sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025




Um Completo Desconhecido


Cinebiografias de uns tempos pra cá viraram a bola da vez … No avalanche delas encontramos de tudo, não raro em sua maioria, as ditas “chapa branca”, biografias que douram as figuras e contando com uma forcinha dos familiares na produção são feitas quase que sob encomenda … James Mangold nos brinda agora com  um belo e inspirador trabalho: um recorte da biografia do astro Bob Dylan. A película nos traz um recorte da biografia do Dylan a partir da década de 60, quando ele surge , indo até o ápice da sua música nos festivais … Um belo trabalho que,  lastreado num elenco exemplar nos brinda com o melhor do Dylan. A vida dos grandes astros são uma verdadeira montanha russa, um amontoado de situações inusitadas e dignas de filme … Com o Dylan não foi diferente … Um jovem e talentoso compositor, idealista e visionário que se vê, ao debutar,  em meio aos interesses comerciais das gravadoras e sobretudo a fórmula pronta dos produtores que buscavam antes de tudo encaixota-los num gênero e ali permanecerem até esgotaram-se as possibilidades lucrativas … Dylan nadou contra essa correnteza e não se submeteu a essa linha … Em meio a esse embate tem uma movimentada vida amorosa, neste período envolvendo-se num triângulo amoroso onde Sylvie Russo e a conhecida e talentosa cantora Joan Baez travam um embate onde a música que os aproximou(a parceria desenvolvida com a Baez é grande  momento do filme ) é a tônica. A Joan Baez da Mônica Barbaro  é encantadora, possui uma presença iluminada, é dela as mais belas cenas musicais … A relação atormentanda ainda envolvendo a Silvie aqui num trabalho mediano da Elle Fanning que acaba meio perdida de tão rasa que é a abordagem , entra e sai sem dizer a que veio … uma das falhas do roteiro que poderia ter se aprofundado mais … Outra presença de peso é do Boyd Holbrook que nos brinda com um irretocável Johnny Cash… sua presença rouba algumas cenas tal a visceralidade com cumpre a função … Um achado … 

Único cantor a ser agraciado com um

Nobel ,  Dylan possui uma obra rica e poética que encanta e arrebata… Figura arredia hoje não desfila entre figurões da hora, mantendo-se discreto e ainda produtivo . Os méritos do trabalho do Mangold é exatamente humanizá-lo, mostrá-lo desprovido da aura de mito, trabalho que Chamalet desempenha com maestria , uma vez levando anos de pesquisas para nos brindar com um personagem autêntico desprovido de exageros e maneirismos … Sua atuação assombra  em alguns momentos (além da aparência é latente o trabalho de corpo que desenvolveu na captura dos maneirismos do Dylan), inclusive quando se permite cantar … Um ator que vem evoluindo tanto na atuação quanto nas escolhas de projetos.

É um filme para se contemplar e viajar mas canções, compreendendo esse ser de rara e iluminada criatividade … Feito sob encomenda para fãs de carteirinha, há de agradar a todos. 

Na corrida pelo Oscar, o filme concorre em 7 categorias.

Em cartaz nos cinemas.

Ficha Técnica :

Título : Um Completo Desconhecido 

Direção : James Mangold

Roteiro : James Mangold, Elijah Wald, Jay Cocks

Elenco: Timothee Chalamet, Monica Barbaro, Edward Norton, Elle Fanning, Boyd Holbrook


terça-feira, 18 de fevereiro de 2025


O BRUTALISTA

 

