CHICO BENTO E A GOIABEIRA MARAVIÓSA
Tive o privilégio de viver minha adolescência no auge do trabalho do Mauricio de Sousa. O privilegio chegou ao ápice quando pude me corresponder com ele, sim, naquela época (década de 70) não havia celular, internet... A velha carta era usada frequentemente... O Telegrama era a salvação para as urgências... A correspondência com Mauricio era frequente, pontual e, pasmem, Mauricio me enviava desenhos feitos por ele anexados as cartas... Uma maravilha... A espera pelo “gibis” semanais da Turma da Mônica era a melhor parte das brincadeiras, logo, logo os personagens ganharam voos solo Cascão, Cebolinha, Mõnica e CHICO BENTO... O Chico sempre foi meu preferido... Sempre foi um alento de humanidade, de preservação da natureza, da naturalidade no falar... naquela época o politicamente correto não existia, do contrário, talvez ele não tivesse sobrevivido, e ainda assim sofreu algumas retaliações que, felizmente, não prosperaram... Chico nasceu sob encomenda de uma cooperativa há sessenta anos, e como todas as criações do Mauricio, emplacou de primeira tamanha a beleza e pureza, características singulares do garotinho da roça de coração grande e fala errada.... Um painel de um universo rural que encontramos no Jeca Tatu do Monteiro Lobato, uma sábia inspiração. Um achado. Colecionando um sucesso atrás do outro, levando toda essa turminha maravilhosa para o cine em live-action, eis que agora é chegada a vez do CHICO Bento, e já não era sem tempo ... A espera valeu apena... Chico chegou poeticamente belo, pertinente e necessário. Produzido pelo midas Daniel Rezende, conta com roteiro de beleza e simplicidade franciscanas, tem seu mérito numa história simples, mas de conteúdo e mensagem que dialoga perfeitamente com ao valores pregados pelo personagem: amor a natureza, a vida no campo, a liberdade... Dirigido com sensibilidade e delicadeza pelo Fernando Fraiha, a narrativa nos leva as aventuras de Chico, sua turma e sua querida goiabeira que agora corre risco em função da construção de uma via que promete melhorias e fartos ganhos para a comunidade, que sensibilizada compra a ideia... a história ainda encontra uma brechinha para dar uma alfinetada no agronegócio, sem ser didática ou forçada.. Faz parte da história. Para os leitores dos Gibis e os mais atentos, é de uma beleza singular e sabedoria alinhavar a história com passagens, sejam através de manias, citações e até mesmo composição da narrativa, já vistas nos gibis. Uma nostalgia que certamente sensibilizará a todos. Completando os acertos está o protagonista que esbanja talento e carisma. Experiente com as câmeras, o influencer mirim Isaac Amendoim ( o perfil bomba no insta) constrói um Chico Bento que sai do desenho e ganha vida nas telas, um assombro.... Obviamente que a caracterização dá o tom, ajuda muito, mas de nada adiantaria sem o talento precoce desse garoto que encanta a todos, quebra a quarta parede e, narrando ele próprio a história nos brinda com momentos de rara beleza e poesia... O filme ainda conta com uma forcinha da Debora Falabella que faz uma professora Marocas doce e encantadora. Um lançamento de peso para as férias, um alento para a retomada do cinema nacional que hoje encontra-se sob os holofotes com grandes e belas narrativas, bem produzidas, dirigidas e sobretudo, dialogando com uma realidade nacional e pertinente em meio a tanta baboseira americana que antes se configurava como opção aos pequenos. Um avanço! E viva Maurício de Sousa, um garoto que passou dos oitenta com alma jovem e revigorada... Bravo Mauricio, que venham outras narrativas tão encantadoras e necessárias a exemplo dessa.
Em cartaz nos cinemas a partir de 09.01.23
Ficha Técnica:
Título: Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa
Direção: Fernando Fraiha
Roteiro: Elena Altheman, Fernando Feaiha, Mauricio de Souza e Raul Chequer
Elenco: Isaac Amendoim, Anna Júlia, Débora Falebella, entre outros
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