sexta-feira, 10 de janeiro de 2020



RETRATO DE UMA  JOVEM EM CHAMA
Ode ao nascimento do amor, RETRATO... é um daqueles filmes inesquecíveis por uma junção de motivos que, quanto mais visto e revistos se agigantam... A narrativa é simples em sua  ação e complexa e rica em seu conteúdo... Família da jovem Heloise  contrata pintora Mariane  para que pinte o retrato da jovem que será enviado a um pretendente e futuro marido, buscando com o retrato convence-lo a aceitar a jovem em matrimonio...Vários outros artistas, frise-se , todos homens, já tentaram a façanha e Heloise não se deixa retratar... recolhidas numa casa no litoral, Heloise, a mãe e uma criada aguardam a pintora para, fazendo de conta ser a dama de companhia, terá a difícil missão de retrata-la sem que ela perceba...
O filme dirigido por Celine Sciamma, tem elenco feminino e de maneira sutil e poética aborda, entre outras questões, de maneira leve e igualmente sutil o aborto...
Ver o amor brotar entre essas duas mulheres confinadas neste universo, onde apenas o mar e as paredes da casa lhe servem como testemunha é de uma beleza e de uma sensibilidade singular... A construção da pintura é mostrada passo a passo e através de traços lentos e bem construídos faz um paralelo com o crescimento da descoberta, o desejo e por fim o amor... A sensibilidade dos traças e da pintura de Mariane bate um bolão com os medos, a timidez e o desejo de Heloise... A lentidão das cenas iniciais, os cuidados e principalmente a beleza da captura das imagens, em suas nuances e seus detalhes, nos dão uma mostra de como o amor está em presente em cada  captura de cena ... A metáfora do figurino, Mariane de vermelho, a paixão e o desejo, Heloise de verde, esperança e temor é um achado...
A luz do filme é outro ponto rico e determinante, em cena velas quase que a meia luz se encarregam de deixar horas na penumbra amarelada, horas no breu a feição e o latente desejo destas mulheres que estabelecem ai um código de cumplicidade entre toques sutis e olhares... Em nenhum momento há apelo sexual, ou mesmo, o ato em si... Desnecessário. A  grandeza da força do olhar, a pulsação no peito e os pequenos toques se encarrega de fazê-lo com louvor... Até mesmo o primeiro beijo é pura poesia...
A narrativa é construída em função de furtivos olhares, toques, contemplações, e silêncios em meio aos riscos do desenho e o pincel na pintura, tudo muito harmônico e singular... e aí reside seu maior mérito, nem por isso perde toda a intensidade e pulsante desejo e paixão...
A atuação e sintonia das atrizes é espetacular, em cena a cumplicidade reina absoluta, atente para os olhares e os silêncios, eles te falarão muito mais que milhares de palavras...
Alguns diálogos são cortantes e curtos, principalmente os que envolvem a matriarca, uma vez que a presença masculina se faz desnecessária. Um filme de mulheres, feito por mulheres, mas para ser visto por todos... Um tributo ao amor, que aqui por acaso, é entre duas mulheres...
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Céline Sciamma
Elenco: Noémie Merlant, Adèle Haenel, Valeria Golino,  Luàna Bajrami, dentre outros
Em cartaz:
Circuito Sala de Arte(Passeo e Cinema do Museu) e Itaú Glauber Rocha


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