Antes de adentramos aos comentários do filme se faz necessário informações a respeito do brutalismo, um estilo arquitetônico...O brutalismo foi um estilo arquitetônico que surgiu no pós-guerra, caracterizado pelo uso do concreto bruto e exposto. O termo vem da expressão  "béton brut", concreto bruto. Com três horas e meia de duração, o épico de Brady Corbet nasce um exemplar único e inovador no universo cinematográfico... Filmado em VistaVision 35mm, com uma bela e inspiradora fotografia, um elenco alinhado, o filme vem dividindo opiniões. Isso sem falar no franciscano orçamento em detrimento da grandiosidade da obra. Um feito singular. O roteiro tem base na vida de um casal de judeus separados no pôs guerra. László, arquiteto, ruma para a América, quem sabe em busca do sonho americano e lá se envolve numa construção faraônica para os padrões da época. Uma obra no estilo brutalista. Seria essa, uma sinopse minimalista... o filme nos dá muito mais. As cenas iniciais já nos dão uma ideia do que temos pela frente... Em meio a imagens frenéticas (câmera na mão), o arquiteto chega a América e vemos a estátua da liberdade, ícone dos americanos, símbolo maior da liberdade nos ser exibida de cabeça para baixo... Temos aí a primeira metáfora...Na chegada Lászlo é recebido pelo primo que lhe oferece emprego numa loja de móveis, é lá, na construção de um projeto interrompido e não pago e que chega a um milionário que, após dispensa-lo se encanta e o contrata para a dita obra inusitada, meio torre de babel... Obra completamente brutalista, a construção é uma virada na vida do arquiteto... Paramos por aqui. O filme é dividido em dois blocos e um epílogo com intervale de 15 minutos entre os dois primeiros, onde se vê na tela o reloginho em contagem regressiva ilustrado por uma imagem em P&b, Um tempo para reflexão desse primeiro ato... Um respiro em meio ao frenetismo dessa parte. Com uma trilha sonora potente, inspirada e pertinente, algumas imagens são por elas emolduradas com uma espécie de repetição, o que evidencia o processo de construção da obra, enquanto filme, e enquanto arquitetura propriamente dita. A atuação do elenco é uma beleza a parte... Adrien Brody esta visceral, incorrigível, no entanto o Guy Pearce como Harrison rouba várias cenas, domina a situação. Ambos batem um bolão. A fotografia é um espetáculo à parte, em meio a enquadramentos diversos, seja nos detalhes ou nos planos abertos, nos encanta... um parque de diversão para arquitetos... O filme é de uma grandiosidade pouco vista, uma ousadia para  um diretor que aqui no brinda com seu terceiro trabalho (Vox Lux – O Preço da Fama e A Infância de Um Líder, são seus dois primeiros). É inegável que o ritmo frenético da primeira parte é um pouco quebrado com o drama e o aspecto mais convencional que nos é apresentado no segundo ato, no entanto, sem exageros não chega a comprometer o bom andamento rumo ao epílogo, esse, de fato meio previsível. Trata-se de um grande filme cuja montagem exemplar é mérito incontestável, sua grandiosidade e ousadia certamente será degustada por muito poucos, tal a correria em que vivemos e a sede por obras curtas e pontuais que nos chegam cada vez mais frequentemente .... Com uma trajetória de polêmicas e premiações, certamente dividirá opiniões, o que não isenta uma olhada criteriosa e livre de qualquer prejulgamento. Um dos grandes filmes deste século... O futuro ratificará!

Em tempo: Na corrida do Oscar 2025 o filme disputa 10 categorias.

Em cartaz nos cinemas a partir de 20 de fevereiro

Ficha Técnica:

Direção:  Brady Corbet

Roteiro:    Brady Corbet e Mona Fastvold

Elenco:  Adrien Brody,  Guy Pearce, Felicity Jones, entre outros

 

 

 

 

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sábado, 8 de fevereiro de 2025


 

SING SING

 

A narrativa de SING SING é livremente baseada em casos verídicos, nos fala das ações empreendidas pelo programa Rehabilitation Through The Arts, organização sem fins lucrativos de Nova York que tem por objetivo ressocializar pessoas por meio da arte. Conforme pesquisas, menos de 5% destas pessoas retornam para a prisão. A sinopse do filme pode ser resumida no processo criativo de uma espetáculo teatral numa penitenciaria onde presos participam desde a escolha do texto, do elenco, dinâmicas grupais em meio a discussões e os dramas vividos, cada um em meio a sua realidade.

 

Dirigido por Greg Kwedar, o filme é protagonizado por Colman Domingo como Divine G personagem da história que, de fato existiu, é um homem condenado injustamente a prisão. Na narrativa Domingo contracena com diversos atores que participaram do programa RTA. Por conta dessa particularidade o filme foi lançado nos cinemas e nas prisões ao mesmo tempo. Apesar de baseado em fatos reais e por vezes ter o clima de documentário (há cenas que foram aproveitadas de fato da audição para escolha dos atores), a narrativa é leve e conta com a participação de Brent Buell, diretor de teatro de NY que trabalhou como voluntário no programa por dez anos e se sente realizado nesta atuação.  Concentrando-se na prisão o filme dribla várias armadilhas passiveis em filmes do gênero, não faz uso do tom melodramático, nem tão pouco apela para o sentimentalismo ou vitimização de encarcerados. A abordagem do drama de cada um é feita de forma leve e pouco profunda uma vez que a intenção é mostrar o processo de construção da proposta em questão, no caso uma peça teatral, peça liás não mostrada ao final que, se apropriou apenas de cenas no encerramento da narrativa. A atuação de Domingo lhe rendeu várias indicações as diversas premiações dando uma visibilidade maior ao filme.

 

Ficha Técnica:

Título: SING SING

Direção : Greg Kwedar

Roteiro: Clarence Maclen, Clint Bentley, Greg Kwedar

Elenco: Clarence Maclen, Colman Domingo, David Giraudy