segunda-feira, 3 de janeiro de 2022


 

A FILHA PERDIDA

 

As imagens de Leda a caminho do apartamento alugado na Grécia para férias são sintomáticas... A proximidade dos closes que a diretora, a talentosa Maggie Gyllenhall que já nos brindou com CORAÇÂO LOUCO, inclusive indicado ao Oscar naquele ano,   é meio claustrofóbica, uma vez emoldurada por uma luz tênue, como a sequência que inicia e finaliza a narrativa, Há algo de pontual que causa desconforto apesar de solar, os sorrisos são largos mas amarelados, forçados, a satisfação de Leda é sempre dúbia.. Um misto de satisfação e pesar... Leda chega a praia para descansar mas os flashes de seus passado vão de multiplicando a exaustão a medida que situações pontuais lhe são impostas... A família americana que chega a praia com sua prole de comportamento meio barraqueiro, para situarmos a postura em nossa realidade é uma espécie de contraponto, inclusive mal chegam e a presença de Leda em sua solidão já incomoda. Primeiro dos inúmeros embates onde Leda age com secura e objetividade, demonstrando a mulher forte mesmo em meio as sutis delicadezas que a cercam... O histórico de Leda nos remete as duas filhas, um casamento fracassado e uma carreira enquanto professora bem sucedida. O encontro com uma mãe jovem e sua filha numa relação não muito amistosa acaba por devolver Leda nos flashes as suas zonas de desconforto, as lembranças de sua maternidade fora da caixa, leda oscila seu comportamento entre cenas de puro amor e afeto e outras de cruel abandono... Faz necessário frisar aqui que, em meio a essa realidade, as férias sonhadas por Leda, sua trajetória é reavaliada e suas posturas constantemente testas e sua estima em cheque o tempo inteiro. A Leda composta pela premiada Olivia Colman na idade madura e da jovem Leda vivida pela talentosa Jessie Buckley, que algumas vezes lhe rouba a cena , são dois grandes achados do filme... A construção dessa mulher em duas fases tão distintas são viscerais, a alma de uma narrativa que lhe centram as devidas atenção não abrindo espaço para ninguém mais, além da misteriosa boneca que funciona como fio condutor...(não é um spoiler...). Baseado no romance da italiana Elena Ferrante, cuja ação se passa na Itália e na adaptação passa para a Grécia, não muito aceita por alguns críticos, alteração que em nada muda ou acrescentaria a história, narrativa que poderia acontecer em qualquer lugar, afinal esse cenário pouco impacta nas memórias desta mulher é uma história feminina, com viés feminista onde o papel da maternidade é por vezes questionados e subvertido... menos doce, menos estereotipado e porque não dizer, menos romântico... Não é um filme fácil, não se trata aqui de uma Grécia ensolarada, bucolicamente fotografada... Drama intimista é desconfortável, misterioso e sutil(atentem para a sutileza da cena do jantar)... Onde reinam os silêncios as palavras perdem a força e as ações e detalhes falam, gritam e balançam estruturas... Isso não é pouco!

Onde ver: NetFlix

Ficha Técnica:

A FILHA PERDIDA

Gênero: Drama

Direção: Maggie Gyllenhaal

Roteiro: Maggie Gyllenhaal

Elenco: Olivia Colman, Jessie Buckley, Dakota Johnson, Ed Harris, Peter Sarsgaard, Dagmara Dominczyk, Paul Mescal, Jack Farthing

Duração: 121 minutos

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