quinta-feira, 2 de dezembro de 2021


 

KING RICHARD

 

Will Smith em mais um daqueles papeis edificantes, sofridos e... meio auto ajuda... Com direção certeira de Reinaldo Marcus Green, e a dupla das garotas Saniyya Sidney e Demi Singleton (Venus e Serena, campeãs do tênis), um roteiro equilibrado e uma história real tocante e necessária em dias tão sóbrios, temos talvez uma fórmula do sucesso pronto, sim, porque além disso Smith faz direitinho o dever de casa. A história nos conta como o genitor das garotas planejou suas carreiras, antes mesmo delas começarem a treinar e baseado em sua determinação,  firmeza e métodos próprios seus planos obtiveram êxito e as garotas foram revelação, sobretudo por serem negras no universo muito distante da realidade em que se encontravam. Pai de 6 garotas, a rigidez das normas por ele imposta no dia a dia  é um alento em meio a criações mais permissivas. As premissas de Richard eram sedimentadas em grandes convicções. Passado na década de 90, a proteção e os cuidados excessivos do pai passam longe de abuso e não se vê nenhuma revolta ou insatisfação das crianças, verdadeiro orgulho para os pais, não nos poupando nem mesmo de exibições de seus conhecimentos e disciplinas quando questionados ou contestados. Há um pequeno embate entre a mãe, menos obsessiva e mais permissiva e um pai mais radical e perseverante, no entanto nada que um bom papo e um recuo estratégico não resolva. Richard nos presenteia com bons momentos de reflexão, vezes ilustrados por frases corriqueiras e óbvias de auto ajuda, vezes por um discurso profundo de amor e cuidado... Sua rigidez se apoia na formação de caráter das filhas e em um futuro promissor... Não é pouca coisa... A narrativa é centrada no dia da família com as garotas, a busca por um grande treinador que sedimente o trabalho por ele iniciado e as exponha para o mundo, sim,  seu objetivo é colocá-las no pódio. As duas... Ainda que se tratando de história verídica, com o previsível final, nem mesmo isso nos deixa indiferentes as cenas finais, onde a estréia de Serena numa partida antológica  lhe abre as portas para o mundo. Muitos momentos são belos, afetuosos e edificantes, a união das garotas, a cumplicidade e o respeito que nutrem pelo pai, até mesmo quando dele discordam é de uma verdade e profundidade singulares. Smith aqui nos mostra o quanto amadureceu e cresceu. Seu Richard é bem construído, íntegro e passa uma verdade só mesmo possível a grandes atores e suas grandes interpretações, não é à toa que vemos aqui uma das melhores senão sua melhor atuação, fruto de seu amadurecimento e das possibilidades que lhe são facultadas por um roteiro que a certa altura lhe impõe questionamentos lhe afastando do estigma de “bonzinho”, e nessa hora, os impasses lhe fazem muito bem . Não seria exagero apostar em sua indicação as vindouras premiações. Prestem atenção na cena em que a família assiste na tv  ao filme Cinderela, uma lição para pais e filhos, uma dica de raro valor para construção e treinamento de assimilação de qualidades e valores em meio a uma simples sessão em frente a TV... O que talvez pareça óbvio talvez seja o que mais precisemos aprender. É inegável que o fato das irmãs Williams serem produtores, ajudou a condução do filme , o que não lhe subtrai o mérito.  Com boa dosagem de bom senso e equilíbrio, Green tornou acessível a todos o universo do tênis sem deixar o filme maçante ou desinteressante fugindo da possível armadilha em que sucumbem as narrativas que se propõem a narrar esportes poucos populares ou restritos a exemplo do tênis, tão distante de uma família negra e pobre que em meio a um universo de glamour, batalham, crescem, nele mergulham sem vergonha ou receio e mostram o quanto o talento carece de perseverança e disciplina.

Ficha Técnica:

Direção: Reinaldo Marcus Green

Roteiro:  Zach Baylin

Elenco:  Will Smith, Saniyya Sidney. Jon Bernthal

Título original King Richard

 

 

 

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