CLOSE
CLOSE É um daquele filmes diminutos na concepção, sem roteiros mirabolantes, sem atores estrelares, no entanto rico nas abordagens, e muito, muito corajoso nas pretensões. Segundo filme do diretor LUKAS DHONT aclamado com justiça com o Grand Prix no Festival de Cinema de Cannes(o anterior, GIRL também premiado) tem causado por onde passa, foi assim no Festival do Rio e inúmeras outras praças, onde certamente é quase impossível passar despercebido. Partindo da amizade de dois jovens garotos, a direção firme ao mesmo tempo delicada e contemplativa faz um apanhado de reflexões, ai inclusas, crises da adolescência, homofobia, padrões sociais, machismo, perdas, luto e culpa... Um caldeirão que a princípio pode assustar, mas no fundo acaba por nos fazer refletir ao tempo que revemos conceitos e padrões, numa narrativa fluida, coerente e por vezes até poética.
Léo e Remi são dois inseparáveis amigos que vivem com as respectivas famílias num idílico campo de plantação de flores... No quase aquário onde vivem eles brincam, correm, andas de bicicleta, dormem juntinhos na mesma cama um na casa do outro num clima de total cumplicidade harmonia, amor e afeto, uma amizade verdadeira... Eis que é chegada a hora de encerrar as férias e adentrar o universo escolar, onde chegam inocentemente mantendo o mesmo padrão de convivência, o que é logo motivo de censura pelos colegas: Estariam “ficando”? Questiona uma coleguinha... Seriam namorados? Debocha uma outra... Neste momento crescem as pressões sociais e a dupla é imposta a conviver com um ambiente hostil. Onde a virilidade masculina impera, ainda que entre os garotos. Ali as relações entre meninos possuem outro padrão... Daí pra frente qualquer informação incorreria em spoilers.
Com fotografia deslumbrante em cores quentes, fortes e vibrantes, a narrativa sabiamente é conduzida com sensibilidade poética e sobretudo, beleza... As palavras as vezes perdem espaço para os olhares, os toques as contemplações, são econômicas, mas ainda assim em frases curtas são determinantes... Os enquadramentos, como o título sugere, são em sua maioria em closes, os rostos espelham as almas e seus conflitos. Com uma dupla de iniciantes jovens e talentosos (ambos com 13,14 anos a época gravação) e um elenco de coadjuvantes igualmente talentoso, a narrativa é equilibrada, fluída e cativante. Não se trata aqui de um roteiro previsível e apelativo. Aqui a expectativa ronda e o carisma dos protagonistas nos avassala desde os minutos iniciais até o final... É um filme tocante, revelador e sobretudo questionador, onde talvez nada (em nome das convenções) é o que parece ser. Indicado ao Oscar de filme internacional (antigo filme estrangeiro), representante da Bélgica, concorre com Argentina (1985), Polonia (EO), Alemanha (Nada de Novo no Front) e Irlanda(The Quiet Girl). Possivelmente CLOSE esteja a comer poeira das superproduções, alguns até mesmo premiados na mesma categoria em premiações outras, não carece, no entanto, ele dessa premiação. Já nasceu grande e premiado em toda sua importância e exuberância.
Ode a amizade, CLOSE é muito maior, muito mais edificante, reflexivo e questionador que seu diminuto nome, até mesmo do que qualquer obra de cunho panfletário, ou didática que seja. Aqui tudo é muito simples, humano, afetuoso e, portanto, grandioso, avassalador e edificante.
Ficha Técnica:
Título: CLOSE
Direção: Lukas Dhont
Roteiro: Lukas Dhont e Angelo Tijssens
Elenco: Eden Dambrine, Gustav De Waele, Émile Dequenne, entre outros
Nos cinemas a partir de 2 de março e em seguida no streaming ( MUBI)