sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Bruna Surfistinha
Confesso que fui ver o filme por pura curiosidade mesmo, apesar de que o simples fato de contar com estrela de 1º time da Globo não é garantia, mas também tem lá seu limite de risco, afinal nem a Deborah nem a Globo iriam se arriscar num projeto qualquer, como de fato estava certo, o filme é muito bom... Puritanos de plantão que me desculpem, o enredo e todo o contexto tinha tudo para mais um drama erótico, com alta dose de palavrões e sexo por sexo... Como de fato os tem, no entanto numa medida ponderada e natural... Nada na tela nos parece exagerado, caricatural...
Desconheço a história da moça, mas deve guardar similaridades com tantas outras que optam pela difícil vida fácil... E sem risco de errar, o papel tinha realmente que ser da Deborah, que se sai muito bem.Dona de um sex appeal, já conhecido na telinha, dá um show de exuberância na telona, equilibrando na medida a dramaticidade que as situações vividas na tela lhe exigem.
Sob uma direção privilegiada os atores dão show, (Drica de Moraes dá um show a parte), inclusive parte do elenco não tão conhecido. Cada um dá seu recado, mostra a que veio e tem direito ao seu solo num equilíbrio equacionado apenas quando da experiência de grandes diretores. Tive a sensação que o projeto foi elaborado de olho no mercado externo. Isso fica patente com o roteiro bem elaborado, locações bem fotografadas, inclusive limitando-se ao ligar comum, sem bairrismos ou turismo cinematográfico, deixando a sensação que a história poderia estar se passando em um ligar qualquer e a trilha, sim a trilha é um quesito a parte, meio que alma da narrativa.
A narrativa é competente quando faz uso de alguns flashbacks, no entanto não se aprofunda em tese alguma, nem tão pouco se encarrega de justificar, explicar ou até mesmo condenar esta ou aquela postura ... Os personagens estão lá, dizem cada um ao seu jeito a que vieram e o resto é conseqüência...
Não li o livro pra fazer ponderações quanto à adaptação, o que me facilitou a análise quanto a atuação, direção, fotografia, etc.
É um bom momento do cinema nacional que pula fora da comédia fácil, da favela, da droga e da polícia e parte para dramas mais articulados, de valor mais universal, de abrangência mais profunda... É uma forma de induzir o espectador a pensar e fazer uso de seus conceitos e suas crenças e seus valores, forte sem ser apelativo. A nudez é fotografada de forma equilibrada e muito mais insinuada que explícita... Como, aliás, não poderia ser em se tratando de tema tão objetivo. Os diálogos são inteligentes e por que não dizer bem construídos, ainda que compostos de termos e palavrões usados a exaustão e ouvidos em cada esquina no dia a dia, ainda que possa chocar um ou outro pseudo conservador, puritano de carteirinha, que certamente chega a se chocar no escurinho do cinema mas que se solta no escurinho do quarto com as milhares de garotas, que como a protagonista, subexistem no mundo real.
Um único cuidado se faz necessário: prefira as salas de arte pra assisti-lo. O público nem sempre se contem, e sempre haverá um gaiato que não contido com o que ver quer verbalizar o que sente. Uma pena.
Em tempo: O diretor Marcus Baldini, em sua estréia, entra para o seleto clube dos diretores promissores, com todo mérito pela porta da frente com lugar de destaque, o que em grande parte, sem lhe desmerecer o mérito, muito deve ao experiente e competente Karin Ainouz, diretor de “ O Céu de Suely”, que assina juntamente com Antonia Pellegrino o argumento do filme.
Mário Edson
25.02.2011
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