EMÍLIA PÉREZ
Franco favorito ao Oscar, abocanhou todas as principais premiações e, como de costume, está a dividir opiniões... Depois de ter conquistado Veneza, seguiu como uma retroescavadeira e não deu pra ninguém, hoje, depois de algumas sessões para imprensa e algumas outras exibições, o que se observa é uma chuva de críticas negativas e muitas polêmicas, algumas, de fato procedem, outras nem tanto... Considero que há um certo exagero, a exemplo da dupla indicação para melhor filme no top10 e melhor filme de língua estrangeira, neste caso roubando vaga de um dos outros grandes filmes que se encontravam no páreo. Há um exagero do público brasileiro que pesa mão nas críticas ao filme e principalmente a atriz que é concorrente da Fernanda Torres que, do alto de sua elegância já veio a público pedir para evitar esse clima de excessiva competitividade, afinal, há de se ter elegância ainda que numa competição...um gesto nobre de quem foi bem recebida e acolhida pela própria Karla Sofia Gascón. Mas vamos ao filme... Dirigido e roteirizado por Jacques Audiard (O Profeta, Ferrugem e o Osso, Dheepan: O Refugio) é uma produção gravada na França cujo cenário mexicano é povoado de atores não reconhecidamente mexicanos, inclusive com declarações polêmicas a respeito dessa escolha de atores feitas pelo próprio diretor. A narrativa se passo no México onde um poderoso líder de cartel resolve fazer uma cirurgia de re designação sexual (também conhecida como cirurgia de mudança de sexo, um procedimento cirúrgico que altera os órgãos genitais de uma pessoa para que correspondam ao seu gênero de identificação) contratando os serviços de uma advogada frustrada que lhe auxilia nas questões práticas e documentais. Depois que é dado como morto os filhos e a mulher são enviados a Suíça. Tempos depois volta ao México com Emília Perez, passando a ajudar a comunidade como uma espécie de busca da redenção em função das atrocidades cometidas no passado. Toda a narrativa é pontuada por músicas e alguns números de dança, (em alguns momentos o texto não é falado, é musicado (sick), o que da uma agilidade e movimento por outro quebrando a grande carga de dramaticidade que o tema impõe. É uma questão meio confusa um filme falado em espanhol, ambientado no México, dirigido por um francês e representante da França na corrida pelo Oscar... Com grandes problemas na edição, os mais atentos e experientes vão perceber, Emília Perez pode até tentar funcionar como aceno a diversidade, a inclusão de uma atriz trans e da discussão das questões de gênero... O problema é que nem isso faz a contento... Numa tentativa de inovação, (um balaio, (onde de tudo tentou se colocar um pouco) acaba por ficar pesado ao final e a boa ideia acaba sub aproveitada... As músicas vão na contra mão da harmonia e das rimas, soando, as vezes, perdidas e sem razão, momento de um arco dramático denso e não sabemos se rimos ou choramos... As atuações não decepcionam, a Gascón faz o seu dever de casa (a sensação que tenho é que a indicação foi por uma questão inclusiva, afinal, primeira atriz trans a ser indicada), mas quem brilha mesmo é a Zoe Saldaña numa atuação intensa e com bom tempo em cena... Marca forte do Jacques, os cenários privilegiam uma paleta de cores fortes, cenas musicais com farto e apropriado uso da luz. Não dá para desconsiderar a ousadia e a tentativa de inovação e atuação fora da caixa, no entanto, num ano onde não havia um franco favorito (com todo mérito ) a exemplo do ano passado, duas produções roubaram a cena : Emilia e Anora, ambos como anteriormente me referi, totalmente fora dos padrões e do dito cinemão... O excessivo número de indicações pode repetir algumas frustrações de anos anteriores, onde produções foram fartamente indicadas e saíram ao final de mãos vazias. A política do Oscar vem mudando, com ela os critérios que sempre foram duvidosos, agora são mais que nunca imprevisíveis. Com grande rejeição dos mexicanos que não gostaram nada nada de como foram mostrados, altas críticas e rejeição pela galera trans e muitas resenhas negativas pela crítica especializada, Emília Perez segue firme e forte, gerando noticia e polêmica. Não vejo de fato como classifica-lo como melhor filme, num ano onde temos CONCLAVE e O BRUTALISTA, para ficar em duas grandes produções, assim como também num ano onde uma animação disputa melhor filme e melhor animação, convenhamos: o Oscar quer causar... Isso é bom? Talvez. Assistam Emilia desarmados, no mínimo serão duas horas de entretenimento mediano e para alguns, inovador.
Nos cinemas a partir de 06 de fevereiro
Ficha Técnica:
Título: Emília Pérez
Direção: Jacques Audiard
Roteiro: Jacques Audiard e Thomas Bidegain
Elenco: Karla Sofia Gascón, Zoe Saldaña, Selena Gomez, entre outros
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