sexta-feira, 13 de dezembro de 2024



QUEER

 

Ambientado na Cidade do México na década de 1940, o filme acompanha Lee que vagueia pelos clubes da cidade e se apaixona pelo usuário de drogas Allerton. A relação ganha características outras quando ambos resolvem adentrar a selva em busca de experiências com alucinógenos... Partimos dessa sinopse simplificada para não cair no risco de produzir spoilers desnecessários.

Transpor o universo dos livros do William S. Burroughs não é tarefa fácil, um exercício para poucos, que aliás neste caso,  o diretor se sai com louvor... Com direção lírica e sensível,  Luca Guardagnino (Me Chama pelo Seu Nome) pode não chegar ao ápice do êxito, mas chega bem próximo desse universo tão alucinatório. A narrativa centrada única e exclusivamente na paixão, frisando aqui, de caráter exclusivamente físico, nos traz uma sucessão de cenas que surpreendes sem serem explicitamente banais.... Elas podem até chocar os conservadores de carteirinha, mas são de uma beleza, lirismo e verdade pouco vista no cinema. Lee ao se apaixonar se desliga da realidade de bebedeira e sexo que até então centrara sua existência e a partir daí busca uma conexão com o outro (verdadeiramente) e consigo mesmo. Numa das cenas mais viscerais e belas, após sexo oral, Lee avança sobre o rapaz, beijando-o na boca e compartilhando com esse bem mais que a saliva.  Aqui Daniel Graig despindo-se de qualquer espécie de cuidado (ou velado preconceito) em virtude de sua imagem de galã viril, dá o maior salto sem rede em sua carreira, compondo um gay que não peca por excessos caricaturais, nem tão pouco fica longe, sobre o muro da dúvida e dos receios de seus trejeitos nos parecerem sensações de excessos...  Sua atuação sem sombra de dúvidas é a alma do filme. Drew Starkey não faz feio e em sua parcimônia e as vezes até indiferença, constrói um personagem intrigante em meio a indiferença e o por vezes velada busca por ser mais intenso, e assim exteriorizar com mais intensidade sua realização por objeto de tão acalorado desejo. Emoldurado por uma fotografia em tons quentes e uma trilha sonora feita sob medica que se permite ao luxo de contar com a voz de Caetano Veloso, QUEER é um filme que já nasce clássico, um filme de arte que, ainda que não seja a obra prima de Guardagnino, ME CHAMA... ainda continua imbatível, é um belo e necessário filme, e deve ser visto sem comparações.

 

Ficha Técnica

Título : QUEER

Direção: Luca Guardagnino

Roteiro: Justin Kuntzkes e William S. Burroughs   

Elenco: Daniel Graig, Drew Starkey, dentre outros

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