quinta-feira, 21 de dezembro de 2017




CORPO E ALMA



CORPO E ALMA é um daqueles filmes incômodos, para não dizer indigestos, porém necessários. Ildiko Enyedi conduz a direção com apurado senso de estética, com imagens de uma assepsia que beira a crueldade. Nos primeiros 30 minutos o espectador menos avisado fica perdido e a se perguntar se adentrou a sala certa, tamanha riqueza de detalhes, closes e informações que objetiva unicamente mostrar o universo em que os personagens convivem, residindo ai um dos grandes méritos...

Uma história de amor, Corpo e Alma nos narra um encontro de almas em sonhos e as sua consequências quando a realidade lhes é proposta... Mária e Endre são colegas num abatedouro e guardam uma característica em comum: ambos são pessoas estranhas ao uni verso social, ambas possuem comportamento próprio e incomuns a sociedade em que vivem...

Com atuações beirando personagens atuando no automático, estabelecem um universo para si e, encontram-se em sonhos, iniciando neles a história de amor, que se origina na esfera do universo de sonhos e desemboca na esfera do real com consequências pouco previsíveis...

As cenas são fortes, closes em abundancia a captarem as mesmas e repetidas expressões... A personagem de Mária as vezes lembra um robô, que em síntese é o resultado da vida milimetricamente programada e executada em que ela vive...

Falar de amor em um universo tão particular e a averso ao usual é de uma grande ousadia, tarefa executada pela diretora que consegue a façanha de aproximar os personagens num plano infinitamente distante do real... As cenas no plano lúdico são de uma beleza singular, onde sabiamente os personagens são vividos por animais, um veado e uma cerva enquanto que no plano real são de uma crueldade sem limites...

Assistir a CORPO E ALMA é um exercício sensorial de raro valor, uma experiência onde o limite do suportável é testado e mostrado o quanto nos esquivamos do real, da realidade que nos é apresentada e que vivemos fugindo ou inconscientemente evitando...

É um filme para ver e, rever e refletir, ou em alguns casos, certamente para ver e querer esquecer... Não há de passar em vão.

Ficha Técnica:

Direção: Ildiko Enyedi

Elenco: Alexandra Borbély, Morcsányi Géza, Zoltán Schneider mais

Gênero Drama

Nacionalidade Hungria

 

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