domingo, 16 de outubro de 2011
















A VIDA É BELA



Esta semana convivi com uma junção de emoções inesperadas. Não sei se por acaso (faço coro de que nada é por acaso) ou se por uma daquelas coincidências que bota por terra todas as nossas convicções... Na semana em que internara meu pai para uma delicada cirurgia e munido de todos os receios, cuidados e desespero maior, da menor possibilidade de perdê-lo, eis que me cai nas mãos uma matéria(através de jornal) a respeito do V Encontro Iberoamericano de Valorização e Gestão de Patrimonios Cemiteriais. Há alguns anos venho desenvolvendo uma pesquisa em vários cemitérios pelo mundo (Paris, Praga, Argentina, Itália, Veneza), fotografando sua riqueza arquitetônica e pesquisando conteúdo, vertentes e realidades locais. Naquele momento não estaria preparado para receber tal informação como enriquecimento da minha tese e vasto material para minha pesquisa. Adentrar cemitérios naquele momento estava em última hipótese presente em qualquer um dos meus planos...Naquele momento não. No entanto me despi de todos os receios e medos e mergulhei de cabeça na experiência. Foram vários os temas abordados no seminário e duas visitas guiadas, as quais passei o dia de máquina em punho, cabeça e sentimentos na maior confusão e um dos mais viscerais trabalhos que desenvolvi. Me desarmei e em meio a uma catarse de ressentimentos pude reunir uma das melhores séries de imagens que minhas lentes já puderam captar. Nunca em momento algum, a presença da morte ou sua materialização entre lápides, testemunhos, e num inusitado sepultamento que ocorreu enquanto lá me encontrava, me subsidiaram tanto de conteúdo para análise e revisão de conceitos quanto ao real significado da morte em minha vida e na vida dos que amo e que me rodeiam. Outro dia li que começamos a morrer quando nascemos, o que atesto agora como mais cristalina verdade, e o pior é que é óbvio pra caramba. Saio desta experiência renovado e fortalecido. Nunca tive o menor problema com as questões cemiteriais, aliás, acho um dos lugares mais tranquilos e que me dão a maior paz, seja ele em qualquer parte do mundo, ou em qualquer circunstância... Talvez tenha sido difícil chegar a este estágio, mas cheguei. Conto agora com mais uma série de registros ricos, belos, poéticos e sobretudo, de uma importância ímpar. Eles me deram força e me mantiveram de pé num dos momentos mais delicados que já vivenciei. Sabemos que a perda é eminente, só não temos a sabedoria devida, talvez, que devéssemos ter, para enfrentá-la e superá-la transformando-a numa passagem, num episódio da vida onde fecha-se um ciclo e inicia-se outro, ao qual não necessariamente devemos conhecê-lo a fundo. Nestes momentos a vida me fica mais bela, mais brilhante, mais intensa e mais pulsante. Outro dia me perguntaram se tenho medo da morte...Como diria meu sábio e amado Saramago, não tenho medo, tenho pena... A final A VIDA É TÃO BELA.



* As imagens que ilustram a matéria foram captadas no Campo santo - Salvador-Ba

Um comentário: