palco, as roupas coloridas e exageradas e o famoso requebrado que chocava os mais conservadores e era a alegria da mulherada que entrava em êxtase com suas apresentações...  No caldeirão do universo musical de Elvis, nunca a mistura de country, gospel branco, gospel negro, blues e rock foi tão harmônica e produtiva. Sabendo valer-se das pérolas de cada um desses gêneros e com extrema sensibilidade e visão musical, Elvis construiu um elenco de sucessos pouco visto, de beleza e importância história única (gravou 784 músicas), apesar de nos deixar prematuramente no auge do amadurecimento musical, mas infelizmente do cansaço, descontrole e deslumbramento nas mãos de um empresário inescrupuloso e manipulador, vítima de abuso financeiro, Elvis foi ao fundo do poço, se reinventou mas não segurou a onda, sucumbiu a problemas de saúde em meio, mais uma vez a interferência de seu algoz, o empresário Coronel que o entupia de pílulas. Figura igualmente importante neste contexto, Coronel é interpretado por um Tom Hanks meio caricato e quase irreconhecível em virtude da maquiagem, uma prótese exageradamente pesada, bem ao gosto dos membros da academia que adoram esse excesso. Nele reside a figura do pai e ao mesmo tempo do algoz disposto a tudo para levar proveito financeiro. Já há uma avalanche de críticas negativas, mas que não comprometem o todo.  Já Priscila é construída de maneira tímida e exemplar por uma Olivia DeJonge inspirada. Fica patente no filme que a separação foi determinante na vida do Elvis, que o amor que os uniu prevaleceu. Com uma reconstituição de época primorosa, um figurino luxuoso, fotografia inspirada e uma trilha sonora dos deuses, ELVIS é um grande filme, com nuances e minucias que obviamente poucos terão a sensibilidade assertiva de captar. Sua mensagem é triste e ao mesmo tempo edificante, afinal em meio aos abusos, o ódio e a infelicidade, o amor (palavra final na vida do Elvis) a música e, principalmente, a Priscilla, como fica evidente na sua sutil e marcante presença. Butler já colhe os frutos de um trabalho que lhe tomou três anos em meio a treinos de dança, voz e principalmente postura em cena. Já escalado para a, ansiosamente aguardada, segunda parte do DUNA vislumbra também uma já esperada, indicação ao Oscar de 2023, aliás, com muito louvor!

Ficha Técnica:

Título: Untitled Elvis Presley Project (Original)

Direção : Baz Luhrmnn

Roteiro: Craig Pearce

Elenco:  Austin Butler, Olivia DeJonge, Tom Hanks, Alton Mason, dentre outros

Nos cinemas em 14 de julho


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