quinta-feira, 28 de agosto de 2025


 

O Último Azul

 

Tereza tem 77 anos, mora numa cidade industrializada na Amazônia e é convocada oficialmente pelo governo a se mudar para uma colônia habitacional compulsória, programa que recolhe idosos a partir de 75 anos para que seus familiares fiquem livres dos cuidados para com eles e continuem a produzir. Lá, os idosos "desfrutam" de seus últimos anos de vida, enquanto a juventude produtiva do país trabalha sem com eles se preocupar. Pressionada pelo exílio forçado, Tereza foge e embarca numa jornada pelos rios e afluentes da região para realizar um último desejo, algo que pode mudar seu rumo para sempre. Tereza sonha voar, nunca andou de avião... Aqui o voo ganha conotações outras que não apenas o simples ato de adentrar um avião e ganhar mundo... Tereza quer mais, quer a liberdade e a possibilidade de viver os dias que lhe restam com a vitalidade a disposição que ainda tem... Uma metáfora que nos faz refletir acerca do envelhecer ... Com dignidade!

Essa sinopse resume a premissa da narrativa do filme … um excelente argumento … Mascaro que ao longo de sua trajetória tem se firmado com argumentos distópicos nos traz o que seria seu trabalho mais apurado, fruto da trajetória de grandes filmes … Um elenco bacana (Santoro no auge do amadurecimento nos deixa com gosto de quero mais … muito pouco tempo em cena - há momentos que eu imaginava a Fernanda na dobradinha com ele ) encabeçado pela Denise Weinberg, numa grande atuação, essa cria do teatro e de uma presença em cena arrebatadora, num trabalho de construção de personagem primoroso e realista... A película que tem uma fotografia cuja paleta de cores fortes e quentes dá o tom da narrativa que, além de centrar no drama propriamente dito, nos apresenta uma Amazônia exuberante e sua comunidade ribeirinha … A sensação que me veio era que algo aconteceria a qualquer momento … o que não ocorreu … a trajetória da protagonista em busca de seu sonho se dilui um pouco e talvez não cumpra o real drama que se propõe … Talvez a expectativa gerada e a maneira equivocada que o filme foi vendido em função do trailer apresentado nos deixe essa sensação … Aqui a abordagem proposta nos põe frente a frente com situações limites que beiram o surreal, a exemplo do recolhimento dos velhinhos em carrocinhas, aquelas tradicionais carrocinhas que recolhiam cachorros de rua... uma abordagem forte para um tema de grande relevância... o pais está envelhecendo e a população idosa cresce a passos largos... As andanças de Tereza em sua fulga lhe permite cruzar com pessoas e com elas ir acumulando lições e aprendizados que aos poucos vão lhe modificando e ampliando sua visão de mundo... É um bom filme dessa nova safra de nacionais bem produzidos e distribuídos … Está na disputa,  junto a outras 15 produções,  ao representante brasileiro na corrida pelo Oscar de filme em língua estrangeira edição 2026.

Em cartaz a partir de dia 28.08

 

Ficha Técnica:

Título: O Último Azul

Direção: Gabriel Mascaro

Roteiro: Gabriel Mascaro, Murilo Hauser e Tibério Azul

Elenco: Rodrigo Santoro, Denise Weinberg, Miriam Socorrás, entre outros

Weinberg

 

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

 


DRÁCULA: Uma História de Amor Eterno

Não, não é apenas mais uma versão de Drácula, é versão do Luc Besson, como ele mesmo se antecipou a esclarecer: seu Drácula é mais humanizado, mais focado no sofrimento do homem que levou 400 anos seu um amor...  Com uma trajetória onde os altos são inferiores aos baixos, sua filmografia não decepciona de todo... Imensidão Azul, Nikita, O Profissional, são, na minha opinião, o melhor que ele já nos brindou, em meio a muitos outros medianos... A história que ele nos traz não se diferencia muito das outras, como numa espécie de analogia, agora o conde vai a Paris em busca de Mina... Uma menção a cidade mundialmente conhecida como a cidade do amor? Faz sentido. Aqui o conde de Caleb Landry, a escolha de Besson é mais humanizado e sua relação com Mina mais verdadeira, extremamente romantizada mesmo. Após ser vencedor na batalha, o conde perde sua esposa, o que o revolta e o leva a romper com Deus e renegar o cristianismo cravando uma cruz  no peito do padre a quem pedia proteção e o intermediasse a Deus pela proteção a esposa... Dai a história já conhecemos... Os cenários são grandiosos, a produção de arte impecável, o trilha sonora pertinente e uma equipe de atores equilibrados, onde o Christoph Waltz em sua zona de conforto nos entrega mais do mesmo, um padre caçador de vampiros (uma espécie de exorcista??) . Tomando a Revolução Francesa como pano de fundo, sem maior aprofundamento, apenas uma espécie de citação para contextualizar a ação em um momento francês especial e histórico, talvez aí pecando um pouco, principalmente em se tratando de um cidadão francês (seu caso). É um bom filme, nos deixa a sensação de que talvez os cortes nos privou de alguns importantes detalhes, beneficiando a famigerada necessidade de se render as determinações dos estúdios... Quem sabe não nos chega uma versão estendida do diretor? Não seria má ideia... Vale sempre a conferida, Drácula sempre será uma história arrebatadora... 

