terça-feira, 5 de setembro de 2017


UMA MULHER FANTÁSTICA
Nas primeiras cenas de UMA MULHER FANTÁSTICA, a bela e cultuada canção de Alan Parson Project TIME é moldura para um momento de amor e cumplicidade numa dança a meia luz e já nos da uma dica do vem por ai... A letra nos fala muito...
Marina é trans, vive uma vida de dureza trabalhando como garçonete durante o dia e a noite canta num bar... Ali realiza seu sonho de ser cantora... Sua vida começa a mudar quando seu namorado passa mal e vem a óbito... A partir de então tudo vira de ponta a cabeça....
O chileno Sebastián Lelio com sensibilidade vai nos contar a mudança na vida de Marina em meio a um sofrimento e uma quase aceitação de comover... Marina é trans, o namorado é separado, a família dele não a aceita e a humilha quando pode,, os amigos convivem com a situação. De maneira sutil e sábia Leilo aborda a situação desta relação em meio a uma sociedade conservadora e preconceituosa, não só em relação a questão de gênero, mas também o preconceito com relação a idade, Marina tem idade de ser filha do namorado... A narrativa é construída com foco quase que exclusivo em Marina, nenhum personagem alem dela tem um histórico de vida ou uma participação mais efetiva que ela, até mesmo do namorado sabemos muito pouco ou quase nada, talvez ai o maior achado do filme, esta concentração na sua dor, nos limites que lhe são impostos. A ela tudo lhe é negado ou subtraído, inclusive o direito de viver e de sentir a própria dor.
Daniele Vega é um achado, compõe um personagem de força singular no olhar, atitudes comedidas e finas e gestual elaborado, rouba portanto a cena e faz jus ao título nos fazendo pensar e questionar um conflito tão atual e instigante.
Há pouco vimos a produção brasileira estrelada por Carolina Ferraz A GLORIA E A GRAÇA que passou meio que imperceptível, um belo e bem elaborado trabalho de Flávio Ramos Tambellini, sem qualquer sinal de estereótipos e uma bela e elogiada composição de personagem soberb amente defendida por Ferraz.

Data de lançamento 7 de setembro de 2017 (1h 44min)
Direção: Sebastián Lelio
Elenco: Daniela Vega, Francisco Reyes, Luis Gnecco mais
Gênero Drama
Nacionalidades Chile, Alemanha, Espanha, EUA

sexta-feira, 1 de setembro de 2017



ATÔMICA
... É um daqueles filmes que você aguarda com expectativa e acaba por te surpreender superando as expectativas... Projeto ambicioso de Charlize Theron, que não poupou  esforços, inclusive físicos, e que de tão redondinho e esteticamente bem construído, entra desde já para a galeria dos melhores filmes  de ação, seja lá com protagonista feminino ou não... Em tempos de empoderamento feminino é um verdadeiro hino, uma ode ao poder das mulheres, friso aqui, em todos os sentidos, subvertendo até o velho clichê romântico, numa bela tacada de inovação, é pura injeção de ar novo numa formatação tão engessada e tradicionalmente previsível... Sinal dos tempos...
Bem, a história pode não ter muito de criatividade: Agente parte em missão (frise-se, sozinha) em uma Berlin pré-queda do muro, presumidamente aguardada por um possível parceiro e entra na vibe de nada é o que parece ser... Ficamos aqui para não estragar as surpresas...
A cena inicial já resume a mensagem  e nos diz a que o filme veio... Numa bela e bem enquadrada cena, uma Charlize detonada banha-se numa banheira, mergulhada num azul eletrizante... Seguindo a tese  de humanização dos heróis (inas). Mocinhos(as) o que vemos é uma protagonista machucada, muito machucada... Corpo coberto por hematomas e olho roxo, são apenas alguns sinais do sofrimento vivido, e ainda assim muito bela...  Apoiado numa trilha sonora sensacional e, desde já candidata a cult pelos saudosistas daquela década o filme tem inicio com uma sucessão de lutas e confrontos coreografas de uma precisão e elegância pouco vista e com um detalhe que faz toda a diferença: Charlize dá e recebe porrada dispensando dublê... É pouco ou quer mais??? Atuação que lhe custou problemas graves nos  joelhos, costelas e dentes...
A grande sacada do filme é exatamente se apropriar de um tema batido e através de um roteiro bem construído, dá-lhe nova roupagem, faze-lo inteligente e, sobretudo interessante...
James Mcavoy que já nos tinha brindado com uma surpreendente composição de personagem em FRAGMENTADO, continua aqui a nos mostrar porque é um dos maiores e melhores de sua geração.. Iniciando as gravações ainda machucado por conta de complicações em FRAGMENTADO faz uma dobradinha (de boas atuações) com a Charlize, nos reservando momentos eletrizantes e geniais...
Dirigido com pulso forte por David Leitch, que deu uma mexida substancial na história original, alongando e coreografando as lutas, que são o ponto alto do filme, coroando com a participação da Charlize sem dublê,  injetando maior dinamismo e emoldurando por belas e emblemáticas canções dos anos 70... Um primor. Há momentos que o filme vira uma sucessão de vídeo-clips bem montados  e dinâmicos... Outro achado, impossível não falar:  são as belas e sensuais cenas protagonizadas por Charlize e  Sofia Boutella (A MÚMIA), um grande diferencial do filme, principalmente em tempos  de intolerância...  aqui,  sutilmente e com rara beleza, a narrativa deixa para trás, sem maiores alardes um conservadorismo há muito ultrapassado...
É uma narrativa veloz, onde a tônica é a violência, muita porrada e muito tiro, que equilibrando-se com a musica e a beleza da protagonista acabam por se equilibrar nos dando uma deliciosa e bela diversão.
FICHA TÉCNICA
Título original: Atomic blonde
Distribuição: Universal
Data de estreia:  qui, 31/08/17
País:  Estados Unidos
Gênero:  ação
Ano de produção:  2016
Duração: 115 minutos
Direção: David Leitch
Elenco: Sofia Boutella,  Charlize Theron, James McAvoy