domingo, 24 de agosto de 2014

 
INSTANTE  E  LUZ
                                                               (César Romero- Correio24H - 24.08.2014) 
 
 
A Gosto do Olhar é a mostra individual do fotógrafo Mario Edson, que foi aberta ao público no dia 19 de agosto  para lembrar o dia mundial da fotografia, que não foi devidamente lembrado pelos profissionais da área. Deu-se no Postudo GaleriaBar  - Rio Vermelho – e vai ficar em cartaz até 20 de outubro. Curadoria de Conceição Paiva. Fazem parte da mostra cinco registros em preto e branco e sete coloridos. As fotos medem 40x60 cm e inauguram um espaço que abre suas portas para um diálogo mais aproximado com a fotografia. O local foi todo repaginado para eventos dessa natureza, com trilhos, luzes adequadas e estudo de circulação para o público.
Este conceito de GaleriaBar, há muito disseminado nas grandes metrópoles do mundo,  estabelece uma junção de artes visuais, no caso a fotografia aliada ao melhor do gourmet, construindo um cardápio de múltiplas opções. Nos últimos anos tornou-se quase impossível realizar mostras individuais, pelo alto custo da produção com convites, catálogos, material, assessoria de impressa, luminotecnia, textos críticos, curadoria e outras necessidades que se impõem a uma boa exposição.
Afora algumas galerias particulares que em sua maioria tem artistas contratados, ficam os editais para espaços institucionais, que têm rigor burocrático, necessita de uma produtora com CNPJ, todas as certidões de funcionamento de empresa regularizadas, o que é de lei, quadros já prontos, declaração de direitos autorais, projeto expográfico, contratação de um curador para estabelecer a linha curatorial e concorrer nacionalmente com milhares de projetos passando pelo crivo de um júri especializado.
Todos sabem que artistas não são abonados, e mais as obras das exposições institucionais não podem ser vendidas. Um caos. Então, iniciativas como esta do Póstudo são bem-vindas, é uma possibilidade para tamanho desamparo. A profissão de artista plástico não é regulamentada. Profissão glamourosa e marginal. O mercado de arte está em plena depressão no Brasil. O artista tem obrigatoriedade de viver de empregos, bicos, para ter existência digna.
Fotografia é desenhar com luz e contraste, as imagens são realizadas por exposições luminosas, fixando-as em uma superfície que hoje pode variar a depender da vontade do fotógrafo. Os equipamentos têm preços cada vez menores. As fotos profissionais não dependem tanto da tecnologia, que ajuda, mas não cria. O criador tem um olhar especial sobre o que vai registrar, e o faz inda que o assunto seja de convivência comum, banal. O olhar de Mario Edson traz sua marca mesmo nos mais diferentes assuntos, como é o caso dessa mostra. Nela, o artista faz um resumo de suas últimas produções, desde fotos da natureza, eventos, arquitetura a retratos, seu tema favorito. No exposto, temos momentos de rara beleza, como um lavador de carros que só aparece como figura identificável pelo reflexo numa poça d’água. 
Outro registro, céu monocromático pontilhado de luzes, intenso brilho, contrasta com um barco em escuro numa ponta de areia sombreado por uma árvore. Em outro instante, o olho de um cavalo branco é focado entre as crinas, criando uma atmosfera de suavidade e languidez.  Uma porta azul de Santo Antonio Além do Carmo ampara uma criança que brinca alheia no canto inferior da foto, em sua inocência ainda intocada. Uma panorâmica da Avenida Contorno traz uma intensa faixa de luz, saída das nuvens que se reflete no mar numa explosão de luzes de grande brilho, com um horizonte longínquo e pacífico. Tudo é aqui-e-agora e tudo é este pedaço de tempo mágico e fugaz. Duas crianças amparadas por uma sombrinha desafiam a câmera, silenciosas em seus mistérios. Adriana Calcanhotto é focada entre cabeças de fãs em desfoque e um celular acima também em ação, nesse espaço, entre dois obstáculos, uma luz doce e misteriosa envolve a cantora. Mario Edson cria através de seu olhar, outros olhares que se fixam frente à magia e a delicadeza das imagens.

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