domingo, 28 de janeiro de 2018




A FORMA DA ÁGUA



É um daqueles filmes que arrebata os mais sensíveis, e, principalmente os cinéfilos de carteirinha... Favorito e indicado a 13 estatuetas no Oscar, a obra de Guillermo del Toro, que também assina o roteiro, é de fato, merecedor de todas elas. Em meio a pulverização que foi adotada pela Academia nos últimos anos, dificilmente receberá todos eles, principalmente num ano pautado em obras bacanas, de conteúdo e de novos e raros talentos, numa demonstração clara de uma renovação que se estabeleceu dos últimos 3 anos pra cá.

A história é simples e muito, muito cativante: Funcionária muda( Sally Hawkins) de uma grande corporação trabalha na limpeza no turno noturno. A principio vemos a sua rotina e sua vida limitada e solitária( uma rotina limitada e constante), cuja vida é ocupada pelo trabalho, um vizinho solitário, Giles(Richard Jenkins, em iluminado momento) que vive em companhia de gatos, ambos residentes num prédio cujo apartamento situado na sobreloja de cinema decadente, nos mostra em cada detalhe das cores vivas e quentes a realidade limitada da personagem que conta apenas com uma amiga no trabalho, a ótima Octavia Spencer. A vida de Elisa começa a ganhar sentido quando chega ao laboratório uma criatura capturada num lago e levada ao laboratório como objeto de pesquisas. O anfíbio beira a perfeição, principalmente em função de não emitir uma só palavra e aos poucos estabelece uma cumplicidade e um contato surpreendente com Elisa, que como ele, não fala, evolui e se agiganta. Elisa o conquista e obtém dele confiança, nascendo daí uma paixão, o que a faz sequestra-lo e leva-lo pra casa, nesta que é uma das sequencia mais bacanas do filme.

Não vale aqui adiantar o conteúdo da história... del Toro nos brindou com O Labirinto do Fauno, na minha opinião uma das melhores fábulas e um dos seus melhores, senão o melhor trabalho... A FORMA DA ÁGUA segue a mesma linha, sendo que desta vez numa abordagem mais adulta e mais sombria... A atuação do elenco é um primor, que embalado pela ótima trilha sonora de Alexandre Desplast, e uma compilação de grandes sucessos dos anos 40 encabeçada pela premiada You`ll Never Know, tema do filme Aquilo Sim Era Vida de 1943, onde foi cantada por Alice Faye, e ganhou o Oscar de melhor canção, nos brindam com grandes interpretações, um achado que, junto as inúmeras cenas que o solitário Giles assiste na tela da tv na companhia de Elisa, uma homenagem bela e poética a Hollywood e seus musicais... Uma singeleza a toda prova...

A fotografia e cenografia é um espetáculo a parte, assim como a utilização da água em várias situações, o que remete ao universo do personagem/criatura... Em vários momentos se bebe água, se lava alguma coisa, a água na banheira(Há uma cena desde já, antológica, cult, verdadeira poética do amor...), a água que cozinha os ovos e, principalmente, a chuva que é protagonista de uma das mais belas e poéticas cenas do filme.

Del Toro costura um roteiro enxuto, onde privilegia seus principais personagens, nos dá um vilão bem construído, o que na concepção proporciona um certo conforto numa história bem contada, bem amarada, apesar de cheia de pequenos detalhes, pequenos sinais ou pistas que para os mais atentos funciona como grande brincadeira ao acompanhar a evolução da trama. Surpreende a atuação de Doug Jones, como a criatura, que, sob pesada maquiagem consegue humaniza-la através de algumas poucas expressões concentradas no olhar e nos poucos diálogos através de sinais que consegue aprender com Elisa.

Concebido para emocionar, sem apelar, é bala certeira no coração dos mais sensíveis, aliás, como já havia dito, aqui del Toro consegue sensualizar de maneira bela e contida. Aposta certeira no dia 4 de março, quando os envelopes do Oscar forem abertos, desponta desde já como vitorioso, Tendo no mérito de suas indicações, sua grande premiação. A premiação para Sally Hawkins soaria como um belo e positivo reconhecimento em tempos de inclusão, isto sem falar na sua fantástica concepção de um personagem complexo, mas doce e cativante.

Ficha Técnica:

Roteiro: Guillermo del Toro, Vanessa Taylor

Produção: Guillermo del Toro, J. Miles Dale

Fotografia: Dan Laustsen

Trilha Sonora: Alexandre Desplat

Estúdio: Bull Productions, Double Dare You (DDY), Fox Searchlight Pictures

Montador: Sidney Wolinsky

Distribuidora: Fox Film



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