domingo, 29 de dezembro de 2024


 

JURADO Nº 2

 

JURADO Nº 2 é de longe o melhor longa que vi até agora... E o mais injustiçado também ... 40º filme do Clint Eastwood e visto como possivelmente seu último trabalho em função de sua idade (94 anos), se assim for, não resta dúvida que fecha o ciclo com chave de ouro, nos brindando com um filme excepcional... Se SOBRE HOMENS E LOBOS, OS IMPERDOÁVEIS te encantaram, ficará sem palavras com JURADO...É a típica narrativa, onde o excelente roteiro de Jonathan A. Abrams, faz a máxima: quanto menos soubermos melhor a experiência: Jovem será julgado por acusação de assassinato da namorada, e na escolha do júri, o jurado nº 2 somente fica sabendo do que se trata o crime quando escolhido, percebendo que não estará assim tão isento quanto deveria para fazer parte do júri .  Numa atuação soberba, Nicholas Hoult que faz o Justin Kemp ( o jurado), passa todo o longa nos brindando com uma atuação irreparável, onde nuances, talvez pouco explorados em filmes de corte, ganham uma relevância estupenda... O elenco, que ainda conta com Gabriel Basso, Chris Messina, Toni Collette (dando show, e ironicamente chama-se FAITH – fé, crença, confiança ), Amy Aquino, dentre outros, é de um equilíbrio e de uma atuação espetacular... Aqui todos brilham, todos tem seu momento de solo determinante na história que nos fala de dilemas pessoas, ética, empatia, e, sobretudo uma crítica feroz a banalidade que se tornou o ato de julgar, e, sobretudo a justiça. Direção firme, mas sem perder a sensibilidade, os interesses pessoais fazem uma dobradinha com os coletivos, o foco em questão sede espaço para necessidades políticas e, nas duas horas de duração, a direção não se perde, ao contrário, nos norteia e nos faz refletir a respeito do sistema judicial, das implicações de um julgamento e principalmente da busca dessa verdade .... Afinal, o que é se fazer justiça ???.... Fica perceptível que JURADO Nº 2 é uma espécie de resultado de toda a bagagem carregada pelo Clint ao longo de sua carreira, é de longe seu filme mais complexo e questionador...  Um cinema de verdade, onde o roteiro é super bem costurado, não desrespeita o público (armadilha muito comum em filme de corte onde idas e vindas e até mesmo soluções obvias são a química da narrativa), aproveitamento dos atores ao extremo, frise-se aqui: Toni Collete e Nicholas Hoult (este num grande momento da carreira) dão um show de expressões, seus silêncios e seus olhares são de um conteúdo movidos a uma angustia e tormento que só grandes atores conseguem sustentar. Filme esnobado pela Warner, foi lançado direto no streaming, causando grande reboliço e uma aceitação publica excelente, o que forçou o estúdio rever sua postura de distribuição e exibição e agora, praticamente aos 45 minutos do segundo tempo marchar em buscar do tempo perdido e o desperdício do filme potencial que tinha em mãos. Fico na torcida, não só pelo talento e pela representatividade do Clint, assim como em respeito a sua fértil e exemplar carreira, fatores que são raridade num meio cada vez mais comercial e descartável... Clint é cinema genuíno e verdadeiro... JURADO Nº 2 é uma daquelas pérolas que já nascem clássicas.... Que o Clint tenha saúde e força para nos brindar com pérolas similares a esta por mais tempo... O filme é antes de tudo a prova cabal que bom roteiro, direção exemplar e elenco talentoso dispensa cifras exorbitantes no quesito produção... Fica a lição!

