quinta-feira, 14 de outubro de 2021


 

O ÚLTIMO DUELO

Uma genuína obra, (aliás, como todos os trabalhos) do aclamado Ridley Scott, que aqui baseado no livro homônimo do Eric Jager, nos narra em tons épicos em pleno século 14, e pasmem, nunca foi tão atual, o duelo que se estabelece em nome da honra, em função da suposta traição, que acaba por se transformar em mero detalhe tamanha a grandeza do duelo entre s três versões e magistrais atuações ... Com sabedoria de mestre, a primeira vista o épico nos parece apenas mais uma das histórias de cavaleiros e seus repetidos duelos, onde figurino, bravura, sonoplastia apelativa, sangue e glória são os ingredientes da hora... Ledo engano, O Último... é muito mais que isso, é uma história bem construída, bem dirigida e sobretudo, com atuações soberbas, da hipocrisia de uma sociedade patriarcal e extremamente machista que se perdura até os dias atuais... Podemos resumir a história, objetivamente, claro, para manter a surpresa e o impacto: Dois amigos, uma convocação para a guerra, uma linda mulher, um casamento, uma traição e, bem, ai veremos o grande e criativo diferencial: Três narrativas e três visões da suposta traição, e reclamado estupro pela vítima... Aproximadamente nos 60 minutos iniciais podemos até nos sentir desmotivamos, propositalmente o que se vê é a velha e conhecida fórmula dos grandes épicos, mas o arco dramático de Scott é inteligente e precisa ser traçado e levado até nós com toques sutis e pequenos detalhes que subsidiarão o que virá a seguir em forma de turbilhão de emoções. Entra em ação o ultimo terço do filme de forma eletrizante e avassaladora, ganhando ritmo e precisão irretocáveis. A narrativa das três versões e seus supostos pontos de vista é eletrizante, não fosse uma palavrinha que macula o juízo de valor seria perfeita... (Ops! sem spoiler).  A construção baseada nas três versões pode não ser novidade, no entanto ganha ares de inovação pela maneira inteligente, dramática(sem ser piegas) e surpreendente, e, claro que isso não seria possível sem a atuação do quarteto de atores que dão um show de atuação: Matt Damon, Adam Driver, Jodie Comer e Ben Affleck... A atuação do elenco é soberba, todos tem seu momento solo e em nenhum momento há embate ou algo que ofusque um o brilho do outro, a harmonia aqui construída para valorizar o arco dramático sem o tornar piegas é o grande mérito... Nem mesmo a personagem da Jodie em momento algum se mostra fragilizada ou coitadinha...  Damon que há muito anda sumido volta aqui com um tipo meio brucutu, vezes contido, vezes inexpressivo, mas é perceptível que faz parte da escolha para composição de um personagem que em contraponto ao Driver que constrói um homem sexy, sedutor, galanteador com ares de poliglota, já Jodie se mostra uma mulher bela, sensível, mas nem por isso desprovida de força e determinação, saindo do lugar comum de vítima fragilizada, leva até as últimas consequências sua versão e embate ao marido machista e egoísta, cuja preocupação é apenas com a honra maculada. Jodie cresce ao longo da narrativa e quando nos damos conta vemos nela o coração do filme, sem medo de exageros, a construção de sua emblemática e determinada Marguerite é irretocável, fruto de uma trajetória em ascensão, fica clara em cada cena. Uma curiosidade que enriquece e dá um sentido especial ao filme é o fato de contar com três roteiristas, cada um com sua versão da possível traição, são visões distintas mas que dialogam e contribuem cada uma ao seu jeito para uma narrativa rica em abordagens e sobretudo nas brilhantes atuações...Uma sacada de mestre que só mesmo Scott com sua inventividade e sopro de inovação poderia nos brindar..  A grande sacada do filme, além de todos esses atributos é a mensagem super atual que fica para mulheres vítimas de abuso.. É quase inimaginável que uma narrativa do século 14 ainda esteja tão atual e presente em pleno século 21, e pasmem, com comportamentos bem mais conservadores e ultrapassadas se comparados a postura de Marguerite, magistralmente defendida por uma Jodie em excelente performance, sem os maneirismos, cacos e exageros tão comuns em meio a veia dramática e apelativa que o personagem poderia ter mergulhado... Vendendo o peixe errado, meu único senão ao filme é esse título que, apesar de forte, é pobre para a riqueza de sua narrativa... O conteúdo, as abordagens e as provações nele contidas são muito maiores, ricos e necessários... A falsa visão que nos é passada por um mero filme de ação, aventura, um capa e espada convencional, talvez afaste muitos desavisados das salas de cinema. Mas repito, isso não lhe tira o mérito. Candidato a uma serie de indicações a prêmios é um dos grandes lançamentos do ano, uma produção bem acabada, com fotografia de cair o queixo e, como esquecer, um duelo final tão eletrizante quanto as questões nele levantadas ao longo de seus 152 minutos. Poucas vezes um duelo foi tão bem coreografado e registrado como veremos aqui... A luta é de uma verdade, talvez quem sabe pautada pelas verdades defendidas (ou não) pelos ricos protagonistas. Sabiamente aqui vemos abordados de forma pontual e contundente a fragilidade feminina, a supremacia machista e uma justiça capenga que, como de sempre, peca por não funcionar a contento ou não estabelecer uma necessária imparcialidade em nome de comprometimento dos fatos e suas alegações...Não soa prematura já imaginar grandes nomeações, sem fazer trocadilhos, se aqui, a justiça por assim dizer, de fato funcionar... O filme tem estreia em salas presenciais dia 14 de outubro.

Em tempo: Observaram a riqueza e beleza do cartaz do filme? A cereja de um bolo de inigualável sabor!

Título original: The Last Duel

Nacionalidade: EUA, Reino Unido

Gêneros: Drama, Histórico

Data de estreia: 14 de outubro de 2021

Duração: 2h 32min

Classificação: 14 anos

Direção: Ridley Scott

Roteiro: Ben Affleck, Matt Damon, Nicole Holofcener

Elenco: Matt Damon, Bem Afflec, Adam Driver, Jodie Comer, entre outros

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