BINGO – O REI DAS
MANHÃS
Uma cena aparentemente solta, banal, entre figurantes talvez seja
uma das mais emblemáticas para os mais atentos , e sintetize um pouco a história do que foi para a TV e a
criançada da década de 80 o palhaço BINGO,
ou melhor dizendo BOZO: Em meio a uma premiação o BINGO real está frente a frente com o BINGO da ficção...
Com um currículo invejável de
montagens (Cidade de Deus, Tropa de Elite, Diário de Motocicletas e Ensaio
Sobre a Cegueira) Daniel Rezende faz sua estreia na direção em grande estilo.
Com um elenco de feras, encabeçado por Wladimir Brichta, aqui em sua melhor
atuação (num exemplo claro de amadurecimento), uma reconstituição de época primorosa e uma trilha nostálgica, Rezende
nos oferece um dos melhores filmes desta ultima safra, uma verdadeira pérola!
O filme nos fala da história de
Augusto Mendes(Arlindo Barreto) personagem de Brichta, um dos 12 atores que fizeram o BINGO, ao longo de seus 10 ou 11 anos na TV, sua carreira de pouca visibilidade
enquanto ator pornô, sua meteórica subida ao estrelato e sua descida ao
purgatório... Aqui os personagens (verídicos) não ostentam seus nomes
verdadeiros, a exceção da Gretchem, numa especie de afetiva homenagem, por motivos diversos, que talvez não venham ao caso, o que não
deixa de ser uma deliciosa brincadeira identifica-los dentro do contexto da
época, sendo desnecessárias maiores pistas, é fácil e impressionante! Filho
de atriz famosa, Marcia de Windsor, bem representada aqui por Maria Lucia
Torre, Augusto/BINGO vê sua vida mudar ao conseguir, de maneira inusitada e
criativa em meio a 100 concorrentes, a sonhada vaga e possibilidade de
estrelato... Daí é uma sucessão de
vitórias em meio a queda e a frustração
por ser apenas uma máscara, uma sobra, uma vez que por força de cláusulas
contratuais não poderia revelar sua identidade.... Ficamos aqui na história...
Numa montagem dinâmica, sem ser
corrida, Rezende mostra passo a passo desta trajetória e faz mais, mostra o
painel da televisão naquela época, em meio a problemas sociais e,
evidentemente, horas com sutileza, outras nem tanto, o universo das TVs e suas
celebridades... Uma delicia! Os objetos de cena e alguns cenários fazem uma viagem no tempo
sem roubar a cena... Preste bem atenção nos elementos que compõem o cenário, é
de uma nostalgia singular para quem
compartilhou aquela época, na opinião de muitos, talvez uma das décadas
mais musicais e culturais... Vide a sonoplastia do filme.
O elenco está muito bem, atuações
irretocáveis ... Merecendo ressalvas a pequena mas emblemática participação de
Emanuelle Araújo e do saudoso Domingos Montagner, em cenas que remetem ao
universo do circo, que ele tão bem abraçou e vivenciou e do garoto Cauã Martins, uma revelação... isso sem falar na Leandra Leal, beirando a
perfeição como sempre... Bem, com um time deste, um argumento excepcional e um
bom roteiro, tá pronto o filme dos sonhos!
A atuação do Vladimir Brichta é
visceral e irretocável, com ou sem maquiagem, seu olhar é a tônica e alma do
filme... Mergulhou de cabeça e conseguiu fazer desta, sua melhor atuação. Vejo
nesta produção uma evolução considerável, se levarmos em consideração a
avalanche de comédias e afins, bem como também de tentativas infrutíferas de
mergulhos em dramas de valor duvidoso. É um filme bem construído e afetuoso
para com todos aqueles ali retratados, verdadeiro e belo sem ser apelativo.
FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama
Estréia: 24/08/2017
Direção: Daniel
Rezende
Elenco: Ana Lúcia
Torre, Augusto Madeira, Cauã Martins, Emanuelle Araújo, Leandra Leal, Raul
Barreto, Tainá Müller, Vladimir Brichta
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