Em cartaz no streaming, a saber MASX, Amazon Prime , Apple TV, You Tube, Google Play Film

Ficha Técnica

Título : Jurado nº 2

Direção: Clint Eastwood

Roteiro: Jonathan A. Abrams

Elenco: Nicholas Hoult, Gabriel Basso, Chris Messina, Toni Collette, Amy Aquino, dentre outro  

sábado, 21 de dezembro de 2024


BABYGIRL

 

BABYGIRL espetacularmente protagonizado pela Nicole Kidman, uma atriz que num ato de generosidade e mergulho visceral no papel. Inspirada e madura Kidman nos brinda com uma atuação incorrigível onde se joga literalmente sem redes em belas e enigmáticas cenas de dominação num erotismo mais sugerido que explicito. A narrativa nos conta a história da  CEO bem sucedida, Romy que se mantêm no topo, a família comercial de margarina ao lado do comportado e aparentemente também bem sucedido marido... Com um porem: Romy não é  tão feliz no casamento, vive uma latente insatisfação e oculta desejos reprimidos do marido... Acaba por se envolver com um estagiário novato e muito mais jovem que ela num jogo de gato e rato levado às últimas consequências... Paramos por aqui... Situações semelhantes já foram a exaustão abordados em outros filmes sob direção masculina... um olhar bastante comum na década de 80/90 onde a predominância de diretores masculinos ditava as normas... Eis que agora essa questão nos é trazida sob a ótica feminina e isso faz toda uma diferença... Aqui a mulher tem o poder nas mãos e envolve-se numa relação num jogo de gato e rato sob o manto da dominação... Sim, Romy guarda no seu íntimo o desejo por ser dominada. Embarcando cegamente numa viagem sem volta acaba por se arriscar não só no meio corporativo, mas também no seu núcleo familiar. A atuação de Kidman lhe valeu prêmio de melhor atriz no festival de Veneza e uma série de outras indicações na temporada de premiações, com justiça. Ela nos entrega aquela que é, uma de suas melhores performances. Uma mulher madura, sem receios que generosamente se expõe em closes e tomadas generosas onde suas expressões faciais e seu corpo são mostrados a exaustão... O erotismo que transborda na tela talvez em mãos erradas soassem banal e caricato, aqui ganha contornos de tormenta e insegurança, a verdadeira essência de uma mulher externamente poderosa e internamente fragilizada e confusa. A Romy atormentada pelo desejo e se descobrindo em meio aos percalços da relação abraçada, cujo objeto do desejo, uma pessoa mais jovem, hierarquicamente a ela subordinada no trabalho, dominadora e por vezes insegura, eis aí o cenário ideal para questionar o casamento, a família, e, sobretudo a própria essência, aos poucos revelada em meio aos desejos reprimidos expulsos de um armário camuflado por um sucesso profissional, um velado e falso equilíbrio familiar, agora ameaçado...  Aqui não há juízo de valores, as situações se mostram como são por vezes seguindo um suspense inesperado ou um grande sarro numa situação que, de tão dramática se torna cômica... algo surreal, equilibradamente respeitando o bom senso e inteligência do espectador, um dos méritos do roteiro (da Reijn). A atuação do jovem estagiário, numa performance equilibrada e coerente do Harris Dickinson (que brilhou no Triângulo da Tristeza) sabiamente aproveitado pela diretora é outro ponto alto da narrativa, afinal bater um bolaço com Kidman não é para qualquer um, principalmente em se tratando desse arco dramático tão instável e subjetivo... Halina Reijn nos entrega uma direção equilibrada, e, cercado por uma boa cenografia que, emoldurada numa trilha sonora inspirada e pertinente funciona e surpreende. Dá um salto em sua filmografia e faz dessa dobradinha com a Nicole Kidman um dos grandes acertos do ano ... Um filme que coloca a mulher no seu devido lugar: Onde ela quiser estar, sem julgamentos, questionamentos ou qualquer outra questão que a faça ser desrespeitada ou subjugada. Um avanço nas narrativas. Um filme obrigatório para todos e mais ainda as mulheres!

Nos cinemas a partir de 16  janeiro 2025

Ficha Técnica:

Titulo: Babygirl

Direção: Halina Reijn

Roteiro: Helina Reijn

Elenco: Nicole Kidman,  Harris Dickinson, entre outros