quarta-feira, 13 de abril de 2022


O PACTO

O PACTO, novo trabalho do diretor dinamarquês Bille August, pode não ter nenhuma força dos grandes mestres a exemplo do grandioso Alfred Hitchcock, mas no entanto tem muito a nos dizer. Baseada numa história real relatada no livro  autobiográfico Out of Africa, escrito por Thorkild Bjornviga, a narrativa nos conta a experiência do potencial aspirante a escritor, Thorkild Bjørnvig (Simon Bennebjerg) que recebe a proposta em forma do PACTO (do título) de uma  famosa escritora e baronesa Karen Blixen,  para lhe alavancar a carreira, desde quando a obedeça incondicionalmente e fique por conta de suas orientações e determinações. É preciso que o pacto seja cumprido a risca ... Está selado aí um acordo que vai colocar de ponta a cabeça a vida de Thorkild, sua relação com a esposa, seu filho, enfim com o mundo. Pactos são conhecidos, e em sua maioria almas são vendidas, vidas nem sempre edificantes abaladas e, bem o fim já imaginamos... Não convém aqui tecer maiores informações a respeito do desenrolar dos fatos, e a condução que a direção inglesa de August é capaz. Em alguns momentos tem-se a sensação de se tratar de um teatro filmado. A postura da baronesa e famosa escritora, agora destroçada por uma doença e as amarguras da vida profissional e afetiva, beira o cruel e inusitado, os mistérios que suas colocações suscitam são de uma frieza e determinação pouco vistas... Muito dos objetivos e real situação em que a realidade da baronesa está inserida ficam no ar, sem maiores explicações. O foco recai, portanto, no escritor e seu calvário... A narrativa que a princípio beira o indiferente vai aos poucos crescendo e explodem ao final. A necessária abordagem sobre arte e sua criação, uma vez que o mote do pacto é o aperfeiçoamento e o espaço e clima necessários para a criatividade fluir e o escritor progredir, é outro ponto desenvolvido e questionador. Ficar atento as citações e frases cortantes da baronesa é um exercício que se mostra edificante e uma boa ponte para a reflexão.  Tecnicamente a narrativa é lenta, a famosa pegada inglesa e sua paleta de cores no cenário e figurino ajudam a emoldurar os diálogos e as ações pontuais em função de seu clima. Pouco espaço é dado para coadjuvantes, com ação centrada quase que exclusivamente no núcleo central, uma curiosidade... O foco é o pacto e pronto. Contar aqui um pouco da história e seus desdobramentos nos daria uma boa oportunidade de discussão e questionamentos sob cada um dos pontos de vista e suas relativas consequências, no entanto cairia na armadilha dos spoilers e evitaria a surpresa que a narrativa nos proporciona. Em alguns momentos a narrativa carece de atitudes radicais e pontuais de seu protagonista, uma forma de lhe dar agilidade e maior impacto, no entanto talvez o objetivo do August não seja necessariamente esse. A instigada reflexão em função dos diálogos cortantes e dos olhares e posturas da baronesa falam muito, apesar de parecer pouco...

Ficha Técnica:

Título: O PACTO

Direção: Bille August

Roteiro: Christian Thorpe

Elenco: Simin Bennebjerg, Birthe Neumann, Nanna Skaarup Voss, Austa August

 

Em cartaz nos cinemas

 

 

 

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