Título: Drácula: Uma História de Amor Eterno

Direção: Luc Besson

Roteiro: Luc Besson

Elenco: Caleb Landry Jones, Christoph Waltz e Matilda De Angelis

Produção: França/Reino Unido



quinta-feira, 10 de julho de 2025


 

SUPERMAN

 

O universo dos super heróis ainda continua sendo um manancial de renda, bilhões em bilheterias... Uma fábula... Não à toa, Hollywood se reinventa e igualmente reiventa suas galinhas de ouro a cada período de crise (ou não), afinal a máquina não pode, nem deve parar de produzir ...

Eis que agora nos chega mais um SUPERMAN, que junto aos anteriores tem lá seus méritos.... É sabido da crise que o cinema mergulha e volta e meia surge um arrasa quarteirão para salvar a pátria... Demitido da Marvel por questões políticas em 2018, James Gunn, diretor dessa nova versão,  é a nova aposta da DC que após alguns fracassos chega com tudo para reinventar aquilo que há muito foi inventado, mas enfim a máquina tem que girar... É preciso dar folego novo para o velho travestido de novidade prosperar, seja lá através de releituras, atualizações e até mesmo alteração na sua raiz... Mexer nesses ícones é tarefa corajosa, para fortes, o risco é grande, no entanto o prosperar (se assim for) compensa e muito... A pegado desse novo SUPERMAN  é até interessante, apesar de que, é evidente, sempre dividirá opiniões(ainda bem). Gunn nos apresenta um super-homem mais humana que nunca, que, numa narrativa politizada, tira sarro do caos que hoje estamos vivendo, nos mostra os conflitos entre nações e a tão velha quanto batida disputa desenfreada pelo poder... A narrativa é uma espécie de quadrinho em movimento (um mérito para os adeptos dos quadrinhos), aliás nesse ponto ele é bem fiel... Alicerçado por efeitos, muitos efeitos (eles beiram a exaustão), aqui não há espaço para muito dialogo, e nem mesmo para uma trama de fundo(até o romance de Clark e Lois é pouco ou quase nada explorado, ele está muito muito mais preocupado em salvar a humanidade, isso fica patente nas diversas cenas entrecortadas quando efetua salvamento desde um esquilo a um idoso). A escolha dos atores não decepciona, David Corenswet, apesar de não muito popular tem uma carinha bonita (as vezes de cão abandonado) e certo carisma, preenche a tela e passa muita credibilidade, uma escolha acertada.... Não nos arrebata mas também não decepciona... Já Rachel Brosnahan nos brinda com uma Lois descolada, antenada e até mais centrada (fruto dos novos posicionamentos femininos?). A novidade fica por conta do super cão (uma sacada para conquistar os amantes dos pet, que, vamos combinar não são poucos ) e a bendita cueca vermelha sobre a malha azul... uma pegada retrô que não deixa de ser novidade... Para quem se fez com tramas intergalácticos, vermos o Gunn interessado na humanidade e seus pesares é um pouco estranho...Uma  grata surpresa, o filho do Reeve, Will Reeve, faz uma pequena ponta como jornalista... Dificilmente uma narrativa nos dias atuais consiga ser avassaladora e arrebatar uma plateia  cada vez agarrada no celular e muito, muito suscetível a outras provocações( há uma selfie de cenas onde a self é a bola da vez)... A magia do escurinho do cinema tem perdido ao longo do tempo muito de sua essência... Sinal dos tempos, assim como o SUPERMAN, que mesmo voltando de cueca vermelha sobre a malha azul, com seu cão protetor a tiracolo e o indefectível cachinho na testa ainda pode causar estranheza... Quem sabe  o cinema, ainda que conectado aos sinais(nem tão animadores) de uma humanidade adoecidas, nos faça  esquecer uma realidade(mesmo ali ironicamente retratada) por seus 120 minutos...   

