CORINGA
Arthur vive numa cidade infestada
de ratos, utiliza um transporte público caótico, sujo e sem manutenção, vive
num apartamento insalubre na companhia de uma mãe doente e trabalha como
palhaço sendo alvo de gozações e maus tratos... Seu sonho: Ser comediante e ter
seu próprio stand-up!
Poderíamos numa visão simplista,
resumir ao parágrafo acima o universo deste controverso, admirado e
superestimado vilão das HQ, o CORINGA, nesta que é, senão a versão definitiva,
mas uma das melhores e mais aclamadas versões de um vilão das histórias em
quadrinhos...
Falar deste filmaço, dirigido
pelo competente Todd Philips daria uma tese... O universo por ele abordado, a
construção do cuidadoso e eficiente roteiro passeia por problemas crônicos de
uma sociedade podre e consumista que caminha rumo ao poço que não tem fim, e
isso, dentro da cronologia do filme na década de 80, é um alerta para como este
contexto lá atrás já nos era atual.
CORINGA está
literalmente apoiado num tripé que lhe confere todo o mérito além de uma
excelente direção: um roteiro primoroso, uma sonoplastia que meio que é um
personagem e uma soberba atuação do Joaquim Phoenix, esse grande ator várias
vezes indicado ao Oscar e que agora, para ser óbvio, tem sua maior e mais
elaborada chance..
A concepção do CORINGA de Phoenix
não deve ser comparada, principalmente a do Ledger, Nicholson, Leto, entre
outros... Sua concepção é singular, e como cada um deles guarda suas nuances e
principalmente, cada um, seu trabalho de corpo, sua trajetória e seu feeling... Cumpre aqui ressaltar no entanto, que, por se
tratar de sua origem, a questão é mais ampla e mais complexa nesta versão...
Sua história nos propicia uma análise do mundo cruel , desumano e desamoroso em
que vivemos... Estão lá todas as questões, sejam políticas, sejam sociais
sutilmente abordadas e bem exemplificadas... Impossível não se sensibilizar na
cena inicial que nos dá um start do seu calvário ao mostrá-lo num ônibus
coletivo (sem Spoiler)...
A narrativa é costurada por uma
trilha densa, as cenas são fortes, a concepção corporal do Phoenix é
impactante, seja por seu corpo diminuto, fruto de exaustivo regime que o fez
perder 23 quilos, seja pela sua risada nervosa e doentia, seja por seu bailar
espetacular, aliás, um bailar que norteia o filme do início ao fim num
crescente que impressiona.
Os mais atentos perceberão que,
ainda que se tratando da história do Coringa, ambos, ele e o Batman, seu arqui-inimigo,
nascem praticamente juntos... O sopro de vida de um é o início do calvário do
outro, um achado fenomenal que o Phillips nos brinda e que talvez poucos
perceberão.
CORINGA já nasce um clássico,
provavelmente concorrerá a uma infinidade de prêmios, cujo início se deu com o
Leão de Ouro no Festival de Veneza, aliás muito bem concedido e explicado pela
presidente do festival Lucrecia Martel, um marco na história das adaptações das
HQ!
São muitos os motivos para se ver
CORINGA, e muitos outros motivos certamente aflorarão num olhar mais atento, neste, que é, um filme cheio de simbolismos,
mensagens e sobretudo, sinais, muitos sinais de alerta que um mundo tão caótico
e desenfreadamente violento anda precisando!
Ficha Técnica:
Título: JOKER
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquim Phoenix, Robert
de Niro, Frances Conroy, dentre outros
Em cartaz, consulte cinemas e
horários.
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