Em cartaz nos cinemas a partir de 10.07.25   

Ficha Técnica:

Título: SUPERMAN

Direção: James Gunn

Roteiro: James Gunn

Elenco: David Corenswet,  Rachel Brosnahan , Nicholas Hoult, entre outros

Duração: 129 minutos                                 

 

terça-feira, 24 de junho de 2025


 

F1: O Filme

 

Para começar com o óbvio: F1-o Filme é o Top Gun das pistas.... Com todas as letras e algo mais... E não, não tome essa constatação como algo pejorativo, não é, muito pelo contrário. É um dos óbvios elogios que essa pequena pérola cinematográfica recebera além de inúmeros outros elogios... dentre os quais grande candidato ao carequinha dourado ano que vem... Podemos assim resumir o conteúdo do filme: Narrativa conta a história de Sonny Hayes, uma lenda da corrida que retorna da aposentadoria para ajudar uma equipe de Fórmula 1 em dificuldades e guiar um jovem piloto. O filme é estrelado por Brad Pitt no papel principal, ao lado de Damson Idris, Kerry Condon, Tobias Menzies e Javier Bardem.  Vivendo uma grande fase onde um ápice de popularidade se mostra crescente, nada como um bom filme para atrair mais moedinhas e popularidade para os cofrinhos mais antenados... A ideia, concepção e produção não seriam tão grandiosas e milionárias, sem falar no seu apuro técnico e estético, não fossem as participações ativas do Brad Pitt e do Lewis Hamilton(também produtores), dois pesos pesados em suas respectivas áreas, não é pouco... Com uma presença carismática como a do Pitt, uma formula bem equilibrada e efeitos de ponta, impossível não funcionar... Vamos combinar e aqui deixar bem claro que o roteiro do filme é de uma pobreza franciscana, super clichê, difícil não remete-lo a várias outras narrativas onde superação, choque do antigo e o moderno, e os benditos/malditos traumas, geralmente ligados a algum acidente, são o norte do roteiro... F1 não escapa, com sutilidade ou não, faz um mergulho raso  no drama ( que vai para segundo plano –ainda bem- deixando o protagonismo para as pistas)  e aposta todas as suas fichas nas belas, irretocáveis e perfeitas sequencias nas pistas... creio ter surpreendido até os próprios pilotos que, provavelmente jamais se viram sob aqueles ângulos... um primor! Como de costume, a direção do Kosinsky (que nos deu TOP GUN-MAVERICK, outra joia) é imersiva ao extremo. Em Maverick aviões de verdade foram pilotados, aqui não deixou por menos, os atores se deliciaram ao pilotar as máquinas da formula 1. Como se não bastasse, usou cerca de 12 câmeras em cada carro, captou imagens durante GPS reais, usou iPhones nos veículos para dar uma ideia de “realidade”... um achado.  Emoldurado por uma trilha eficiente composta por uma equipe de artistas, o time dos sonhos... grandes nomes do pop como Es Sheeran. Doja Cat, Rosé, Tate McRae, Texto, entre outros, ainda se dá ao luxo de nos brindar com a cereja do bolo: a inspirada e fabulosa música do Hans Zimmer (esqueça DUNA, aqui ele está muito, mas muito mais inspirado), os primeiros minutos iniciais já nos dá uma ideia a que veio... O mestre esbanja talento. Kosinsky ainda encontra tempo (com justiça) para uma velada e pertinente homenagem ao querido e inesquecível Ayrton Senna. O piloto não aparece em momento algum na narrativa, mas sua essência está lá, seja na licença poética na recriação de cenas, seja na mostra de um McLaren branco e vermelho, uma aparição sutil, silenciosa, nas primeiras cenas, um símbolo silencioso em forma de tributo ao gigante da fórmula 1, um afago nos brasileiros... F1 é entretenimento de primeira, impossível não se envolver e palpitar com suas imagens e sons magistrais... ainda que não se seja amante do esporte, sim, porque a narrativa é muito mais que esporte, é excelência na direção, cuidado na estética, casamento perfeito com uma excelente trilha, e, vamos combinar, contar com o carisma e o talento do Brad Pitt (Que esbanja carisma. Como resistir ao seu sorriso??)  no auge de seu amadurecimento já é um grande motivo para comprar o ingresso, e olha que os 156m passam num sopro... Desde já um dos grandes filmes do ano!

Nos cinemas a partir de 26 de junho.

 

Ficha Técnica:

Título: F1 – O Filme

Direção: Joseph Kosinski

Roteiro: Joseph Kosinski, Ehren Kruger

Elenco: Javier Bardem , Brad Pitt , Kerry Condon , Damson Idris

Duração : 156m